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Sob o Luar


No passado dia 4 e 5 de Novembro de 2023 realizou-se em Reguengos de Monsaraz, no Centro Druídico da Lvsitânea, o 1º Encontro Ancestral: Jornadas de Paganismo em Portugal. Este encontro foi organizado pelo Templo de Inanna e Astarté e pela Assembleia da Tradição Druídica Lusitana e com a Coordenação de COARCI - Conselho de Antigas Religiões e Cultos da Ibéria. 

O Sob o Luar teve o prazer de participar a convite do Templo de Inanna e Astarté e fez parte da Mesa Redonda - Impacto do Paganismo e das Comunidades Pagãs em Portugal e, juntamente com a Comunidade Paganices, teve a oportunidade de apresentar uma nova edição dos Seminários de Bruxaria Contemporânea, desta vez focando-nos na Feitiçaria e Bruxaria em Portugal! 

Primeiro Dia - 04 de Novembro de 2023


O dia começou cedo pelas 08:30h da manhã com uma receção e pequeno-almoço preparado pelos membros da ATDL e foi seguido pela Abertura oficial do 1º Encontro Ancestral, que contou com palavras do Arqui-Druida Adgnatios Kuridai da ATDL e da Mariana Vital, Sacerdotisa do Templo de Inanna e Astarté que nos deram as boas-vindas e apresentaram o programa para o evento. 

O restante da manhã foi espaço para o Ciclo de Palestras COARCI: Paganismo em Portugal, onde tivemos a oportunidade de ouvir quatro apresentações: 

  1. As transmutações da Roda do Ano Céltica Lusitana por Arqui-Druida Adgnatios Kuridai
  2. Xamanismo Ibérico por Carla Mourão
  3. Assembleia da Tradição Druidica Lusitana por Adgatia Vatos 
  4. Cultos Fenícios e Ibéricos em Portugal por Mariana Vital
Após um delicioso almoço, cortesia da ATDL, passamos para a parte da tarde que, apesar da chuva que se fez sentir, foi recheada de de atividades! Começamos pela segunda edição dos Seminários de Bruxaria Contemporânea onde tivemos a oportunidade de participar num ritual criado por Amala Oliveira da CASA Sagrar e onde a mesma nos falou acerca das "Memórias da Antiga Tradição preservadas no quotidiano das avós". Logo de seguida, e ainda dentro dos Seminários da Bruxaria Contemporânea, foi a apresentação de Karagan Griffith, Alto-Sacerdote da Wicca Alexandrina do Coven de Tomar - Linha de Queensberry, acerca do "Movimento Alexandrino no Mundo e Portugal" onde nos apresentou esta Tradição da Wicca, a sua história e partilhou connosco alguns vídeos.

No fim dos Seminários, tivemos uma atividade de Oficina de Barro guiada por Medeia, onde os participantes tiveram oportunidade de criar o seu Totem Ancestral. Após um pequeno lanche, celebrou-se o Rito Ancestral de Samónios no espaço sagrado da ATDL, cujas fotos podem verificar na página oficial da ATDL. 


Para terminar o primeiro dia deste evento, tivemos um Concerto Bárdico pelos bardos da ATDL e um Espetáculo de Fogo deslumbrante cortesia da Rita Duarte e do Luís Barbas. Ao longo do dia, tivemos disponível uma Mostra de Artesanato de vários artistas pagãos portugueses como Under the Moon Strings, Portal de Hécate, Fora Deste Mundo, Medeia, Retorno da Deusa, Bosque de Drusuna e o hidromel e livros da própria ATDL. 

Segundo Dia - 05 de Novembro de 2023

O segundo dia deste evento iniciou-se pelas 09h da manhã com um pequeno almoço, cortesia dos elementos da Assembleia da Tradição Druídica Lusitana, seguindo-se o Lançamento da Revista da Tradição Lvsitana Centro de Estudos Druídicos. Ao longo do dia estava também disponível uma Mostra Literária que contava com a presença do Centro de Estudos Druídicos, Morgana da Lusitânia, Karagan Griffith, Jimahl Di Fiosa, Amala Oliveira e Mora Sininho Rosa. 


