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Sob o Luar


A Roda do Ano é um dos primeiros conceitos que aprendemos quando chegamos à Bruxaria, principalmente através da Wicca. Rapidamente somos informados de que existem 8 Sabbats que devem ser celebrados, cada um na sua data específica e que, inclusive, as mesmas são adaptáveis para o Hemisfério Sul e o Hemisfério Norte! Contudo… nem toda a gente se identifica com a Roda do Ano. Ou até podem identificar-se com a Roda do Ano mas não gostam de todos os festivais ou até gostariam de ter mais alguns. É aqui que muitos praticantes encontram um impasse e ficam a sentir-se insatisfeitos com a sua prática e sentem-se numa encruzilhada entre o celebrar o tradicional e afastar-se totalmente do que é mandado. Mas… e se eu vos dissesse que há um meio termo? Que não precisa de ser só a Roda do Ano ou sem ela? 

A Roda do Ano é um guia de celebrações criado de propósito para a Wicca. Ela junta vários festivais, alguns até de culturas diferentes, e cria uma roda de festivais baseada na história da Deusa e do Deus Wiccano e com base em torno do ano agrícola e da fertilidade dos campos. Mas, hoje em dia, nem todos vivemos nos campos e nos identificamos com este tipo de ciclos. E nem todos prestamos culto a um Casal Divino ou até divindades cujos festivais se encaixem nestes mitos. Pessoalmente eu sou Pagã Helénica o que significa que a minha prática e as minhas celebrações são baseadas nas práticas da Grécia Antiga e não numa Roda do Ano agrícola. Contudo, desde cedo, fui ensinada a Roda do Ano e acabei por adaptar a minha prática a ela. E gosto de ainda manter algumas das práticas da Roda do Ano nas minhas celebrações. Por isso, criei a minha própria Roda do Ano que conta com as celebrações que me são mais importantes, as que são mais ligadas às minhas divindades, aquilo que me chama mais ou tem mais significado para mim, etc. 

O nosso caminho deve ser constituído pelas coisas que funcionam para nós e não apenas pelo que os livros ou autores ou membros das nossas comunidades "dizem que deve ser". Devemos ser nós a adaptar as nossas práticas ao que faz mais sentido para nós, individualmente. E isto estende-se também às práticas pessoais. Se eu não me identifico com a ideia do começo da Primavera enquanto celebração relacionada com as ovelhas e com o leite e vivo numa zona do país onde nem sequer há neve, não faz grande sentido (para mim) estar a celebrar o Imbolc. Mas, por exemplo, já dou mais importância ao Samhain que, apesar de não ser uma prática helénica, é um festival que tem bastante importância para mim, logo, opto por incluí-lo. Opto também por incluir celebrações a Hekate como o Deipnon ou o 13 de Agosto na minha Roda, dado que presto culto a esta divindade. Um devoto de Hermes, por exemplo, poderá incluir outros festivais que lhe são ligados. Mesma coisa com outras divindades e outros panteões. 

Para criar a nossa própria Roda do Ano recomendo sentarmo-nos e fazermos uma lista de todos os festivais e/ou celebrações que achamos interessantes ou pelos quais temos interesse. Façam uma lista de todos, sejam cinco, dez, vinte ou até trinta festivais. Incluam festivais locais da vossa zona ou país, feriados, aniversários, celebrações religiosas, festivais antigos, festivais da Roda Wiccana, etc. Tudo o que vos chamar a atenção ou interesse! E depois peguem num calendário e vejam em que altura calha cada um deles. Façam as adaptações que precisam, principalmente dependente dos hemisférios ou até do clima da zona onde se encontram e criem um protótipo de uma Roda do Ano vossa. E, depois, passem um ano a vivê-la e experimentar!

Sim, leram bem, experimentem durante um ano. A nossa prática não ficará definida num só dia nem numa sessão sentados em frente ao PC a pesquisar. A nossa prática está em constante movimento e mudança e isso não exclui os festivais e só experimentando e vendo como as energias fluem entre si é que vamos entender se é algo a manter a longo prazo ou não. E é isso que este exercício é: Ver o que flui, o que não flui, o que gostamos e não gostamos, o que funciona e não funciona. E depois mudar! E podemos mudar no final do ano ou a meio do ano. Se chegarem a Julho e virem que não está a dar e querem tentar outra coisa, mudem e continuem a experimentar. 

Pessoalmente fiz isto ao longo de 2020/2021: Criei a minha própria Roda do Ano, uma mistura entre festivais wiccanos, festivais helénicos, celebrações individuais e importantes para a minha prática pessoal, etc. E experimentei. E funcionou bem! Houve algumas coisas que optei por tirar porque não gostei da sensação ao longo do ano, outras que acabei por adicionar a meio do ano e outras que dei mais importância do que tinha pensando que iria dar inicialmente. Foi um processo de crescimento mas foi lindíssimo e planeio continuar em 2022 experimentando novas coisas e continuando a criar e a mexer na minha roda pessoal. 

E vocês? Vão criar a vossa própria Roda do Ano? Quais os vossos festivais favoritos? 

Crédito de Imagem: Unsplash (Natalia Y)

Nome do Festival: Yule (pronuncia-se “í-ule”) ou Solstício de Inverno
Data Tradicional: 21/22/23 de Dezembro (No Hemisfério Norte) e 21/22/23 de Junho (No Hemisfério Sul)
Data Astrológica: Sol a 0º de Capricórnio (HN) e Sol a 0º de Cancer/Caranguejo (HS)
Etimologia: Yule é a versão moderna das palavras do inglês antigo ġēol ou ġēohol e ġēola ou ġēoli, com a primeira indicando o festival de 12 dias de "Yule" e a última indicando o mês de "Yule". A linhagem etimológica da palavra permanece incerta, embora várias tentativas especulativas tenham sido feitas ao longo do tempo.
Correspondências de Cores: Vermelho, verde, dourado e cores invernais. 

Yule também denominado de Solstício de Inverno, Meio do Inverno e Alban Arthan é um dos Sabbats menores da Roda do Ano e marca a altura em que o Sol atinge o seu ponto mais baixo e se prepara, a partir daqui, para subir no céu e voltar a erguer-se fortemente e brilhar alto. Este é o dia em que a duração do dia é mais curta e a duração da noite é mais longa e, por isso, é um momento de renascimento: tanto do Sol que morre e nasce (simbolicamente) como de um renascimento pessoal. Para além disso, também se refere à promessa da fertilidade dos campos que, com os raios de luz do Sol e os dias que vão começar a crescer gradualmente, garantem alimento na mesa. Sendo também um momento escuro, dado que é a noite mais longa do ano, é um momento em que, em tempos antigos, os nossos antepassados se reuniam em casa, em torno da fogueira, e era um momento muito voltado para a família e para o convívio. Ainda nos dias de hoje isso se verifica, com celebrações de outras fés religiosas cujas datas coincidem com o Solstício de Inverno (ex. O Natal). 

No mito da Roda do Ano Wiccana é neste festival que se assinala o nascimento do Deus e em que a Deusa se torna Mãe, dando à luz a criança promessa, tal como o Sol que renasce. Este mito é partilhado por muitos outros caminhos religiosos (pagãos e abraâmicos) onde nesta altura do ano se assinala o nascimento de uma criança prometida. 

Uma das grandes tradições deste festival é acender um cepo na fogueira, o chamado Yule Log (poderá ser escolhido um tipo específico de madeira, dependendo da tradição de cada um). Isto é uma forma de contribuir, simbolicamente, para o reforço da Luz Solar e a sua vitória sobre as trevas. As brasas resultantes desta fogueira podem ser usadas como amuletos ou talismãs que carregam o poder da vitória do Sol para o resto do ano, colocando-se debaixo da cama para ajudar na saúde ou levar connosco como amuleto no dia-a-dia. 

Também o Bolo-Rei, uma grande tradição desta época do ano, é outro elemento importante neste festival. Este bolo pode ser considerado um símbolo do Sol pela sua forma redonda e branca e, ao mesmo tempo, pode também representar a terra com as suas frutas cristalizadas dentro de si (em semelhança à Terra que está com as sementes dentro de si, à espera do momento ideal para germinarem). Para mais informações e dicas sobre alimentação durante este festival, recomendo a leitura do nosso texto de Bruxaria de Cozinha e Yule que tem várias recomendações de comidas, pratos e ingredientes que podem marcar presença na nossa mesa nesta altura festiva. 

