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Hoje em dia as redes sociais são uma parte quase que obrigatória no nosso quotidiano. Quase toda a gente tem Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, WhatsApp e muitas outras redes sociais. Esta possibilidade de contacto instantâneo entre pessoas permitiu o desenvolvimento de imensas comunidades e permitiu alargar os horizontes e as formas de comunicação, deixando de estar restritos a cartas escritas e a correio. Hoje em dia se alguém quiser saber mais sobre Paganismo e Bruxaria basta abrir o Google e começar a ler, procurar no Facebook e encontrar comunidades, ir ao Tumblr e encontrar referências e ir ver dicas e coisas artísticas para o Pinterest. As comunidades pagãs expandiram-se e hoje são muito comuns e de fácil acesso. E isto é fantástico!
A tecnologia moderna permite-nos ter o conhecimento na ponta dos dedos e, para um Bruxo ou Bruxa, isso é uma ferramenta incrível. Há aplicações para saber informações astrológicas, fases da Lua e do Sol, correspondências mágicas e até para fazer de Livros das Sombras. Permitiu que pagãos de Portugal e do Brasil possam se conhecer, trocar ideias, opiniões e formas de viver. Conhecer culturas, práticas e métodos de trabalho. Existe todo um fantástico mundo por detrás das comunidades pagãs na Internet e também todo um novo tipo de Magia chamado "Tecnomagia" (recomendamos este video sobre Tecnomagia e Pop Magick da TCS) que veio abrir novos horizontes.
Porém, outra coisa que a tecnologia moderna também trouxe, foi a possibilidade de debates e discussões em tempo real. E é aqui que as coisas complicam... Recordo-me de estar a ler um livro sobre como eram as comunidades pagãs na altura do surgimento da Wicca, por volta dos anos 50/60 e na altura não havia as formas de contacto que temos hoje. As comunicações eram feitas por cartas enviadas no correio, telefonemas (mas eram muito caros e a maioria optava por apenas escrever) e também por participações em revistas que eram lançadas para diversos grupos de pessoas, podendo através das mesmas haver discussões e respostas uns aos outros. O facto de que a comunicação era feita por carta, fazia com que houvesse um maior periodo de intervalo entre a nossa resposta e a resposta da outra pessoa. Isto não só acalmava os ânimos se fosse uma conversa mais acesa mas também dava uma maior janela de reflexão. Hoje em dia não temos isso. Se estivermos a discutir no Facebook e alguém discordar de nós, a nossa primeira acção é responder de imediato e chegamos a perder horas em discussões para trás e para a frente.
Quando comecei nas comunidades, ainda na altura do MSN, eu passava horas (literalmente, horas) a discutir, a debater, a conversar e tentar ver o ponto de vista dos outros e mostrar o meu ponto de vista. E muitas vezes perdi energia desnecessária em discussões porque queria sempre ter a palavra e responder na hora, sem esperar. E, se há algo que a idade me ensinou, é que é bom esperar. É bom receber uma resposta e parar. Não começar logo a responder mas parar, reflectir e até ir fazer outras coisas enquanto deixamos que os ânimos dentro de nós acalmem. Era isto que nos nossos antepassados faziam, de forma involuntária, e isso permitia-lhes uma melhor visão da situação. Por vezes, as coisas por escrito, podem parecer ter uma conotação diferente daquela que o autor quer dar. Se eu escrever "Não concordo contigo!" posso parecer agressiva. Mas também posso apenas estar a exprimir que não concordo, sem agressividade. E fazer esta distinção com apenas uma frase escrita é complicado, porque não há entoação. E, no calor do momento, coisas podem ser mal interpretadas e ser apenas mais fogo para a fogueira. Todos já vimos discussões no Facebook que acabam acesas apenas por mal entendimentos.
Não estou, de todo, a dizer que não devemos participar em debates, pelo contrário! Debates e convívios nas comunidades pagãs, a meu ver, são das melhores formas para alargar no nosso conhecimento e entender como os outros celebram as suas práticas, vêem o Mundo e os Deuses e permitem-nos alargar os nossos horizontes e até ajudam na reflexão própria do nosso caminho. Eu cresci, e continuo a crescer, imenso graças as comunidades em meu redor. Porém aprendi também a abrandar. Nem tudo tem de ser respondido no imediato, nem tudo tem de ser feito no "agora". Há uma necessidade actual pelo "abrandar". A sociedade moderna, graças à tecnologia, está a andar a 120km/h. É esperado de nós que estejamos 24/7h online, sempre disponível, sempre prontos a responder, a debater, a argumentar, a defender o nosso ponto de vista e a criticar o outro, atento a tudo e todos e isso nem sempre é bom... Pelo contrário, a necessidade de estar sempre alerta e sempre pronto a responder e a falar acaba por ser, a longo prazo, algo tóxico e que causa ansiedade. Um dos maiores problemas da nossa sociedade contemporânea é o elevado número de pessoas que sofrem de ansiedade e depressão, auxiliadas por estas redes sociais que esperam uma presença permanente da nossa parte.
Parar, reflectir, dar um tempo às coisas é algo por vezes necessário e que ajuda a reflectir e, até, a ver as coisas de outra forma. Tal como regressamos a práticas antigas, cultuando os Velhos Deuses e a Natureza, podemos também incorporar na nossa vida aspectos da antiguidade e dos velhos tempos que nos sejam úteis e, um deles, é o abrandar o nosso ritmo. Não ter medo de ver uma resposta a um debate e dizer "Não, respondo mais logo" e fechar a aplicação e ir à nossa vida, pensando no assunto, reflectindo e só depois é que respondemos. Não é algo fácil, porque estamos condicionados ao modo de vida rápido mas, com o tempo, adaptamo-nos e vemos que acaba por trazer muitos benefícios. Não só a nível de saúde, dado que começamos a encarar as coisas com uma atitude mais serena, mas também a nível das nossas discussões que serão mais proveitosas. Isto porque com tempo para reflectir, podemos aprender mais sobre o debate que estamos a tentar e não ser uma coisa passageira. Quantas vezes já pensaram "Bolas, devia ter dito X ou Y naquela discussão"? Bem, tendo esta pausa entre respostas temos tempo para lembrar de tudo o que achamos que queremos dizer e porque queremos dizer e, desse modo, desenvolvemos respostas mais completas.
E quem fala em abrandar, fala também em ignorar. Quantas discussões participamos que na realidade não nos trazem nada de novo? Em quantos debates participamos que em nada nos beneficiam? Outro convite que vos faço com este artigo é: Sempre que virem uma discussão numa rede social e queiram participar, parem e pensem "Que benefício me traz esta discussão? O que posso tirar esta conversa?" e vejam se é algo que vos beneficie e que tenha resultados positivos para a vossa vida. Para quê perder energia em coisas que têm impacto negativo e que apenas vos fazem mal?
Não tenham medo de abrandar, de parar, não tenham medo de se abster ou de saltar discussões. Não existe obrigação de participação em tudo o que existe nem obrigação de estar sempre disponível. O tempo que temos é precioso e devemos usá-lo em coisas que nos são proveitosas e positivas. Aproveitem o vosso tempo e saibam geri-lo.