Religião e o Amor
Unsplash (Aaron Burden) |
O tópico de hoje é um tema especial: Quero falar-vos de religião numa relação amorosa e como se coordena. Irei focar principalmente no meu caso, nomeadamente uma relação de dois pagãos de caminhos diferentes. Recomendo também o texto de uma grande amiga minha chamado "Mãe Pagã e Pai Ateu... e agora?" em que ela descreve aspectos da vida de casal entre ela e o esposo, sendo ela pagã e ele ateu e criam uma menina (super linda e fofa, se me permitem dizer!) juntos! Inspirada por esse texto decidi dissertar sobre relações amorosas em que os envolvidos são pagãos mas trilham caminhos diferentes.
Irei usar como exemplo a minha relação (estou numa relação monogâmica com um homem) mas o que descrevo aqui pode ser adaptado a todas as dinâmicas e tipos de relacionamento, como é óbvio!
No meu caso, eu e o meu companheiro somos os dois pagãos mas seguimos caminhos muito distintos: Eu sou Bruxa de Cozinha e Natural e Sacerdotisa de Hekate e Persephone, sendo que trabalho exclusivamente com o Panteão Helénico e de uma forma bastante moderna, seguindo a Roda do Ano (adaptada a minha prática e culto), celebrando as Fases da Lua, introduzindo liturgia da Fellowship of Isis e trabalhando também com o meu Iseum. Já o meu companheiro é mais tradicionalista, focando a sua prática exclusivamente, também, no Panteão Grego mas com uma visão mais arcaica, baseando-se nos registos históricos e na forma como a religião era praticada na Grécia Antiga (uma espécie de Reconstrucionismo Helénico adaptado e solitário). Ou seja, os nossos caminhos são bastante diferentes, dado que grande parte das minhas celebrações não são (necessariamente) celebradas por ele e, a visão dele das Divindades, é algo diferente da minha.
Enquanto eu vejo as Divindades como seres presentes no meu dia-a-dia com as quais eu posso estabelecer conexão, meditação, comunicar e receber sinais, o meu companheiro vê as Divindades como entidades desapegadas das questões mundanas mas que assistem, contudo, ao desenrolar das vidas dos mortais, podendo (ou não) testar os mesmos e apoiar nas suas demandas. Enquanto o meu namorado baseia a sua praxis pagã na forma de pensamento da Grécia Antiga, eu sou mais dada a seguir a minha intuição e aquilo que penso e medito como sendo o caminho certo para mim, sem me preocupar primeiramente com o aspecto reconstrucionista da mesma.
Ou seja... Apesar de partilharmos o amor pela mesma cultura e do mesmo panteão e de estabelecermos até conexão com as mesmas Divindades, temos formas muito diferentes de estabelecer estas ligações e até de praticar estas vivências. Porém, isso em nada invalida a nossa relação. Tal com a minha amiga fala no artigo dela, não podemos deixar que as diferenças dos nossos caminhos sejam o que define a nossa relação mas sim aquilo que temos em comum. Debatemos as nossas diferenças e esforçamo-nos para entender o modo de pensar e de ver a vida do outro. No entanto, não deixamos que elas sejam o que marca a forma como nos relacionamos. Podem haver discussões (aliás, as minhas amigas acham piada ao facto de o único motivo pelo qual eu e o meu companheiro discutimos é por política ou religião) mas, no fim, encontramos sempre um meio-termo porque sabemos que o mais importante é estar juntos e unir aquilo que temos rumo ao nosso objectivo comum.
Apesar de ainda não vivermos juntos, a conversa sobre como iremos adaptar as nossas rotinas pagãs à vida em casal surge ocasionalmente. Como faremos para realizar as nossas celebrações? E os altares? E a transmissão de valores pagãos a filhos ou filhas no futuro? Todas estas são questões que já surgiram no nossa interacção e acabamos por chegar sempre à mesma resposta: "Adaptamos". Mesmo hoje em dia, se o meu companheiro vier a minha casa e eu tiver um ritual nesse dia, ele não tem qualquer problema em ficar na conversa com a minha mãe enquanto eu o cumpro. Ou em ir comigo até a uma floresta para eu colher ervas ou materiais ou até fazer oferendas. Tal como eu o acompanho nas suas formas de expressão de devoção às Divindades. Inclusive até já adaptei algumas das coisas que ele faz na minha prática pessoal, porque me identifiquei! E o mesmo acontece com ele. Já lhe dei muitas coisas (cristais, receitas, etc) mágicas que não fazem parte da prática dele, porém sei que ele pode beneficiar disso e inclusive já chegou a usar várias.