Uma árvore de Yule pode ser construída para simbolizar a alegria e alegrar a casa (decorada com azevinho e visco e cores entre o dourado, verde e vermelho – cores estas que também decoram o altar durante este período). Também toda a casa pode ser decorada de forma a ajudar o Sol a subir no céu, utilizando as cores da época e outras decorações alusivas ao Sol. 

E vocês? Como costumam celebrar esta festividade? 

Crédito de Imagem: Unsplash (Jessica Delp)

Hoje vamos falar do movimento do Sagrado Feminino, que é um movimento espiritual/religioso que tem bastante predominância nas nossas comunidades pagãs e que teve um papel bastante importante na expansão do culto da Deusa, principalmente nos Estados Unidos da América. 

O Sagrado Feminino é um termo bastante amplo para variadas tradições, caminhos e espiritualidades que, entre si, partilham de algumas características em comum, nomeadamente o Culto da Deusa. Na maioria dos casos, este culto da Deusa é feito a uma Divindade Feminina com várias faces ("Todas as Deusas são uma Deusa"). Algumas das autoras mais famosas deste movimento são a Starhawk e a Z. Budapest (ver nota 1) que com os seus textos, nas décadas de finais de 70s e 80s deram destaque ao movimento do Sagrado Feminino e ao surgimento de grupos e tradições dentro das mesmas. 

Hoje em dia, o movimento do Sagrado Feminino está espalhado por todo o Mundo e inclusive em Portugal temos vários grupos e tradições que se identificam como fazendo parte do movimento do Sagrado Feminino. Muitos dos praticantes deste movimento, contudo, não se identificam com a Bruxaria nem com o Paganismo, preferindo associar-se a práticas mais new age e espirituais do que às vertentes pagãs. A maioria acredita em Deusas ou no conceito da Deusa mas também se sente confortável em buscar coisas de várias culturas como chakras, yoga, santas do Cristianismo, entre outras. A forma de praticar esta religiosidade é bastante diversificada e vai depender da preferência de cada praticante. 

O Sagrado Feminino inclui o trabalho com o feminino interior, com o curar as feridas de séculos de opressão ao sexo feminino, curar as feridas de traumas*, desmistificar mitos relacionados com a sexualidade feminina, trabalhar com Divindades femininas, trabalhar com o nosso lado feminino da nossa polaridade (tanto homens como mulheres e não-binários, o Sagrado Feminino está aberto a toda a gente). Com isto não quer dizer necessariamente o trabalho com Divindades femininas mas com o conceito do Feminino como um todo. 

Para quem gostaria de explorar mais o conceito do Sagrado Feminino e, também, dos círculos de mulheres, recomendo a visita ao Teia de Thea, da Mirella Faur. A partir daqui irão conseguir encontrar mais recomendações de livros e informações úteis. Recomendo também uma olhadela ao blogue da Alva Möre (que já foi entrevistada aqui no blogue!) onde a mesma também fala do Sagrado Feminino. Temos também aqui no blogue um texto sobre Tendas Vermelhas.

E vocês, já conheciam este movimento?

Nota 1: Esta autora faz parte de um ramo, dentro do movimento do Sagrado Feminino, que é bastante anti-trans (TERF), no sentido em que não aceitam pessoas trans dentro dos seus círculos. Tem vindo a ser criticada e, inclusive, boicotada dentro das comunidades devido ao seu tipo de pensamento discriminatório, contudo, ao falar do começo deste movimento, é quase impossível não referir o seu nome, mas quero deixar claro que o Sob o Luar NÃO compactua com este tipo de discurso. Mulheres trans são mulheres! 

Crédito de Imagem: Pixabay (H. Newberry)

Olá a todes!

Hoje trago-vos uma entrevista com uma pessoa muito especial, a ProbablySininho (ela/ele/el): A Sininho foi uma das criadoras do servidor de Discord Refúgio da Bruxaria e é também uma presença activa e importante nas comunidades bruxescas, principalmente a nível do TikTok com quase 15 mil seguidores, por isso, quis fazer-lhe uma pequena entrevista para  podermos conhecer melhor a sua prática e caminho e, também, os conselhos que tem a dar para os nossos leitores! 

Abaixo coloco os links d Rosa, onde podem encontrar os seus projectos como o seu blog onde coloca artigos escritos por si (a destacar as críticas literárias e os textos sobre Deuses Lusitanos!), o TikTok onde mantém um fluxo constante de vídeos sobre variados temas como Bruxaria, Livros, LGBTQ+ e assuntos importantes para a comunidade em geral como Bullying ou Call-Outs a coisas controversas. Podem também encontrar a Sininho no seu Instagram e no seu Canal de Youtube, onde encontram unboxings do Baú do Portal de Hécate e episódios do seu podcast E-scritores.  

Nome: ProbablySininho ou Rosa
Blog: https://fora-destemundo.blogspot.com/
TikTok: https://www.tiktok.com/@probablysininho
Instagram: https://www.instagram.com/probablysininho/
Canal de Youtube: https://www.youtube.com/c/BeatrizRosaForaDesteMundo

***
  • Como descreverias a tua prática e o teu caminho pessoal?
Tanto em termos de bruxaria como de paganismo, considero-me eclética, com um grande foco em elementos e fadas. Aliás, gosto de adotar o termo “faerycraft” para descrever a minha prática, que é um termo que muitos outros praticantes de magia feérica adotam, apesar de não trabalhar tanto com as fadas irlandesas, mas sim com as portuguesas. O meu caminho sempre passou muito pelas fadas, e apesar de já ter experimentado outros tipos de magia e explorado outras crenças, é onde regresso sempre. Tirando as fadas, a minha prática e crença também inclui divindades de panteões variados, mas em especial Celta e Lusitano devido à sua conexão com mitologia feérica e Portugal.

  • Tens um grande interesse pelo panteão lusitano que é originário aqui da nossa Península Ibérica. O que te desperta esse fascínio pelo panteão? 
Ganhei interesse pelo panteão exatamente quando estava a dar o povo Lusitano na escola. Sempre adorei estudar mitologias, e achei estranho falar-se da mitologia grega, romana e celta, mas os lusitanos, que são dados como tão importantes na história da nossa terra, não terem nenhuma. Na altura descobri que sim, havia um panteão lusitano, mas a informação ainda era muito dispersa e eu não tinha as capacidades de pesquisa que tenho hoje, então fiquei na mesma. Mas o panteão lusitano ficou sempre na minha cabeça. 

Quando, mais tarde, descobri que muitos Deuses lusitanos teriam origem e seriam venerados na zona que inclui a terra da qual a minha família vem, senti ainda mais conexão com eles. Acredito que temos uma ligação forte com a terra em que estamos e em que nascemos, e que nascemos nessa terra por uma razão. Sempre adorei as histórias de seres de outro mundo que Portugal tem e que me eram passadas oralmente quando era pequena. Sou um pouco tradicional nesse aspecto, e entristece-me que a nossa mitologia esteja a ser cada vez mais esquecida, só contada de boca em boca em meios rurais – por isso é que tento partilhar esses mitos e Deuses na Internet, para dar a outros a oportunidade de sentir a conexão com a sua terra e antepassados através dos mesmos, ou até para explorar uma crença diferente daquelas que normalmente vemos.

  • Quais as tuas principais recomendações para alguém que quer começar a estudar sobre o panteão lusitano e a trabalhar com essas Divindades?
Primeiro, os livros Religiões da Lusitânia do José Leite Vasconcelos são um dever. Não podemos falar em paganismo moderno sem primeiro falar no paganismo antigo, principalmente com Deuses que não estão tanto na cultura popular, os livros de arqueologia são a nossa fonte de informação principal. Depois disso, procurar ouvir as histórias. O paganismo português sobrevive até agora principalmente pela tradição oral. Existem blogues e livros que recolhem estes depoimentos orais, mas para quem gostar de viajar, nada como ir ao norte e beira de Portugal visitar os locais onde se situam os altares a estes Deuses e perguntar sobre Eles. Quem sabe, até se descobre um mito ou dois que não vem em livro nenhum. 
Em termos de trabalho, como estes Deuses foram tão perdidos para a história, a primeira coisa a fazer é escolher que interpretação dos mesmos venerar. Tem um pouco essa vantagem, que por não sabermos bem como eram os rituais ou até organização do próprio panteão, podemos “criar o nosso” a partir do que sabemos. Por exemplo, existem pessoas que trabalham com Endovélico e Ataegina como Deuses Pai e Mãe, mas existem pessoas que escolhem Nabia e Quangeio para esse papel. Aqui temos de ter cuidado, e deixar o panteão lusitano ser lusitano, separado de influência de outras mitologias ou religiões abraamicas – a não ser que, claro, assim o escolhas fazer conscientemente. Existem muitas coisas geralmente aceites no panteão lusitano por neo-pagãos que são crença moderna não baseada na antiguidade, e eu pessoalmente não as rejeito de todo, como Ataegina ser uma Deusa da primavera semelhante a Proserpina, ou Trebaruna ser uma Deusa da guerra, ou Nabia ser a padroeira de Portugal. Acho poético, os neo-pagãos estarem a reconstruir o panteão lusitano pegando no puzzle incompleto que a história nos deixou e adicionando as suas próprias peças da sua crença, formando um novo panteão que cabe nos tempos modernos.

