A validez das Iniciações e Sacerdócios

por - abril 07, 2022


Hoje vamos falar de um tópico que é sempre famoso nas nossas comunidades: As Iniciações (e, por sua vez, Sacerdócios). Eu costumo dizer que a conversa das iniciações é como as ondas, vai e volta, porque há sempre alturas em que está em destaque dentro das nossas comunidades. Antes de começar a falar desta temática, quero deixar claro que não sou contra iniciações (pelo contrário, eu própria fui ordenada e iniciada como Sacerdotisa dentro da Fellowship of Isis). O propósito deste texto não é tirar valor às iniciações, mas sim dar a entender uma perspectiva diferente, principalmente quando falamos das nossas comunidades de Paganismo a uma escala mundial. 

Existem vários tipos de iniciação: 
  • Iniciações dentro de covens, 
  • Iniciações em associações secretas
  • Iniciações em organizações mundiais
  • Iniciações dentro de Tradições específicas
  • E outras.
E todas as iniciações têm um propósito: Um iniciado na Tradição da Wicca tem um determinado papel e hierarquia dentro do seu coven e da sua tradição. Um iniciado dentro da Fellowship of Isis tem ao seu dispor vários tipos de recursos ou de outros níveis de iniciação aos quais queira se dedicar. Uma pessoa auto-iniciada tem o conforto de se auto-denominar como algo. Todas as iniciações têm um propósito, contudo, há que entender os seus contextos. E acho que o melhor, para explicar isto, será um exemplo prático:

Eu fui ordenada Sacerdotisa no ano de 2018 dentro da Fellowship of Isis. A partir dessa data, tornei-me Sacerdotisa de Hekate e Persephone e tenho autoridade para iniciar outros Sacerdotes/isas dentro da FOI e tenho autorização para fundar um Iseum (podem visitar a página do meu Iseum aqui). Fantástico, não é? Contudo, também tenho a noção, de que o facto de eu ser iniciada dentro da Fellowship of Isis não significa que, se me juntar a um coven Wiccano, tenha direito automático à iniciação deles. Ou que até tenha "equivalências" a Graus Wiccanos. São iniciações diferentes e para propósitos diferentes. Tal como, no meu caso, me juntei a comunidades de Paganismo Helénico e tenho a total noção de que ninguém me vai reconhecer como Sacerdotisa. Podem reconhecer que tenho a minha ordenação de Sacerdotisa dentro da Fellowship of Isis mas, para um Pagão Helénico, isso não significa nada porque o conceito de Sacerdócio no Helenismo é completamente diferente do conceito de Sacerdócio dentro da Fellowship of Isis. 

E o mesmo acontece em cenários opostos: Só porque alguém é um Sacerdote Wiccano não quer dizer que tenha direito automático a ser um Sacerdote dentro da Fellowship of Isis ou que seja reconhecido como um Sacerdócio por Pagãos Helénicos. E o mesmo acontece com outras religiosidades. Um exemplo ainda mais claro é os Sacerdotes Pagãos e os Sacerdotes Cristãos: Um sacerdote pagão reconhece que o sacerdote católico tem a sua formação e a sua validez dentro da Igreja Católica contudo, para o pagão, isso não tem qualquer impacto ou reconhecimento na sua prática individual. E vice-versa. Ou seja as iniciações são, acima de tudo, para os próprios iniciades e para a própria Tradição ou Grupo ou Organização em que as pessoas estão inseridas e não necessariamente para a comunidade externa (a menos que haja algum tipo de serviço a ser prestado à comunidade externa, contudo, isso não implica que as pessoas sejam obrigadas a reconhecer cargos de poder com os quais não se sentem confortáveis). 

Com isto quero concluir que as iniciações SÃO válidas. E são parte fulcral de vários caminhos dentro do Paganismo e da Bruxaria e são momentos lindíssimos de transformação e de evolução no caminho pessoal de cada um. Contudo... não são obrigatórias para toda a gente. Nem são certas para toda a gente. Uma iniciação vai sempre trazer responsabilidades com isso, seja a nível do Sacerdócio (que foi aqui falado acima de tudo, dado que a grande maioria das iniciações acaba por acarretar um Sacerdócio com ela) ou a nível de responsabilidades acrescidas que ficam atribuídas ao iniciado. Não há problema em não querer ser iniciado e isso não faz a prática de alguém menos válida do que a prática de alguém que é iniciado. E alguém iniciado não quer dizer que seja mais do que outros não iniciados, principalmente pessoas fora da sua Tradição/Organização. E acho que é isto que não é falado vezes suficientes nas nossas comunidades, acabando por ser perpetuado um discurso de "superioridade" por parte de quem tem mais iniciações o que, na minha honesta opinião, é um comportamento desnecessário e que faz mais mal do que bem. 

E vocês, o que acham? 

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