Durante a manhã tivemos a primeira Mesa Redonda do dia com a temática "Movimentos Emergentes no Paganismo em Portugal" que contou com a participação de Mora Sininho Rosa, Joana Martins e Natasha Mirra, com moderação de Mariana Vital. Nesta mesa falou-se da forma como o Paganismo é visto e reconhecido pelas novas gerações, da importância das redes sociais e do seu impacto no movimento pagão, das questões socioambientais que atravessamos de momento e da definição de Paganismo no espaço e tempo atual. 


Após a Mesa Redonda seguiu-se o almoço, onde os participantes tiveram a oportunidade de conviver e trocar opiniões acerca dos debates que ocuparam a manhã e se prepararem para a segunda Mesa Redonda, que se iniciou no período da tarde. A segunda Mesa Redonda contou com a participação de Adaltena (ATDL), Mariana Vital (Templo de Inanna e Astarté), Carla Mourão (Retorno da Deusa), Alexia Moon (Sob o Luar) e Karagan Griffith (Coven de Tomar), com moderação de Natasha Mirra. Nesta mesa abordou-se a temática "Impacto do Paganismo e das Comunidades Pagãs em Portugal" e debateu-se a evolução das comunidades pagãs no nosso país nos últimos anos, as reflexões das mudanças e desafios que cada um dos participantes enfrentou e enfrenta no seu trabalho com a comunidade pagã e várias reflexões acerca do que é a comunidade e como a comunidade deve ser trabalhada e coexistir entre si. 

No final da última Mesa Redonda, procedeu-se à entrega dos prémios do 1º Concurso de Poesia Pagã, cujos resultados podem ser verificados na página oficial da Assembleia da Tradição Druídica Lusitana! Parabéns a todes vencedores!

No final, após umas palavras de fecho da organização, partilhou-se de um hidromel e deu-se por encerrada a primeira edição do Encontro Ancestral! Esperamos que haja oportunidade de serem feitos mais eventos similares em Portugal e estamos à espera da próxima edição!

E vocês, foram? O que acharam?

Um dos temas que me foi pedido no Instagram do Sob o Luar foi para falar sobre a apropriação cultural e como evitar a mesma na nossa prática. Antes de começar, vamos definir o que é apropriação cultural: 

Segundo Arnd Schneider (2003) a apropriação cultural é a adoção inadequada ou não reconhecida de um elemento ou elementos de uma cultura ou identidade por membros de outra cultura ou identidade. Isso pode ser controverso quando membros de uma cultura dominante se apropriam de culturas minoritárias.

Alguns exemplos de apropriação cultural são, por exemplo, os disfarces de "índios" que se vêm durante o Carnaval ou Halloween que são uma clara ofensa aos povos nativos-americanos. Ou a utilização do termo "smudging" para significar limpeza de um local, sendo que esse termo é exclusivo de tribos índígenas onde smudging não é apenas queimar ervas para limpar uma casa, mas todo um ritual específico dentro desta cultura. Existem diversos exemplos de apropriação cultural, de diversas culturas, que acabam por estar presente, infelizmente, em nosso redor. Contudo está no nosso poder (e dever!) garantir que não as propagamos e, aliás, que educamos as pessoas à nossa volta para não compactuar nestes comportamentos. 

É também importante distinguir que existem diferenças entre o termo de "apropriação cultural" e o termo "prática fechada". Uma prática fechada é, por norma, uma prática que requer iniciação dentro da mesma e que não pode ser praticada fora desses grupos ou tradições. Não quer dizer que a pessoa X ou Y não a possa praticar mas, para o fazer, terá de ir ter com esses grupos, introduzir-se nas suas culturas, socializar, conhecer as pessoas e, se o grupo em causar a aceitar, então aí tratar desse processo. 

Agora, a grande questão: Como evitar praticar apropriação cultural? 