  • Muitos dos teus vídeos no TikTok são com enfoque em desmistificar várias coisas dentro das comunidades, principalmente as informações incorretas propagadas dentro da plataforma. Porque consideras importante fazer este trabalho? 
Para além de bruxa, sou jornalista, então desinformação faz-me sempre comichão. Estamos na era dos influencers, e o TikTok veio tornar ainda mais fácil qualquer pessoa ganhar uma plataforma. Isto faz com que muitas pessoas com más intenções, desinformadas ou com sede de poder ganhem um espaço para falar, e o seu conteúdo é em grande parte consumido por jovens adolescentes impressionáveis. A primeira vez que fiz um vídeo do género, foi porque vi jovens entre os 13-15 anos a perguntar a um destes influencers como canalizar um Deus para este falar e agir através de si, que este influencer dizia conseguir fazer e utilizava para fazer Tiktoks – neste caso, o próprio influencer também era jovem, e estava desinformado. Depois disto, apercebi-me da absoluta fonte de desinformação que é o Witchtok. É uma bola de neve, parece que vai ganhando mais e mais ideias erradas e perigosas, partilhadas para milhares de pessoas. Uma das que me fez rir foi a Hex que umas meninas fizeram às fadas – imagina, achares ter poder sob entidade liminais - que ainda nem abordei por achar tão ridículo. Pode parecer engraçado, mas é preocupante. Para pessoas que estão na comunidade há algum tempo e sabem identificar os sinais de espiritualidade tóxica e cultismos, isto são piadas completas, mas estes miúdos acreditam nestas ideias. No mínimo, ficam com complexos psicológicos devido às mesmas, no pior dos casos, alguém se aproveita deles e ficam traumatizados para a vida. Quero não só ser uma fonte de informação de confiança como uma fonte de verificação para estes jovens, para que assim eles possam encontrar o seu caminho de forma saudável.

  • Juntamente com um grupo de amigxs criaste um servidor de Discord (“Refúgio da Bruxaria”) que hoje é casa de mais de 300 pessoas e está em constante crescimento. O que vos levou a criar este espaço? Alguma vez esperaram que ficasse tão grande ou foi uma surpresa?
Criamos o Refúgio em 2020, quando o Witchtok estava no seu auge e éramos quase os únicos perfis do Witchtok em Portugal – tanto que nos conhecemos e ficamos amigxs por causa do Tiktok. Nesta altura Witchtokers maiores estavam a abrir os seus servidores de Discord, então tivemos alguns jovens portugueses a expressar por DMs que gostariam de ter servidores assim em Portugal, para socializar na sua língua com pessoas que pudessem conhecer cara a cara. Estávamos de férias, então criamos o servidor perante esses pedidos. Fizemos logo tudo direitinho e bem feito, informamo-nos sobre como devem funcionar servidores de comunidade e fizemos acomodações para termos um equilíbrio de socialização e informação, bem como a criação de um espaço seguro em que nenhuma prática ou pessoa seria discriminada. Claro, não era perfeito no início, o servidor já passou por muitas mudanças e adaptações necessárias para ser o espaço que é hoje, com mais de 300 pessoas. Confesso que nunca achei que fosse ficar tão grande nem durar tanto tempo. Pensei que assim que os Witchtokers grandes parassem de promover os seus próprios servidores, procura pelo nosso iria parar também. Mas não parou, e ver o quão as pessoas realmente precisavam daquele espaço e adoravam o Refúgio motivou para o melhorarmos e promovermos ainda mais. É um dos projetos de bruxaria que mais me orgulho. Quem me dera ter tido um espaço assim quando era adolescente e estava a começar a explorar todo este mundo na Internet. O Refúgio da Bruxaria é exatamente o que diz no nome – um refúgio, para todos os que precisem dele e queiram interagir com pessoas espirituais como nós.

  • As Fadas e a cultura Celta são também outros dos teus interesses. De onde nasceu este amor pelas Fadas e seres semelhantes?
Em parte, sempre estive no meio delas. Como já disse, histórias sobre as criaturas portuguesas foram-me passadas oralmente desde pequena, bem como a forma de lidar com as mesmas, que antes também já tinham sido passadas do meu avô para a minha mãe – claro, raramente se chamava aquilo de fadas, estávamos numa vila cristã, eram criaturas, anjos, demónios – mas quando se vai a ver, as criaturas cabem todas na ideia do que é uma fada pagã: um ser liminal ligado à natureza que nunca é completamente benevolente ou malévolo. A minha história favorita foi quando o meu avô encontrou um Gigante – uma criatura humanoide alta demais para ser humana que vagueia as montanhas -  que lhe pediu tabaco, comeu o cigarro e foi-se embora como se nada fosse. Depois também haviam muitas tradições Celtas que ainda aconteciam, como o Beltano, celebrado como Maio, em que se ia apanhar flores para fazer uma passadeira com as pétalas até casa para os espíritos bons entrarem. No meio rural é muito comum estas partes do paganismo antigo sobreviverem com um rótulo cristão.

Em meio urbano, continuava a ter esta paixão de menina pelas fadas. Dizia que as conseguia ver e explicava tudo o que sabia sobre elas à minha mãe, que na altura era inventado, baseado nas histórias que sabia e nos filmes do Peter Pan, que eu adorava. Aliás, gosto de brincar que a minha primeira oferenda às fadas foi a minha chucha, porque a única forma que a minha mãe teve de convencer-me a largá-la foi dizer que as fadas a queriam. Mais tarde, já com uns 10 anos e acesso à Internet, este amor pelas fadas tradicionais portuguesas e fantasia traduziu-se num interesse por mitologia Celta por esta ser grande influência nas tradições pagãs portuguesas e inspiração de maior parte dos livros de fantasia que gostava tanto de ler. Ora, não se consegue estudar mitologia Celta sem se falar das fadas, e quando descobri que existiam muitas, muitas mais do que aquelas que conhecia, a minha felicidade não teve fim, e comecei a estudá-las todas, como as identificar e regras a seguir. Foi a partir daí que comecei a considerar o paganismo e a bruxaria, que descobri por anexo, como crença a seguir.

  • Que recomendações darias a pessoas que querem começar a trabalhar com Fadas ou outros Seres Mágicos?
Para além de estudar, o mais importante é saber as regras de interação com fadas. Evitar eufemismos, ser sempre honesto, não dizer “obrigado”, não tentar raciocinar comportamento feérico, cumprir promessas, não dar nada acidentalmente, etc; Saber formas de proteção e banimento para cada tipo de fada. Aqui vai sempre depender do tipo de fadas que a pessoa tem interesse em trabalhar com: celtas, ibéricas, nórdicas, eslavas, alemãs. Cada uma destas tradições tem as suas histórias e divisões para a Boa Gente. Também pode adotar uma abordagem mais moderna, como a de Tara Sanchez, que gosto bastante, e dividir por nível de senciência e elemento associado. Recomendo muito o livro Urban Faery Magick dela, já agora, tem toda a informação que um praticante de magia feérica pode desejar e ainda exercícios para desenvolver ligação com as mesmas. Depois disso, é como qualquer outra prática que lide com entidades liminais: ter boa intuição e saber bem no que se está a meter. Não se brinca com a Boa Gente, todas as fadas têm a capacidade de ser perigosas. Largar a ideia popular das fadas como meninas com asas que são amigas e gostam de brincar, que vem de histórias de crianças e não da mitologia – a beleza destes seres é que são neutros – alguns podem ter mais tendência para o bem ou para o mal, mas não existem fadas boas nem fadas más. Interagir com a Boa Gente sendo uma pessoa decente com a noção que nada é completamente bom ou mau já é metade do trabalho. Nunca estar a praticar a medo, mas também nunca confortável ao ponto que é desrespeitoso. 

