Hoje venho com um tema que é sempre importante de falarmos nas nossas comunidades, até porque é algo que está sempre presente. Desde que comecei neste caminho até aos dias de hoje o assunto de saber distinguir entre a realidade e a fantasia sempre foi uma presença nas nossas comunidades (e eu própria já cometi erros, no começo da minha prática, referente a esta temática!) como tal, acho que é uma temática importante de abordar.
Quando estamos a começar e ainda sabemos pouco sobre o mundo da Bruxaria e do Paganismo é normal termos algumas ideias incorretas, principalmente se a pouca exposição que temos ao tema é através dos media em geral como filmes ou séries de televisão. Eu própria, quando comecei com 11/12 anos, achava que os feitiços de glamour para "mudar a cor de cabelo" ou "tornar alguém invisível" que realmente funcionavam! O que é hilariante olhando para trás mas, a realidade, é que grande parte de nós achava o mesmo ou outras coisas semelhantes. E é normal! Ninguém nasce ensinado e quando passamos grande parte do nosso crescimento e da nossa vida a ouvir falar das Bruxas de Charmed, Practical Magic, Buffy, Disney, etc. é expectável que tragamos algumas dessas desinformações connosco e que as mesmas estejam presentes durante o nosso crescimento no nosso trilho espiritual/mágico.
Este texto tem dois propósitos: O primeiro é mostrar a quem está a começar este caminho que todos nós já passamos por isso e que é algo comum durante os nossos períodos formativos. O segundo é recordar as pessoas que, como eu, já andam nisto há bastante tempo que também já passámos por isso e que é normal.
Contudo, quando eu digo que é normal, não digo que apenas devemos deixar passar e que "se resolve sozinho". Pelo contrário, acho que faz sentido alertarmos as pessoas que vemos propagar essa informação (principalmente se as mesmas tiverem a tentar assumir papéis de liderança ou de destaque nas nossas comunidades como professores, influencers, etc) que as informações em causa estão incorretas e tentar explicar como as coisas funcionam. Agora, isto é uma linha ténue de se caminhar: Há várias coisas que podemos achar que são fantasia e, na realidade, fazem parte do UPG de alguém. Há que saber distinguir o que poderá ser UPG e válido e o que poderá ser algo mais perigoso. Depois temos também a condicionante se a pessoa propaga este conhecimento como sendo uma verdade universal/aplicável a todos ou se reconhece que é o seu UPG pessoal e que nem toda a gente se identificará com a situação em causa. Para explicar melhor este cenário, vamos a dois exemplos práticos:
Primeiro exemplo: Temos uma pessoa que começou a estudar recentemente e decide partilhar as suas aprendizagens na internet através de um perfil numa rede social. Esta pessoa defende que podemos utilizar magia glamour para nos tornar invisíveis e tem vários vídeos/textos a ensinar como fazer isto. Quando alertada por um praticante que isso não é possível de acontecer, dado que fisicamente não existe a possibilidade da invisibilidade, a pessoa responde de forma agressiva e ofendida e recusa-se a aceitar qualquer ponto de vista, continuando a propagar a ideia de que qualquer pessoa se pode tornar invisível.
Segundo exemplo: Na mesma plataforma temos outra pessoa, que também começou a estudar recentemente e que está a partilhar as suas aprendizagens, que defende que a melhor forma de contactar a Divindade Y é através de fazer três cambalhotas para trás em tronco nu. Quando alertada por um praticante que não é preciso fazer coisas tão elaboradas, a pessoa responde que este é o método que funciona para elu mas que sabe que há quem prefira fazer de outras formas.
Conseguiram ver a diferença? Enquanto o praticante do primeiro exemplo está a ter um comportamento indesejável (propagação de informação incorreta, não aceita feedback, etc.) o praticante do exemplo dois está a ter um comportamento diferente (aceita a crítica mas reforça que esta é a sua prática individual e que é o que funciona para eles).
Assim sendo, deixo os meus conselhos para ambos estes grupos das nossas comunidades:
Quem está a começar: É normal cometer erros. É normal ler livros ou conteúdos que nem sempre são os melhores porque ainda não sabemos distinguir ou não temos a certeza. Não há mal nenhum nisso porque ninguém é perfeito e todos nós temos o nosso ritmo de crescimento. Quando alguém vos criticar pela vossa prática tenham uma mente aberta para aceitar e entender essa crítica e, acima de tudo, façam a vossa pesquisa pelo assunto! Porque mesmo vindo de um praticante mais velho, essa informação pode não ser a melhor. Não tenham medo de pedir fontes ou referências. E não se sintam obrigades a seguir algo apenas porque alguém vos diz: Trilhem o vosso caminho, sejam humildes e sempre curiosos.
Quem já anda nisto há algum tempo: Eu sei o quanto frustrante é ver pessoas a propagar informação incorreta. Mas nem sempre podemos andar em batalhas a tentar corrigir toda a gente e todo o mundo e, em todas as instâncias, temos de nos recordar que também já tivemos naquela situação e que também já fomos iniciantes. E que podemos abordar as situações com tolerância e com compaixão. Não se sintam ofendides quando um iniciante dúvida ou quer fazer cross-check das vossas informações. Não se sintam frustrades por um iniciante responder que compreendem mas que a prática deles faz sentido daquela forma, porque o UPG é válido e todos nós temos UPG nas nossas práticas.
Por fim, recordemos que estamos todos sempre em aprendizagem e que os nossos caminhos, sejamos iniciantes ou praticantes de longa data, estão em constante mutação tal como a Natureza em nosso redor e que todos temos coisas novas para aprender!
E vocês? O que acham?