Acima de tudo entendendo de onde vêm as coisas que estamos a praticar. Quando estamos a aprender sobre Bruxaria e Paganismo e vemos algo que gostaríamos de incorporar na nossa prática é essencial investigar sobre esse assunto e, acima de tudo, entender as suas origens (e, dessa forma, acabamos por entender também o seu funcionamento). Obviamente que uma prática que seja comum em todo o espaço europeu não vai ser um caso que possa ser apropriado culturalmente porque faz parte da cultura de todo um continente que possui um papel dominante na sociedade ocidental. Ou uma prática que seja de uma cultura morta (como Antigo Egipto ou Roma Antiga), porque não há uma cultura minoritária a ser afetada, porque a mesma já não existe há milhares de anos (ao contrário do que muitos grupos nacionalistas dentro das comunidades possam tentar alegar). Mas se calhar, se for uma prática de uma tribo indígena sul-americana já se trata de uma apropriação cultural, principalmente se essa cultura for abertamente contra essa prática (que é o caso de algumas práticas africanas ou de tribos indígenas brasileiras que se vêm apropriadas). 

Esta é, sem dúvida, uma área na qual é preciso trabalho ativo. Não há forma de ter uma lista com todas as coisas que não podem ser apropriadas culturalmente porque isso seria impossível. É preciso ler e investigar o assunto (O google é uma excelente ferramenta o TikTok/Tumblr nem por isso) e ver, acima de tudo, testemunhos de pessoas que fazem parte das culturas afetadas para entender o feedback delas. Em caso de dúvida, podemos sempre participar em comunidades online e questionar os outros para tentar aprender (principalmente questionar pessoas dessas culturas porque não é alguém como eu - branca e europeia - que vos vai conseguir falar em nome de uma cultura à qual eu não pertenço). E em caso da dúvida se manter, podemos sempre abster-nos de certas práticas ou, melhor ainda, substitui-las por coisas mais perto de casa! Por exemplo, voltando ao caso do smudging: Ao invés de querermos queimar sálvia branca ou palo santo (que são duas plantas que estão a ser exploradas em excesso ao ponto de estarem em risco e, também, utilizadas originalmente por povos nativo-americanos) para limpar a casa porque não usarmos plantas locais de Portugal? Temos o alecrim, a arruda e a sálvia comum que fazem exatamente o mesmo papel e são plantas presentes no nosso ecossistema local. Não só estamos a evitar sobre-exploração de uma planta, evitar apropriação cultural como ainda estamos a conectar-nos com a nossa flora local, utilizando plantas nativas da zona onde vivemos. 

Por fim, gostava de recomendar um artigo (em inglês) que li sobre a temática: "Cancelled for Renovations: More Thoughts on Closed Practices". Espero ter ajudado a esclarecer um pouco mais este tópico e sintam-se à vontade para dar as vossas opiniões (respeitosas, porque qualquer comentário extremista nem será aceite) nos comentários! 

Nota: Um agradecimento especial à Sininho que me ajudou a rever este texto! :) 

Um dos tópicos de bastante conversa e controvérsia nas nossas comunidades pagãs em geral é o tópico do Sacerdócio. Um Sacerdócio, dentro do Paganismo, pode significar várias coisas, ser alcançado de várias maneiras e pode dar discussões de vários assuntos. Este artigo não pretende desvalidar ou validar qualquer tipo de Sacerdócio e é apenas um artigo sobre acerca do que é o Sacerdócio e dar alguns exemplos de tipos de Sacerdócio. Para uma reflexão acerca da validez de Sacerdócios e de Iniciações, podem consultar este artigo aqui no blogue.

Um livro que recomendo muito sobre esta temática é o A Practical Guide to Pagan Priesthood, que já analisei aqui no blogue, e que acho ser uma leitura essencial para quem está interessado neste tipo de temática. 

Mas então, o que é um Sacerdócio? A definição de Sacerdócio é "Conjunto das funções e dignidade do ministro/sacerdote de um culto qualquer" . E um ministro/sacerdote é "Pessoa que fazia sacrifícios às divindades". OU "Pessoa que ministra os sacramentos de uma igreja." (definições de Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). Ou seja, um Sacerdócio é o nome dado ao trabalho de um Sacerdote que é, para todos os efeitos, uma figura que presta serviços ou sacríficios a um determinado grupo religioso. Um exemplo comum de sacerdote é um padre de uma paróquia, por exemplo.