  • Se pudesses falar contigo própria quando estavas a começar a estudar Bruxaria e Paganismo, que conselhos gostarias de lhe dar? 
Não faças as coisas impulsivamente, nem tudo precisa de bruxaria como solução, vai estudar par ao teste de matemática em vez de fazer um sigilo. Quando passamos por aquela fase em que achamos que somos Deuses, podemos fazer algumas coisas de que nos arrependemos, penso que na minha adolescência precisaria de um sopapo de realidade para perceber que não se brinca com espiritualidade e há coisas que nunca conseguiremos controlar. 
Mas, acima de tudo, nunca deixes que ninguém te envergonhe por seres bruxa pagã. Ninguém tem o direito de dizer que a tua crença é melhor ou pior, de dizer que tens de praticar de certa forma, que és uma má pessoa por só praticar para ti – as tuas crenças são tuas e só tuas. Agarra-te a elas e não deixes que o mundo as abafe. Acredita em fadas, pois acreditar em fadas faz-te feliz.

***

Obrigada à Sininho por ter aceite este convite para a entrevista! E vocês leitores, gostaram de conhecer a Sininho? Vão ao seu blog e redes sociais e digam um olá! :) 

Hoje voltamos à nossa série de Conceitos e vamos falar de Kemetismo! 

Kemetismo é uma prática espiritual/religiosa moderna que consiste na reconstrução e/ou adaptação das práticas religiosas do Antigo Egipto para a nossa atualidade. O Kemetismo, Paganismo Egípcio ou Reconstrucionismo Egípcio é praticado de várias formas e existe em várias tradições, desde algumas mais rígidas no tipo de reconstrucionismo e práticas realizadas até opções mais modernas e fluídas, adaptadas à nossa realidade contemporânea. O nome "Kemetismo" vem da palavra Kemet que é o nome nativo do Antigo Egipto. 

À semelhança dos restantes tipos de Reconstrucionismo, inclusive alguns que já falamos aqui no blogue, as práticas vão depender muito de tradição para tradição e de praticante para praticante, pelo que é complicado definir a forma como a religião é vivida e experienciada pelos seus devotos. No geral, e de forma abrangente, o objetivo do Kemetismo é aplicar no dia-a-dia aspectos da vivência religiosa e quotidiana do Antigo Egipto, principalmente no culto às deidades e nas coisas que afectam a espiritualidade (pós vida, nascimentos, casamentos, etc). 

Uma das tradições mais famosas desta prática é a "Kemetic Orthodoxy" que foi fundada nos finais dos anos 80s por Rev. Tamara L. Siuda. Esta tradição é tem uma abordagem um pouco mais a tender para o monoteísmo, como indica no site deles: 

"A Kemetic Orthodox Religion é politeísta, o que significa que reconhece muitos deuses e deusas. Além disso, segue um tipo especial de politeísmo, denominado monolatria. Monolatria é um conceito diferente do monoteísmo, onde se acredita que Deus se manifesta em uma forma e em apenas uma forma. Monolatria é um politeísmo "suave", tendo uma estrutura multi-deuses onde os deuses podem  e manifestam-se como indivíduos distintos, ainda fornecendo a possibilidade de que esses deuses possam ser entendidos em relação uns aos outros por meio do sincretismo (vários deuses se juntando para formar um novo divindade composta) e aspecting (deuses aparecendo como outros deuses). No Kemetic Orthodoxy, os convertidos completos dão especial importância ao seu deus / deusa pai (ou par de duas divindades), conforme revelado por meio de nosso Rite of Parent Divination." - Retirado do site oficial, traduzido por Alexia Moon

Contudo esta é apenas uma das várias tradições que podem ser encontradas dentro do Kemetismo. Outra das tradições que é bastante famosa dentro do Paganismo Egípcio é o "Kemetic Temple", que possui vários templos espalhados pelos Estados Unidos da América. E, para além destas tradições, existem muitas outras e, como em todos os caminhos, existem também vários praticantes solitários ou que optam por viver a sua religiosidade em pequenos núcleos e grupos, longe de grandes organizações. 

Para interessades em começar a aprender sobre esta religiosidade aqui está um pequeno "Guia de Começo", em inglês. 

E vocês, já conheciam esta tradição? 

Crédito de Imagem: Unsplash (Simon Berger)

Como sabem, sou grande defensora de, enquanto Bruxes, nos conectarmos com a Natureza, principalmente aquela que está em nosso redor. Contudo, e principalmente para quem vive em cidades, pode ser complicado entender quais os ritmos da nossa zona e como conseguir sintonizar-nos com os mesmos e sentir as suas influências na nossa vida e na nossa prática. E hoje, quero falar disso e tentar dar-vos algumas dicas para ajudar este processo. 

Conectar com a Natureza torna-se mais fácil quando vivemos junto da mesma: quando vivemos em meios rurais ou em meios nos quais temos acesso rápido a jardins ou até florestas. Mas a realidade é que muitos de nós vivemos em cidades e não temos acessos a locais com muita natureza como montanhas ou florestas. E pode tornar-se complicado estabelecer uma ligação com a natureza nestas situações mas não precisa de ser assim! A natureza está presente em todo o lado, até dentro das grandes cidades. Podemos ver a Natureza nas árvores que estão espalhadas pelas ruas, nas ervas daninhas que crescem nos passeios, nas frutas e verduras que estão à venda nos minimercados e nas praças e até olhando para o céu e vendo o tempo, o nascer e pôr do sol, a posição da Lua no céu ao longo do mês, etc. Há imensas coisas que são parte da Natureza e estão em nosso redor, ao longo do nosso dia-a-dia, mas nós não notamos. 

Responde a esta pergunta para ti mesme: Há quanto tempo não paras e olhas para as nuvens? Aposto que a resposta foi há muito tempo e a verdade é que a maioria de nós não olha para cima, nem para o céu nem para as nuvens. Isto foi algo que reparei à uns meses quando reparei que não olhava (com atenção) para as nuvens e para o céu à meses, quase anos. Simplesmente nunca me recordei de o fazer! Mas é uma atitude tão pequena mas tão importante e que tem um grande impacto na nossa conexão. O mesmo se aplica às restantes coisas que falei. O saber onde o Sol nasce e se põe na nossa cidade, o saber onde a Lua está posicionada ao longo das suas fases e ao longo do mês, o saber onde há árvores (e o tipo de árvores) e, principalmente para quem pratica Bruxaria de Cozinha, o saber qual o tipo de alimentos que estão disponíveis a cada altura do ano para consumo. Todas estas coisas são pequenas atividades que acabam por ter um impacto directo na nossa prática e, inclusive, um impacto útil: saber onde o Sol nasce e o Sol se põe ajuda a saber os pontos cardeais o que ajuda no lançamento do círculo; Saber onde está a Lua ajuda com a criação de águas lunares ou até para carregamento de objectos com energias da Lua e os alimentos da época são muito melhores para a nossa prática de Bruxaria de Cozinha (podem aprender mais sobre isto no meu curso). E, ao mesmo tempo, tudo isto permite-nos sincronizar com a Natureza em nosso redor e entender os ritmos naturais na nossa cidade ou na nossa zona.  

Como podem ver, há várias formas de nos conectarmos com a Natureza em nosso redor, até em espaços urbanos! Agora... vamos por isto em prática? :) 

Crédito de Imagem: Unsplash (Sebastian Unrau)
Capa do Livro
Título: The Witch's Path: Advancing Your Craft at Every Level
Autor(es): Thorn Mooney
Pontuação: ★★★★★
Descrição: O The Witch's Path  é um livro sobre elevar sua prática de bruxaria ao próximo nível - seja um iniciante que se sente sobrecarregade, um adepto desiludido, um líder de coven cansade ou qualquer uma das opções. Este livro compartilha dicas práticas e específicas sobre o que pode fazer para avançar espiritualmente, não importa qual seja o seu ponto de partida. Junte-se a Thorn Mooney numa exploração dos temas mais comuns que os praticantes precisam examinar quando se estão a sentir estagnados ou presos: espaço sagrado, devoção, ritual e magia, prática pessoal e comunidade. Cada capítulo apresenta quatro exercícios separados, projetados para quatro tipos diferentes de leitores, para que possa voltar a este livro à medida que cresce e descobre novas técnicas e atividades. O Witch's Path ajuda a renovar o seu senso de envolvimento com a Arte para que possa continuar evoluindo seu espírito, sua prática e você mesme.
Onde Comprar*: Scribd (Ativa dois meses grátis!)
Análise: É seguro dizer que este foi um dos livros mais esperados nas comunidades pagãs este ano e, pessoalmente, estava ansiosa para o ler. Já tinha tido oportunidade de ler alguns excertos no Patreon da Thorn Mooney mas nada me preparou para o quanto fantástico e essencial este livro é! 

