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Unsplash (Halanna Halila) |
Um dos termos que surgiu recentemente nas comunidades pagãs foi o termo "baby witches", principalmente nas redes sociais como o Instagram, Twitter e o TikTok e hoje gostaria de falar um pouco deste termo e reflectir sobre a sua utilização.
O termo "Baby Witch" é utilizado acima de tudo por iniciantes e pessoas que estão a começar a estudar Bruxaria e o Paganismo e utilizam-no como forma de se auto-identificarem como iniciantes no estudo e ainda no começo do mesmo. São criadas comunidades em torno desta terminologia e grupos de "baby-witches" encontram-se espalhados pelos espaços da internet. Hoje convido-vos a refletir sobre este termo e o seu uso nas comunidades online.
Antes de mais, gostaria de referir que não tenho nada contra o uso deste termo nem contra as pessoas que se intitulam como "baby witches". Este texto apenas expõe a minha reflexão pessoal sobre o uso deste termo. Se se a auto denominação "baby witch" vos faz sentir melhor, felizes, mais identificadas com o vosso nicho dentro da comunidade, etc. isso é bom e longe de mim querer impedir-vos de tal!
Quanto à minha reflexão pessoal sobre a utilização do termo "baby witches" creio que o mesmo traz consigo alguns pontos negativos. Ao falar "baby witches" sinto que estamos a fazer a comparação dos iniciantes na Arte a bebés. Contudo, os bebés não sabem ser independentes e autónomos. São obrigatoriamente dependentes de alguém para cuidar deles, alimentar, ensinar, etc. Isso não acontece os iniciantes de Bruxaria e Paganismo (ou, pelo menos, não deveria acontecer). Um iniciante na Arte pode, e deve, pedir ajuda e procurar orientações dentro das comunidades mas tem de saber ser independente na sua demanda e na sua procura. Tem de saber ir em busca do conhecimento e da melhoria da sua prática, não pode - como um bebé - ficar à espera que alguém tome conta dele e conta dos que faz. E eu acredito que muitos dos praticantes que usam este termo para se identificar sabem disso e fazem isso e vão em busca do conhecimento e das informações que procuram. Como tal, não são bebés. São pessoas adultas ou jovens adultas que estão em busca de um novo caminho espiritual e religioso que vá de encontro aquilo que o seu coração chama.
Aliás, se olharmos para outros caminhos religiosos como o Budismo, Hinduismo, Hoodoo, Druidismo e até dentro das religiões abraâmicas, em nenhuma delas vemos o termo "baby" associado aos iniciantes. Não temos "baby-buddhists" ou "baby-druids". Porquê recorrer ao uso desse termo dentro da Bruxaria? O que faz a Bruxaria diferente, na demanda pelo conhecimento e pelo caminho, que faz com que os nossos iniciantes sejam considerados "bébés"? Nada, pelo menos na minha opinião. E sinto que este termo desvaloriza o esforço e a caminhada que os nossos iniciantes fazem, quer dentro das comunidades, quer fora delas.
Temos também o facto que ao haver uma afirmação de ser "baby witch" existe também uma espécie de mensagem enviada para as comunidades que é "eu sou nova/o neste caminho". Nao há nada de errado em ser nova/o num caminho, todos já o fomos, sem excepção. Ninguém nasce sábio. Contudo o termo pode ser utilizado como "desculpa" para cometer erros, seja erros na informação passada, erros na prática ou na forma como agimos dentro das comunidades. Ser utilizado como um bode expiatório para os nossos erros: "Peço desculpa, sou baby witch". Isto faz com quem não haja uma responsabilidade pelos actos pessoais, acabando por "desculpar" as acções com o facto de ser iniciante. E isso não está correcto. Um/a Bruxo/a, independentemente em que fase do caminho se encontra, é sempre responsável pelas suas acções e palavras. Sempre!
Adicionalmente, e este ponto vem relacionado com outras temáticas que temos vindo a falar como Os Cuidados nas Comunidades Pagãs e "Auto-Proclamados Mestres" no Paganismo e Bruxaria, o facto de sinalizarmos e distinguirmos quem está a iniciar o caminho de forma tão clara, estamos também a expôr estes elementos a comportamentos predatórios. Porque vamos ser honestos, o Paganismo e a Bruxaria não são só rosas e borboletas. Temos, infelizmente, predadores e abusadores que se aproveitam dos nossos caminhos como forma de encontrar vítimas para os seus abusos e "cultos do ego", como falamos anteriormente. Ou seja, podemos estar a colocar membros das nossas comunidades em ponto de destaque para estas pessoas. E, como muitos dos nossos leitores sabem, eu não concordo com isso. Acho que como comunidade temos o dever de manter os nossos espaços seguros e livres deste tipo de comportamentos e que devemos proteger os nossos membros, principalmente, os que estamos a chegar e a conhecer a nossa Arte. Não podemos permitir que a primeira experiência dos iniciantes e buscadores seja uma experiência tóxica. Como comunidade temos de garantir que os nossos espaços são seguros.
Concluindo não tenho nada contra o uso deste termo dentro das nossas comunidades, contudo, acho que podemos todos fazer uma reflexão sobre a sua utilização e os prós e contras da mesma. Afinal de contas, pensamento crítico é uma das nossas características mais prezadas, certo?
E vocês, leitores, qual a vossa opinião sobre o tema?