Dentro do Paganismo temos vários tipos de Sacerdócios. Temos Sacerdotes dentro da Wicca, onde é feito um período de treinamento e são feitos votos sacerdotais que podem ser renovados dependendo da súbida de níveis dentro da Tradição. Temos também dentro do Druidismo algumas organizações onde são feitos votos sacerdotais de serviços à comunidade. Dentro da Fellowship of Isis temos a possibilidade de ser realizado um Sacerdócio de forma a ser prestado trabalhos à comunidade em nome de Divindades (idealmente femininas). Também dentro da tradição de Glastonbury Goddess Temple, por exemplo, existe treinamento sacerdotal que concede títulos dentro da organização e da tradição em específico.

E existem muitas outras tradições e grupos religiosos que têm processos de treinamento que acabam por conferir graus sacerdotais (ou outros equivalentes, com nomes diferentes). A essência é a mesma: Alguém fica capacitade para servir a comunidade, dentro daquela tradição e nos moldes da mesma. E é, essencialmente, isso que é um Sacerdote/Sacerdotisa. Não se trata de um cargo por nome ou apenas para ter hierarquia sobre outra pessoa. É um cargo que representa um comprometimento com os Deuses e com a tradição onde ocorreu a iniciação, para prestar um serviço à comunidade e às Divindades. Este serviço pode ser prestado de diversas formas e há vários tipos de Sacerdotes e Sacerdotisas e várias formas de prestar os serviços. Pode ser através da organização de eventos para a comunidade, através do fornecimento de recursos, de acompanhamento de doentes ou pessoas em fim-de-semana, através de ajuda a grávidas e momentos de nascimento, acompanhamento emocional e de apoio à comunidade, através de serviços oraculares ou até de disponibilização do corpo como veículo para incorporações divinas, etc, etc. São imensas e variadas as formas como um Sacerdócio pode ser exercido e concretizado, dependendo apenas das pessoas envolvidas e dos moldes da tradição em que esta iniciação ocorre. 

Isto, para dizer, que um Sacerdócio não é algo que deve ser iniciado de ânimo leve. Acarreta um elevado nível de responsabilidade e de comprometimento por parte da pessoa que está a tomar os votos, porque vai estar a dedicar a sua vida ao serviço das Divindades e daquela Tradição, a partir daquele momento. Eu costumo dizer que é boa ideia comparar com os sacerdotes cristãos ou de outras vertentes mais estabelecidas: Um padre católico, por exemplo, faz vários sacríficios pessoais para exercer o seu cargo dentro da Igreja e assume um nível de responsabilidades e de comprometimento que, para todos os efeitos, é para a sua vida inteira. E um Sacerdote ou Sacerdotisa dentro do Paganismo deverá encarar o Sacerdócio da mesma forma. 

Mas sei o que questionam: "Se me tornar Sacerdote/Sacerdotisa, não posso desistir/parar?". Bem... Idealmente não, né? O ideal é que os votos sejam feitos para a vida. E é isso que a maioria dos Sacerdotes e Sacerdotisas faz, tal como os padres fazem. Mas, todos sabemos, que a vida é feita de mudanças e tal como há padres que saem da Igreja também há Sacerdotes/isas no Paganismo que acabam por sair dos seus serviços ou das suas tradições. Os moldes em que estas saídas saem são exclusivos de cada tradição e devem ser vistas dentro da mesma, pelo que não vou dizer o que faz ou deixa de fazer, porque vai depender de caminho para caminho. Mas, não podemos esquecer, que a tomada de votos sacerdotais é um comprometimento sério e deve ser levado com seriedade e conhecimento daquilo com que nos estamos a comprometer. 

E vocês, já conheciam? Conhecem Sacerdotes/isas? O que acham desta temática?

Hoje vamos falar de uma prática que se está a tornar mais comum dentro do Paganismo chamado "Veiling" ou "Velar" (da palavra "véu"). Esta prática é famosa em vários caminhos religiosos, como o caso de algumas vertentes do Islamismo e do Cristianismo (como é o caso das freiras em Portugal) mas também no Paganismo se tem vindo a verificar um aumento desta prática, principalmente dentro de cultos mais reconstrucionistas ou folclóricos, dadas as ligações às tradições ou à reconstrução de práticas antigas, onde o véu era um artigo comum.  