Ao contrário do primeiro livro da Thorn que é exclusivamente sobre a Wicca, este livro é aplicado a Bruxes no geral, sejam elus Wiccanos ou não. É um livro bastante abrangente e adaptável a qualquer pessoa, em qualquer momento do seu caminho mágico. Cada capítulo possui um conjunto de exercícios que estão separados com base nos "níveis de dificuldade", por assim dizer. Existem exercícios para quem acabou de conhecer a Bruxaria e está a agora a dar os seus primeiros passos neste caminho e exercícios para quem já anda nas comunidades há imensos anos e se sente preso sem saber como dinamizar as suas práticas. 

O livro é também bastante abrangente e fala de vários aspectos essenciais a uma prática bruxa, desde rituais e magia, devoção, comunidade, estudos, perigos, espaços sagrados, etc. Todos os tópicos essenciais são falados ao longo do livro e de forma adaptável aos vários tipos de praticantes e leitores que podem ler este livro. Pessoalmente acho que este livro se tornou, em pouco tempo, um daqueles tipos que são essenciais na estante de qualquer Bruxe, sejam iniciantes ou praticantes de longa data. É um livro que nos desafia, principalmente nos exercícios. Obriga-nos a sair da nossa zona de conforto e a experimentar novas coisas, ver novas formas de encarar o Mundo e encarar a nossa prática. Eu sinto que, no meu caso em específico, este livro me levou a refletir sobre vários aspectos quer da minha prática individual quer do caminho no geral e das comunidades que acabou por resultar em várias mudanças a nível das minhas opiniões e até das minhas rotinas mágicas. 

Considero, genuinamente, que este livro é uma mais valia em qualquer biblioteca e recomendo vivamente a todes interessades em desenvolver a sua prática de forma mais consistente, sejam iniciantes ou praticantes de longa data! 

E vocês? Já leram? Que acharam? 

* Os links fornecidos pertencem a 'Affiliate Programs' e geram uma taxa de lucro ao Sob o Luar. Não existe qualquer despesa adicional para o comprador. 

Olá a todes!

Hoje começamos um novo tipo de artigo aqui no blogue e vamos ter uma entrevista, com uma pessoa muito especial! :) 

Hoje voltamos à nossa série de Conceitos e vamos falar de um conceito bastante vasto e suscetível a debate: Reconstrucionismo(s).

Nome do Festival: Samhain (pronuncia-se “sou-ein”)
Data Tradicional: 31 de Outubro (No Hemisfério Norte) e 1 de Maio (No Hemisfério Sul)

Título
: Almanaques "Mandrágora" - 2009, 2010, 2011, 2012 e 2014.
Autor(es): Vários - Editora Zéfiro
Pontuação: ★★★★★
Descrição: Desde os calendários megalíticos aos almanaques sumérios, gregos e egípcios, que o Tempo era o mediador das fainas terrestres da vida agrária e pastoril e das fainas mágico-religiosas da vida da alma. A função deste almanaque é de restaurar através do rito e de uma nova consciência essa época arcaica em que homens, plantas, animais e deuses conviviam em harmonia.Este é um calendário para viver o ano de uma forma artística, poética e mágica.
Onde Comprar*: Zéfiro
Análise: Quem anda pelas comunidades pagãs portuguesas de certeza que já viu estes livros! Ou em bancas à venda, ou na internet, partilhado por amigos, recomendados por outros praticantes, etc. Estes livros foram muito importantes nas nossas comunidades pagãs nos anos entre 2009 e 2014 e, ainda hoje em dia, têm impacto. Para começar, foram das primeiras agendas/almanaques voltados para Paganismo e Bruxaria que estavam disponíveis em Portugal e a um preço muito acessível. Os dois primeiros volumes, de 2009 e 2010, vieram até com um marcador de livros que tinha informação útil para acompanhar-nos ao longo dos nossos dias e leituras de outros livros. Cada livro/ano fica atribuído com uma temática: 

2009: Usos e Costumes Mágicos da Lusitânia
2010: Nos Trilhos Mágicos do Xamanismo
2011: No Bosque Sagrado dos Druidas
2012: A Roda Sagrada do Ano Mágico
2013: Não foi editado um almanaque neste ano, mas foi editada a Agenda Pagã "Ishtar".
2014: O Caminho Mágico do Wicca

Cada livro aborda a sua respectiva temática, com artigos por parte de vários autores da comunidade portuguesa, dando aos livros uma diversidade no tipo de conteúdos publicados e permitindo ver opiniões e formas de trabalhar de várias pessoas. Os livros estão também recheados de dicas para variadas atividades como construção de tambores (no Almanaque de 2010) ou receitas de incensos (Almanaque de 2012). Outros contém entrevistas, como é o caso do Almanaque de 2014 que tem uma entrevista com a Maxine Sanders sobre a Wicca! 

Estes são livros que, na minha opinião pessoal, marcaram bastante uma geração de Bruxes Portugueses e, ainda hoje, servem de fonte de conhecimento para muitos praticantes e pessoas interessadas. São obras que realmente recomendo fazerem parte da estante de cada um de nós, porque têm muito a acrescentar ao nosso caminho! 

E vocês? Já leram? Que acharam? 

* Os links fornecidos podem pertencer a 'Affiliate Programs' e geram uma taxa de lucro ao Sob o Luar. Não existe qualquer despesa adicional para o comprador. 

Hoje voltamos a falar de Scrying e vamos falar de como criar um espelho para fazer este método divinatório.

Voltamos à nossa série sobre Conceitos e vamos falar de Helenismo ou Reconstrucionismo Helénico! Este caminho tem um lugar muito especial no meu coração e espero fazer-lhe justiça com este texto.

Hoje vamos falar dos principais erros que cometemos quando estamos a começar a estudar sobre Paganismo e Bruxaria e como podemos evitá-los! Estes são apenas alguns dos principais erros que tenho visto nos últimos tempos nas comunidades pagãs e bruxas que frequento. Acredito que haja mais ou até que muita gente nem cometa estes erros, contudo, é importante falar deles, pois permite desmistificar um pouco as coisas para quem está a começar e, ao mesmo tempo, orientar e dar alguns pontos de partida para quem ainda não sabe bem como se orientar. 

  • Tentar encontrar Mestres ou Professores sem ter bases de Paganismo ou Bruxaria
Quem lê o Sob o Luar com frequência sabe que este é um ponto no qual eu foco bastante e temos mais do que um texto que aborda esta temática (principalmente este). Isto porque foi um dos meus grandes erros e quero evitar que outros caiam na mesma asneira que eu caí. E porque é que isto é um erro? Bem porque muita gente tenta procurar um professor ou um mestre para lhe ensinar coisas mas nem sabe ao certo o que quer aprender. Apenas quer aprender algo. Isto abre a porta a imensos perigos. Como já falámos anteriormente existem pessoas más em todas as comunidades e o Paganismo e a Bruxaria não são imunes a estas presenças. Muitos predadores estão nas nossas comunidades (infelizmente!) e aproveitam-se de pessoas que estão a começar, não sabem muito e tentam moldar as mesmas aos seus "ensinamentos" (que de ensinamentos têm muito pouco...). Antes de procurarem um Professor ou um Mestre, façam pesquisas, investiguem, leiam, aprendam as bases. Vivemos numa época tecnológica e temos todo o conhecimento na palma da mão, temos de aproveitar! E, mesmo após terem as bases, se quiserem procurar alguém para vos ensinar, façam várias verificações, perguntem às pessoas que os conhecem, vejam-nos interagir com as comunidades pagãs, vejam se pertencem a alguma organização de confiança e que possa dar garantias do seu trabalho. Não confiem cegamente! 