Existem vários propósitos para os quais podem ser utilizado o véu numa prática moderna Pagã, sendo alguns exemplos:

Ferramenta para honrar uma divindade em específico: Existem várias divindades que, no seus cultos originários, eram adoradas com o uso de véus ou em que os véus possuíam um papel de importância, como é o caso da Deusa grega Héstia (muitos praticantes modernos de Héstia utilizam o véu como uma parte ativa do seu culto). 

Como forma de proteção pessoal: Muitos praticantes consideram que o véu na cabeça serve como uma forma de proteção pessoal, dado que o tecido está a proteger o cabelo e a cabeça e, dessa forma, repele as energias negativas e aquilo que possam enviar para a pessoa. Adicionalmente, muitos praticantes que utilizam o véu como uma ferramenta de proteção, complementam o mesmo com sigilos costurados no próprio véu ou utilizando combinações de cores com propósitos específicos. 

Como forma de evitar contactos espirituais: Muitos praticantes que trabalham com espíritos ou mediunidade optam por utilizar um véu porque sentem que os protege contra espíritos ou outro tipo de seres que possam querer contactar com os mesmos. Neste caso, estes praticantes sentem que o véu funciona como um barreira entre o mundo espiritual e o mundo físico e que os ajuda a manter-se presos no mundo físico, evitando contacto com espíritos ou outros seres em momentos nos quais não querem contacto com os mesmos. 

Como forma de honrar os seus antepassados: Muitos praticantes, principalmente de países onde o uso do véu era comum antigamente (como é o caso de Portugal em que muita da nossa população idosa usava e ainda usa véus para ir à missa e em zonas mais rurais), é também comum que muitos escolham por incluir o véu na sua prática como forma de honrar os seus antepassados, podendo até chegar a usar véus que os próprios antepassados utilizavam, de forma a aumentar ainda mais a ligação com os mesmos. 

As formas de usar os véus são muito variadas e podem ser adaptadas ao tipo de prática e preferência de cada um: Praticantes mais reconstrucionistas vão optar por procurar formas antigas de ser utilizado um véu e vão optar por adaptar o seu uso com esses métodos enquanto praticantes mais voltados para práticas folk vão acabar por usar métodos mais modernos e presentes nas culturas as quais se encontram ligados. E, no geral, é possível tirar inspiração de qualquer sítio, sendo que existem vários sites e vídeos online com ideias para o uso do véu, das mais variadas formas. 

Um vídeo (em inglês, infelizmente) que recomendo muito sobre esta prática é o du ChaoticWitchAunt acerca do uso do véu na sua prática, que não só fornece várias fontes e recursos acerca da prática mas também fala da sua prática pessoal, que pode ajudar ou até inspirar alguns praticantes que possam estar interessades!

E vocês, já conheciam esta prática? O que acham?

Hoje vamos falar de um tópico que é sensível mas importante de ser referido nas nossas comunidades: A ética por detrás dos cristais e de (algumas) plantas. 

Muitos de nós quando começamos a praticar Bruxaria (ou Paganismo) sentimo-nos rapidamente atraídos pela quantidade enorme de cristais bonitos e muitas cores que vemos nas lojas esotéricas e nos feeds das redes sociais de outros praticantes. E, é normal, que acabemos por começar a comprar os nossos próprios cristais, começar a nossa própria coleção e começar a trabalhar com eles. Mesma coisa com as plantas, vemos alguém a queimar sálvia ou palo santo e achamos que temos de ter aquilo ou a nossa prática "não é tão boa" ou "não é completa". E como estamos no início, nem nos lembramos de investigar mais sobre estas coisas e se realmente as devemos fazer. E é disso que venho falar hoje. 

Começando pelos cristais, porque razão é que devemos ter atenção à forma como compramos e adquirimos cristais? A maioria dos cristais são minados em minas espalhadas pelo mundo inteiro, com principal foco em países da América do Sul, Ásia ou África. É comum que muitas destas minas alberguem trabalhadores em condições de pobreza extrema (ou até de exploração/escravatura/trabalho forçado) ou, em muitos casos, trabalhos infantis. Em 2019 o jornal o Guardian reportou que cerca de 85 mil crianças estavam a trabalhar em minas de exploração de cristais (como turmalina ou cornalina) em Madásgascar. E são esses cristais que depois são vendidos para países ocidentais com o objetivo de serem vendidos a preços exurbitantes e como "ferramentas de cura", enquanto as pessoas que estiveram nas minas vivem em pobreza e exploração. Para além destes dois factores, também a saúde das pessoas que trabalham nestas minas estão gravemente comprometida dado que o trabalho de polir cristais liberta vários tóxicos prejudiciais à saúde e principalmente aos sistemas respiratórios. E, infelizmente, grande parte destas minas não disponibiliza aos seus trabalhadores material apropriado para a sua própria proteção.