  • Colocar demasiado significado nas redes sociais e os seus conteúdos
Há quem diga que este ponto é apenas uma diferença geracional, contudo, discordo. Não vou negar que as redes sociais são uma boa fonte de entretenimento e até de algum conhecimento, contudo, não são fonte exclusiva para constituir ou trilhar um caminho pagão ou bruxo. Depender exclusivamente das redes sociais e de Tumblr, TikToks, Youtube e Pinterest não é um bom método de trabalho. LER é essencial, por mais que não gostem ou não o queiram fazer. O consumo de conteúdo pagão ou bruxo nas redes sociais deve sempre ser suplementado com livros, com convívio nas comunidades pagãs e com experiência prática. Ser bruxa apenas porque seguimos o TikTok e não fazemos absolutamente mais nada não é ser Bruxa, é apenas ser uma fã de vídeos de internet. A Bruxaria é, e sempre foi, um caminho que requer trabalho e dedicação e isto implica ler, investigar, praticar, treinar, etc. Requer um trabalho ativo e não apenas passivo de fazer scroll num telemóvel

  • Não aceitar críticas ou questões acercas das suas práticas e estudos 
Este comportamento não é só presente em iniciantes mas em todos os tipos de praticantes, contudo, vou-me focar no caso dos iniciantes (mas aplica-se a toda a gente porque reflexão crítica é sempre bom). Mais do que uma vez já tive encontros com praticantes que, quando lhes é feita uma pergunta sobre a sua prática ou até se pergunta que tipo de livros é que leram, ficam extremamente ofendidos, chegando a sair dos espaços e a afirmar que "não gostam que duvidem da prática deles". Acho que temos de mudar este mindset: Não se trata de duvidar da prática alheia, trata-se de perguntar. Seja por curiosidade, porque nunca ouvimos falar daquela prática ou daquele tipo de trabalho ou, em alguns casos, para corrigir informação incorreta (que pode acontecer a qualquer um! Pessoalmente já tive comentários e até dicas de colegas de comunidade sobre informações erradas que eu pensava estarem corretas e agradeço mil vezes o feedback!). Estarmos abertos a feedback e a debates é bastante saudável. Não só nos permite entender e trabalhar melhor o nosso caminho como também aprender com a prática dos outros e com as suas opiniões. E, no caso de iniciantes, é excelente para corrigir informações que podem estar incorretas! Ninguém sabe tudo e todos podemos errar e devemos estar abertos a este tipo de reparos, porque os mesmos servem para nos ajudar a crescer e não para nos rebaixar. 

  • "Viajar na maionese"
Não sei se hoje em dia ainda se usa o termo "viajar na maionese" mas era um termo muito utilizado nas comunidades pagãs luso-brasileiras há alguns anos atrás. Basicamente significa estar a acreditar em algo que não é necessariamente verdade, estar a ir nas invenções da nossa mente. Isto é especialmente comum dentro das redes sociais como o TikTok. Desde pessoas que vão às compras com Divindades, praticantes que dizem que fazem guerras no Astral, até iniciantes com 2 meses de prática que vão para "os Salões dos Deuses" através de viagens astrais, iniciantes a dizer que "namoram" com Divindades e que "A Divindade X vai castigar-te porque comentaste coisas más no meu vídeo" e outras mil e uma histórias que já ouvi. O TikTok (e outras redes sociais) acabam por levar os iniciantes a acreditar que o Paganismo e a Bruxaria são como aventuras de Hollywood e que os Deuses são os BFFs. Não é verdade. É preciso saber distinguir a realidade da ficção (e planeio ter um artigo no futuro exclusivamente dedicado a esta temática) e saber entender o que é a nossa prática e é real, e o que é da nossa imaginação. Isto aplica-se também na temática dos Sinais das Divindades, dos quais já falamos aqui no blogue anteriormente. Há que saber distinguir as coisas e saber levar as coisas a sério e com o respeito que lhes é devido.

Estes são os quatro pontos principais, não quero fazer um texto muito longo mas sou capaz de revisitar esta temática com uma "Parte 2" no futuro, quem sabe! E vocês leitores? Que dicas dão a quem está a começar? 

Crédito de Imagem: Unsplash (Edz Norton)

Nome do Festival: Mabon (pronuncia-se “má-bon”) ou Equinócio de Outono
Data Tradicional: 21/22 ou 23 de Setembro (No Hemisfério Norte) ou 21/22 ou 23 de Março (No Hemisfério Sul)
Data Astrológica: Sol a 0º de Balança (HN) ou Sol a 15º de Carneiro (HS)
Etimologia: O nome Mabon tem várias controvérsias devido à sua origem, pelo que recomendo a leitura deste e deste artigo. Neste artigo iremos usar apenas o termo "Equinócio de Outono". 
Correspondências de Cores: Laranja, vermelho, castanho, amarelo torrado, verde escuro e preto.

O Equinócio de Outono também chamado Sabbat de Outono, Festa do Milho-Rei e Alban Elfed, é o Segundo Festival das Colheitas. Tem lugar quando o Sol está a 0º de Balança (no Hemisfério Norte) e 0º de Áries (no Hemisfério Sul), ou seja, ocorre por volta de 21/22/23 de Setembro (no HN) e Março (HS). Os Equinócios são pontos de equilíbrio, onde a Luz e a Escuridão estão iguais. A partir desta data, o período escuro do ano começa e a escuridão vence uma vez mais. Relembro que escuridão não significa algo mau, é somente uma referência à falta da intensidade do Sol e o começo e vitória do Inverno. As noites tornar-se-ão mais longas e os dias mais curtos, até que o Deus nasça, em Yule.

O equinócio é sentido como sendo o fim da alegria do ano e, as cores das folhas douradas, agora começam a desvanecer e a cair com mais intensidade, deixando as árvores nuas e preparadas para o rígido Inverno que se aproxima. Nesta altura colhem-se as frutas e as uvas maduras e iniciam-se as chamadas desfolhadas do milho com os seus, subtis, mas presentes, comportamentos cerimoniais à volta do “Milho-Rei”. Esta é a altura da colheita do milho e em Portugal temos uma grande cultura, que já se está a perder, à volta do milho e da desfolhada do milho. O Milho-Rei (ou o Phallus de Fogo) é a espiga de milho de cor vermelha, que é muito rara. Dizem as tradições ibéricas dos camponeses que quem encontrar essa espiga tem de beijar todos os membros do sexo oposto. Este é um momento ideal para procurar mais sobre estas tradições e como as mesmas podem ser aplicadas à nossa actualidade pagã. 

O Equinócio de Outono, tal como Lughnassadh, também é considerado um dia de Acção de Graças Pagão. Muitos praticantes dizem ser em Lughnassadh, outros dizem ser em o Equinócio de Outono, vai depender da opinião e prática de cada um. Alguns dos alimentos típicos deste festival são os produtos que contenham milho e/ou trigo, pães, nozes, frutos secos, maçãs, raízes (cenouras, cebolas, batatas, etc.), romãs, tomates, etc. Quanto às bebidas é comum a Sidra e o Vinho. Recordamos ainda que temos um artigo sobre Bruxaria de Cozinha e o Equinócio de Outono, com mais informações sobre como aplicar a cozinha e a comida nesta celebração. 

O Altar é caracterizado pela presença de cores outonais (vermelhos, laranjas, castanhos, etc.), presentes na natureza. Também pode ser adornados com espigas de milho, cornucópias, folhas secas, maçãs, etc.

E vocês leitores? Como celebram esta festividade? 

Crédito de Imagem: Unsplash (Aarón Blanco Tejedor)

Hoje voltamos à nossa série de Conceitos e vamos falar de Druidismo! Neste caso vamos falar, mais especificamente, de "Neo-Druidismo", ou seja, a prática moderna de Druidismo e não a prática histórica atribuída aos povos da Bretanha em períodos pré-romanos. O Druidismo pode ser definido de várias formas e é um caminho bastante amplo. Uma das organizações mais famosas associadas ao Druidismo é a OBOD - Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas (e em PT) e os mesmos definem Druidismo como sendo:

"Druidry, or Druidism as it is also known, manifests today in three usually separate ways: as a cultural enterprise to foster the Welsh, Cornish and Breton languages; as a fraternal pursuit to provide mutual support and to raise funds for good causes, and as a spiritual path. Each of these different approaches draws upon the inspiration of the ancient Druids, who were the guardians of a magical and religious tradition that existed before the coming of Christianity, and whose influence can be traced from the western shores of Ireland to the west of France – and perhaps beyond." -- Druidry.org

Traduzido, será: "Druidismo manifesta-se hoje de três caminhos diferentes: Como um empreendimento cultural para promover as línguas galesa, córnico e bretã; como uma busca fraterna para fornecer apoio mútuo e arrecadar fundos para boas causas; e como um caminho espiritual. Cada uma dessas diferentes abordagens baseia-se na inspiração dos antigos druidas, que eram os guardiões de uma tradição mágica e religiosa que existia antes do advento do cristianismo, e cuja influência pode ser rastreada desde a costa oeste da Irlanda até o oeste da França - e talvez além."