Para além do impacto nas pessoas que estão envolvidas diretamente no processo de extração dos minerais/cristais, também a própria natureza é afectada por esta atividade que tem tendência a criar contaminação de água potável e de vias aquáticas em redor das minas ou, até, destruindo habitats e cortando florestas para aceder a zonas passíveis de serem minadas. 

Fez-te impressão ler isto? Acredito que sim mas, infelizmente, é a realidade associada ao comércio e à obtenção de cristais e pedras preciosas e para o qual estamos diretamente a contribuir quando não temos cuidado na obtenção dos nossos cristais. Sim, porque há formas de evitar isto! Como evitar? Bem...
  • Tenta comprar sempre cristais em segunda mão, através de lojas de velharias, OLXs, Vinted, Facebook Marketplace, etc. 
  • Caso não consigas comprar em segunda mão, investiga bem as lojas a partir das quais estás a comprar os teus cristais e garante que a mesma consegue garantir (ou melhor ainda, tem política pública sobre o assunto) que os cristais são fornecidos de forma ética. Há vários fornecedores hoje em dia que garantem que a exploração dos cristais é feita de forma ética e cuidada através de um controlo apertado das condições e políticas em vigor em cada uma das minas. 
  • Utiliza cristais que encontres perto de ti! Procura na tua zona, principalmente perto de rios ou montanhas, e de certeza que encontrarás vários cristais, principalmente da família de quartzos que podem ser utilizados na tua prática. Não precisas de ter a malachite topo de gama para um feitiço funcionar, um quartzo encontrado no teu quintal é um excelente aliado (e que te pode ajudar a conectar melhor com a tua terra e local onde vives). 
E a nível das ervas? Este é outro ponto importante nas nossas comunidades, contudo, vou apenas falar de duas plantas específicas que se tornaram virais e muito famosas nas redes sociais devido ao seu uso abusivo por parte de praticantes de new-age americanos que é a "Sálvia Branca" e o "Palo Santo". Estes dois tipos de planta são nativos das Américas e não existem (de forma natural/nativa) em territórios europeus. São plantas habitualmente utilizadas por povos indígenas em cerimónias religiosas e nos seus cultos pessoais contudo, ao longo dos últimos anos, vieram a ser apropriadas por praticantes de tradições new-age que acabaram por fomentar uma exploração de forma abusiva destas plantas que não só tem um impacto forte no ambiente (a sobre-exploração de uma planta acaba por criar complicações no solo e nos locais onde a mesma está a ser constante explorada) e, também, de um impacto forte a nível social, em que estas ervas são apropriadas aos povos indígenas (mais infos aqui). E, hoje em dia, é comum ver estas plantas à venda em imensas lojas esotéricas espalhadas por Portugal, inclusive a preços exorbitantes. 

E a realidade é que nós não precisamos destas ervas. Sim, leram bem, não precisamos destas ervas. Portugal tem imensas plantas que lhe são nativas e que possuem exatamente os mesmos propósitos que a sálvia branca e o palo santos fazem, como o alecrim, a arruda, a sálvia normal, etc. São plantas que são nativas do nosso território, que são fáceis de plantar e de cuidar (inclusive em vasos) e que podem ser utilizadas para todas as coisas nas quais utilizariam as outras duas plantas. E com ainda mais vantagens! Principalmente as de que não estamos a importar plantas que precisam de vir do outro lado do mundo (e, por consequência, trazem consigo uma pegada ecológica muito má) e também porque ao estarmos a trabalhar com plantas que são nativas do local onde vivemos, acabamos por criar uma ligação ainda mais estreita com a flora e a natureza do local onde vivemos. As plantas são nossos aliados na nossa prática e nada melhor do que nos conectar com elas no seu local natural, ao invés de estarmos a mandar vir plantas de outro lado do mundo. 
 