Há quem considere o Druidismo como sendo uma religião, quem considere o Druidismo como sendo um caminho religioso e, inclusive, há quem considere o Druidismo como sendo apenas um caminho de conhecimento. Muitas vezes o Druidismo assume um papel importante na vida das pessoas que, por variados motivos, até se identificam com outras religiões diferentes (dentro e fora do Paganismo), acabando por gerar vários sub-caminhos como "Druidcraft" (Uma mistura entre Wicca e Druidismo) e outros. Para a grande maioria dos praticantes, o Druidismo assume-se como sendo um caminho espiritual principalmente voltado para o conceito espiritual e natural da vida. Muitos Druidas identificam-se com variadas formas de crença desde politeísmo, animismo, monoteísmo ou duoteístas sendo que todas estas visões da Divindade co-existem dentro das comunidades druídicas. Uma das principais características destas comunidades é o facto que as mesmas são muito tolerantes de outros caminhos e co-existem de forma fantásticas. Pessoalmente, acho que o Druidismo é dos caminhos em que melhor a co-existência religiosa se verifica. 

No Druidismo a Natureza assume um papel de destaque, quer a nível espiritual através de práticas e de conexões com a Natureza e tudo o que os rodeia, quer a nível fisico, através de variadas campanhas ou trabalhos voltados para a ecologia e o bem-estar animal. Isso está refletido nos "Seven Gifts" que a OBOD defende. Podem carregar no link anterior para ler mais acerca dos mesmos e nas próprias Crenças Druídicas. 

Uma boa forma de aprender Druidismo, principalmente se se identificarem com os príncipios e trabalhos da OBOD, é através de fazerem as formações que a OBOD disponibiliza. As mesmas estão disponíveis em Inglês ou até em Português, através da OBOD Portuguesa e permitem a interessados efetuar vários cursos dentro da OBOD, permitindo uma maior aprendizagem, e com um apoio certificado, do Druidismo que é disponibilizado pela mesma. 

Contudo, a OBOD não é a única forma de ser druida ou de praticar Druidismo! O Druidismo pode ser praticado de forma solitária e eclética, em pequenos grupos ou até noutras associações e grupos espalhados pelo Mundo fora. Não tenham medo de explorar, ver novos recursos e aprender mais. Nos nossos Recursos temos algumas recomendações acerca de Druidismo quer a nível de podcasts, blogues, livros e até canais de Youtube. O conhecimento está ao vosso dispor, basta esticar a mão e dar os primeiros passos! 

O que acham de Druidismo? É algo que vos interessa?

Crédito de Imagem: Unsplash (K. Mitch Hodge)

Hoje vamos falar de outro método divinatório e vamos falar de Scrying! Scrying é um método bastante antigo e bastante famoso entre vários praticantes de Bruxaria e pode ser bastante útil, principalmente para quem prefere métodos mais visuais e intuitivos para os seus trabalhos divinatórios ou oraculares sendo que até pode ser utilizado para contacto com divindades e outros usos. 

Scrying é, para todos os efeitos, a arte de visualizar coisas e mensagens em superficies espelhadas sendo que as mais comuns são  a bola de cristal ou o espelho negro. Contudo pode também ser feita com água, com fogo ou até com um espelho normal, dependendo do praticante e daquilo que for mais prático ou acessível. Este é um método que requer bastante concentração e prática, podendo demorar muito tempo a ser dominado e a devolver resultados, contudo, não é impossível! 

Este método é conhecido, na media em geral, como sendo o método utilizado por Bruxas famosas como as da Disney e de outros filmes e séries para descobrir coisas. Desde a bola de cristal da Bruxa Má do Oeste no Feiticeiro de Oz até ao Espelho da Rainha Má da Branca de Neve, este é dos métodos divinatórios mais famosos e mais facilmente identificáveis, contudo, não é dos mais fáceis de aprender. É muito fácil deixar-nos cair no erro de acreditar ou até de forçar imagens na nossa mente quando estamos a trabalhar com as ferramentas de scrying e a necessidade de saber distinguir o que realmente estamos a ver e o que estamos a imaginar é um dos principais talentos a desenvolver para esta prática divinatória. 

Este método pode ser utilizado tanto para previsões ou adivinhação ou, de forma ainda mais desenvolvida, pode ser utilizado para trabalho interno da nossa prática, seja para comunicação com divindades ou para sessões de auto-conhecimento. Uma boa recomendação quando estamos a trabalhar com esta ferramenta é ter um gravador ou um telemóvel a gravar áudio para que possamos falar alto o que estamos a ver e, dessa forma, ficar com um registo em formato de áudio. Este método de registar acaba por ser mais fácil porque não temos de parar de olhar para o espelho ou para a água ou bola de cristal para escrever o que estamos a visualizar. 

Como falei, Scrying pode ser feito em várias superfícies: Bolas de cristal (variados cristais mas por norma é preferencial o Quartzo Hialino ou até o Vidro), tigelas ou recipientes com água, chamas de velas ou de fontes de fogo, espelhos negros (muito tradicionalmente utilizados na Bruxaria Moderna) ou espelhos normais, entre outras. 

Em artigos futuros dentro deste método divinatório irei ensinar a criar o próprio espelho negro e como fazer scrying com o mesmo, mantenham-se atentes! 

Crédito de Imagem: Unsplash (Halanna Halila)

Hoje vamos continuar com uma nova série de artigos que se irão espalhar ao longo dos próximos tempos em que vamos abordar várias divindades, de vários panteões. Vamos falar sobre os seus mitos, as suas associações e um pouco da sua história. Estes artigos não têm como objectivo substituir a investigação sobre as divindades mas sim despoletar interesse e, também, fornecer alguns pontos de partida para iniciar contacto com as Deusas e Deuses de que falaremos. 

As informações contidas nestes artigos não são suficientes para sustentar uma prática de culto a uma divindade e investigação adicional é sempre necessária. No fundo de cada artigo deixamos uma lista de sites e livros recomendados sobre cada divindade, de forma a que possam explorar mais sobre cada Deusa e Deus que falamos aqui. Ao longo do artigo vamos deixando também links para informações adicionais e explorações aprofundadas de certos tópicos. 

***

Nome: Artémis (Αρτεμις)

Panteão: Grego

História e Mitologia: Artémis é filha de Leto e irmã gémea de Apollo. A sua mãe engravidou de Zeus e foi perseguida por toda a Grécia, ao longo da gravidez, pela Deusa Hera, enraivecida pelo nascimento de dois novos filhos ilegítimos de Zeus. Leto encontrou refúgio na ilha de Delos onde finalmente deu à luz os seus filhos, primeiro Artémis e depois Apollo, cujo nascimento foi apoiado pela sua irmã. Artémis é a Deusa olímpica da caça e dos animais selvagens. Está associado a tudo o que é selvagem, como florestas e habitats de animais não-domesticados. É uma Deusa também associada ao nascimento e ao parto, dado o seu papel na ajuda do nascimento do Deus Apollo. Sobre a sua proteção encontram-se todas as jovens raparigas até à idade de casamento, dado que Artemis é uma Deusa Virgem que recusa o casamento e vive em liberdade com as suas caçadoras pelas florestas da Grécia. Existem vários mitos associados a Artémis como o mito de Callisto uma das criadas de Artemis que foi seduzida por Zeus e, consequentemente, transformada num urso por Artémis, temos também o mito de Orion um gigante companheiro da Deusa que foi morto por Artémis por engano e eternamente imortalizado nas estrelas como a constelação Orion. Há ainda o mito de Actaeon que espiou a Deusa e as suas caçadoras e, como castigo, foi tornado num veado e perseguido e morto pelos seus cães. 

Celebrações: O culto de Artémis era espalhado por toda a Grécia, com inúmeros templos e altares espalhados pelas cidades e, principalmente, nas zonas mais rurais. Os principais templos de adoração a Artémis eram os de Brauron na Ática (Atenas) e de Caryae em Lakedaimonia. Alguns dos principais festivais associados a Artémis são o MOUNYKHÍA (Μουνυχία - neste festival Artémis é honrada como Deusa da Lua e a Senhora das Feras), BRABONEIA, ARTEMISIA, BRAURONIA (celebração realizada a cada 5 anos em Brauron) e ARTEMIS AGROTERA (Άρτεμις Άγροτερα - nesta celebração honrava-se o papel de Artémis como Deusa da Caça).

Geneologia: Filha de Zeus e Leto, é irmã gémea do Deus Apollo e foi a primeira a nascer, tendo auxiliado no parto do seu irmão gémeo. 

Epítetos: Dǽspina (Senhora, Rainha), Diana (nome romano para Artémis), Évdromos (A veloz), Kóri (Jovem), Lokheia (A que ajuda no parto), Nyktæróphitos (A que caminha na noite), Philomeirax (amiga dos jovens), Thiroktónos (Caçadora de Bestas Selvagens).

Símbolos: Arco e flecha, lanças de caça, tocha, lira, jarro de água. É representada como uma jovem menina vestida com uma túnica e, por vezes, acompanhada por corças ou veados. Pode também ter um manto e um capacete e, por vezes, pele de veado pelas costas. Os símbolos ou imagens de animais selvagens são lhe também atribuídos como importantes no seu culto. 

Leitura Recomendada: 

Theoi - Artemis
Hellenic Gods - Artemis
"Teogonia" de Hesiodo
"Artemis" de Sorita d'Este
Hino Homérico a Artemis (Nº 9)

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Voltamos à nossa série de artigos e hoje vamos falar sobre a Wicca, um dos caminhos mais famosos do Neo-Paganismo e da Bruxaria Moderna! 

A Wicca surgiu como religião na década de 1950, após a última lei que proibia e castigava a prática de Bruxaria na Inglaterra ser abolida. Este surgimento da Wicca deveu-se a Gerald Gardner. A Wicca, ao contrário da ideia popular, não é a reconstrução de uma Antiga Religião Pagã Celta do Neolítico ou de outro período pré-histórico. Ela foi "compilada", à falta de melhor termo, por Gerald Gardner, com base nos seus estudos ao longo dos anos, na sua participação em grupos de Bruxaria Tradicional Folk Britânica, no seu conhecimento de ordens como a Golden Dawn, Maçonaria, Thelema e outras. A Wicca é uma religião bastante recente na sua organização e não é uma imitação ou reconstrução dos caminhos celtas ou pagãos de antigamente. Este facto não é motivo para considerar a Wicca menos religião do que outro caminho. Não são as origens de um caminho que o fazem mau ou bom. 

A Wicca é um culto duoteísta que se concentra em duas divindades: A Deusa e o Deus. Estas duas divindades possuem diversas faces, podendo ser encaradas como Deusa e Deus ou como um outro Casal Sagrado, presente numa mitologia à escolha do praticante. Na Wicca são celebrados os 8 festivais da Roda do Ano (Samhain, Yule, Imbolc, Ostara, Beltane, Litha, Lughnassadh e Mabon) que são as celebrações da Natureza e a passagem das estações, associadas ao Mito da Roda do Ano, que poderá ser visto na secção das Celebrações. Para além destas festividades, na Wicca ainda se celebra os Esbats que são celebrações de Lua, sendo que são realizados rituais ou celebrações relacionados com cada fase da Lua em questão. Existem vários textos que são considerados importantes dentro da Wicca como a Carga da Deusa, a Carga do Deus, a Rede Wiccana, entre outros, pelo que recomendo a leitura dos mesmos a todos os interessados. 

A Wicca é dividida em duas principais ramificações: Wicca Tradicional e Wicca Moderna. A Wicca Tradicional é a vertente mais antiga, baseada nos trabalhos de Gerald Gardner e de Alex Sanders sendo que é bastante rígida e conta com a presença das Leis Wiccans, obrigatoriedade de ritos 'skyclad', entre outros aspectos. A Wicca Moderna, como o próprio nome indica já conta com um método mais aberto, dado que é a junção de todos os novos caminhos que surgiram e ainda surgem dentro da Wicca e que contam com uma maior liberdade de trabalho e com a presença, em vários casos, da "auto-iniciação", conceito introduzido por Raymond Buckland. Como falei, a Wicca é uma religião iniciática e sacerdotal, ou seja é uma religião que necessita iniciação e todo o iniciado é Sacerdote ou Sacerdotisa. Neste aspecto da Wicca existem diversos debates. Gardnerianos defendem que apenas aquele que é iniciado num coven de linhagem tradicional é realmente Wiccano. Mas com o surgimento de novas tradições, várias pessoas (Raymond Buckland, por exemplo) vieram mudar a opinião do Mundo quanto a este aspecto.

Na Wicca existe, como em todos os lados, diversas controvérsias, A Iniciação ou Auto-Iniciação é uma delas. Não me sinto capacidade para opinar sobre o assunto, contudo, irei dar as informações bases em torno deste debate: A Wicca é, tradicionalmente, um caminho iniciático e sacerdotal (isto significa que é um caminho no qual a Iniciação é obrigatória e todo o iniciado é Sacerdote). A controvérsia em torno deste assunto trata-se que a vertente tradicionalista acredita e defende que a Iniciação deverá ser feito dentro de um coven estabelecido e com todas as regras que isso incluí, enquanto grande parte da vertente Moderna defende o conceito de "auto-iniciação". 

Para terminar, gostaria de deixar aqui neste artigo é uma lista de Recursos sobre Wicca, com um enfoque na Wicca Tradicional, e considero ser essencial para qualquer interessado nesta temática! 

Crédito de Imagem: Unsplash (Halanna Halila)
Capa do Livro
Título: Pagan Portals - Hellenic Paganism
Autor(es): Samantha Leaver
Pontuação: ★★★★☆
Descrição: O Paganismo Helénico tem crescido em interesse há vários anos e tem-se tornando uma forte presença no Neo-Paganismo. Como acontece com a maioria dos caminhos, existem muitas práticas diferentes no mundo helênico, todas sustentadas pelos valores e pela ética do que se entende ser o modo de vida helênico. Isto inclui praticantes que simplesmente acreditam e trabalham com Theoi e aqueles que tentam a difícil tarefa de reconstruir essa religião muito rica e desafiante. O paganismo helênico explora a revitalização e modernização da vida grega antiga.
Onde Comprar*: Scribd (Ativa dois meses grátis!)
Análise: Antes de começar esta análise gostaria só de esclarecer que, apesar de nas minhas redes sociais pessoais ter dado 5 estrelas a este livro, aqui no Sob o Luar, optei por apenas dar quatro e irei explicar o motivo: A prática da autora é um equilíbrio entre a prática da Bruxaria Moderna e o Paganismo Helénico, contudo, e como a autora refere ao longo do livro, a Bruxaria nem sempre é vista com bons olhos por parte de Reconstrucionistas ou Revivalistas Helénicos dado o papel que a mesma tinha na Antiguidade. Por isso, este livro não é recomendável se o objetivo do leitor for ler sobre práticas reconstrucionistas exactas da religião Helénica. 

Agora que já deixamos claro esta informação, vamos passar à análise do livro! Como falei, o livro é muito baseado na gnose pessoal e na prática individual da autora, tal como é comum a todos os livros da série de Pagan Portals, e não deve ser lido como um livro de "how-to" mas sim um livro para ver e conhecer práticas de outros praticantes e a forma como os mesmos expressam a sua religiosidade. Eu tenho um carinho especial por este tipo de livros, principalmente referente a caminhos mais complicados de obter informação, como é o caso do Paganismo Helénico. 

No geral, no que diz respeito às informações concretas sobre o Paganismo Helénico, gostei bastante da forma como a autora explica as coisas, dando várias fontes ao longo do livro, efetuando várias referências quer para historiadores, autores clássicos e, muito importante, a praticantes e grupos de Helenismo como é o caso de LABRYS, Elaion, Hellenion e outros praticantes. 

Também a bibliografia do livro é rica em recursos e recomendações literárias que podem (e devem!) ser investigadas a fundo, se este for um dos tópicos de interesse do leitor, principalmente porque todas as recomendações dadas pela Samantha Leaver, quer ao longo do livro, quer na secção da bibliografia são, a meu ver, muito boas e de autores e praticantes de confiança que fornecem informação e conteúdos para as comunidades helénicas à bastantes anos. 

No geral, este é um livro bastante bom para quem tem interesse em aprender como um praticante de Paganismo Helénico (com influências de Bruxaria Moderna) faz a sua devoção aos Theoi e a sua prática individual. Não recomendo o livro enquanto livro introdutório ao Paganismo Helénico, para isso, recomendo mais verificar os grupos acima referidos e, também, a nossa secção de Recursos aqui no Sob o Luar.

E vocês? Já leram? Que acharam? 

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Este trabalho é dedicado às Senhoras Ἑκάτη (Hekate) e Περσεφόνη (Persephone)

Sob o Luar by Alexia Moon/Mónica Ferreira is licensed under CC BY-NC-ND 4.0