E vocês? Já sabiam disto? 

Ao contrário de muitos outros caminhos religiosos que possuem uma estrutura centralizada de poder (ex: Igreja Católica), o Paganismo e a Bruxaria não possuem chefes religiosos ou sacerdotes a uma escala global ou sequer nacional. Temos várias organizações e grupos como a Pagan Federation ou a Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas que vão fornecendo conteúdos e criando recursos e eventos para as comunidades, mas não temos pessoas a ditar regras nem livros sagrados com todos os ensinamentos. E isso é bom! Aliás é um dos grandes motivos de atração do Paganismo e Bruxaria para a maioria das pessoas, é exatamente a liberdade de culto e de trabalho que existe dentro das mais variadas tradições e caminhos. Contudo isto também leva a que muitos de nós acabemos por cair num erro que acaba por nos prejudicar a nós e, no geral, às nossas comunidades que é o "Culto de Personalidades". 

O que é isto do "Culto de Personalidades"? Bem, é uma coisa que todos nós já ouvimos falar, principalmente fora das nossas comunidades. Situações em que pessoas famosas ganham seguidores que quase se tornam cultuadores daquela figura que criaram na sua mente e fazem da pessoa famosa como se fosse um ser sagrado que não pode cometer erros, não pode dizer nada de errado e que é perfeito em todos os momentos. Claro que rapidamente esta imagem vai acabar por se partir, mais cedo ou mais tarde, mas a realidade é que isto é uma presença na nossa actualidade, em vários campos da vida. E o Paganismo e a Bruxaria, infelizmente, não são excepção. 

Este é um tópico que é muito falado nas comunidades internacionais, principalmente inglesas, e acima de tudo chamado a atenção por parte de membros das nossas comunidades que sentem que eles próprios estão a ser alvos disto. Temos várias situações em que são criados imensos dramas nas comunidades, principalmente a nível do Witchtok (TikTok) e das comunidades bruxescas no Twitter, em torno de pessoas famosas como autores ou criadores de conteúdo. Batalhas de "ela disse vs ele disse", discussões de quem fez feitiços para quem, discussões sobre egos, etc. Acho que todos nós, a certa altura, já vimos situações destas. Elas não são inevitáveis, infelizmente, contudo há algo que podemos fazer para evitar deixar-nos cair nestes discursos e o primeiro passo é reconhecer que somos todos humanos. Até os autores mais famosos de Paganismo e Bruxaria como o Scott Cunningham e o Raymond Buckland ou a Doreen Valiente eram humanos. Iam à casa de banho, lavavam a louça, passavam a roupa a ferro e tropeçavam quando estavam a andar. Nós podemos gostar e respeitar o seu trabalho e a sua influência nas nossas comunidades sem cairmos no erro de os elevar a uma espécie de "ser sagrado que não comete erros e é perfeito". E quem diz estes autores (que já faleceram) diz também autores e criadores de conteúdos na actualidade, como pessoas no TikTok ou pessoas no Twitter. Todos nós somos humanos e todos nós estamos em constante aprendizagem. Como a minha mãe dizia "Ninguém é mais do que ninguém". Claro que há quem tenha mais experiência que nós e há quem tenha mais conhecimento ou seja mais velho. Também há quem tenha cargos de poder dentro das nossas comunidades como Sacerdotes em Tradições Específicas ou Presidentes de Associação. Contudo, e este ponto é importante, mesmo as pessoas nesses cargos não deixam de ser humanas. Existe uma diferença entre tratar alguém com respeito (e até com admiração) e tratar alguém como se fosse uma "quase divindade" e é aqui que é preciso manter a atenção, para garantir que não atravessamos a linha. 

Eu trouxe este tópico aqui ao blogue principalmente porque vi vários pedidos e alertas, nos últimos meses, nas redes sociais por parte de criadores de conteúdos que se estavam a sentir incomodades por pessoas que insistiam em vê-los de uma forma incorreta e que os deixava desconfortáveis. E dado concordar que é uma temática importante, optei por trazê-la para o destaque aqui no blogue e abrir discussão sobre a temática! 

E vocês, o que acham? 
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