Felizmente, conseguimos adaptar as nossas práticas e as nossas vidas para acomodar o outro sem nunca ferir as nossas práticas pessoais. Há coisas na minha prática com as quais ele não concorda e há coisas na dele com as quais eu também discordo. Mas nunca censuramos ou limitamos o outro no seu caminho. O truque está em reconhecer que para além de casal, somos também indivíduos e não devemos abdicar da nossa individualidade em fruto do relacionamento, dado que são "precisos dois para dançar o tango". De forma a que nossa relação funcione temos de garantir que cada um de nós é feliz e estável nos seus caminhos pessoais, podendo aceitar que os mesmos se cruzem ou não!
Assim sendo, quando vivermos juntos, esse será um dos nossos objectivos já pré-definidos: Respeitar o espaço e a prática do outro, dando espaço e tempo para as mesmas, adaptando-as no dia-a-dia e na rotina conjunta e, quando o assunto dos filhos vier à conversa, mostrando aos pequenos que há mais do que um caminho à escolha e apresentar a minha visão, a visão do pai e a até a visão de outros caminhos, guiando-os nesses trilhos e auxiliando a encontrar o caminho que eles acharem ser o certo para eles.
O maior conselho que eu posso dar, para alguém que esteja numa relação com alguém que também seja pagão mas não partilhe o mesmo caminho é o aceitar as diferenças e aceitar que nem tudo vai ser praticado em conjunto ou de forma unida. Cada um tem direito às suas práticas individuais e os caminhos pessoais de cada um e isso em nada invalida a relação que têm e o amor que partilham. É respeitando-se ambos e ao espaço de cada um, que uma relação se cria e se torna forte.
As raízes das árvores não discutem por estarem em direcções diferentes mas trabalham em conjunto para o objectivo final que é fazer crescer a árvore.
Aqui, é o mesmo. Respeitando as diferenças de cada um, trabalha-se rumo ao objectivo comum: Amor e Harmonia.
E vocês? Como são as vossas relações? ~
Irei usar como exemplo a minha relação (estou numa relação monogâmica com um homem) mas o que descrevo aqui pode ser adaptado a todas as dinâmicas e tipos de relacionamento, como é óbvio!
No meu caso, eu e o meu companheiro somos os dois pagãos mas seguimos caminhos muito distintos: Eu sou Bruxa de Cozinha e Natural e Sacerdotisa de Hekate e Persephone, sendo que trabalho exclusivamente com o Panteão Helénico e de uma forma bastante moderna, seguindo a Roda do Ano (adaptada a minha prática e culto), celebrando as Fases da Lua, introduzindo liturgia da Fellowship of Isis e trabalhando também com o meu Iseum. Já o meu companheiro é mais tradicionalista, focando a sua prática exclusivamente, também, no Panteão Grego mas com uma visão mais arcaica, baseando-se nos registos históricos e na forma como a religião era praticada na Grécia Antiga (uma espécie de Reconstrucionismo Helénico adaptado e solitário). Ou seja, os nossos caminhos são bastante diferentes, dado que grande parte das minhas celebrações não são (necessariamente) celebradas por ele e, a visão dele das Divindades, é algo diferente da minha.
Enquanto eu vejo as Divindades como seres presentes no meu dia-a-dia com as quais eu posso estabelecer conexão, meditação, comunicar e receber sinais, o meu companheiro vê as Divindades como entidades desapegadas das questões mundanas mas que assistem, contudo, ao desenrolar das vidas dos mortais, podendo (ou não) testar os mesmos e apoiar nas suas demandas. Enquanto o meu namorado baseia a sua praxis pagã na forma de pensamento da Grécia Antiga, eu sou mais dada a seguir a minha intuição e aquilo que penso e medito como sendo o caminho certo para mim, sem me preocupar primeiramente com o aspecto reconstrucionista da mesma.
Ou seja... Apesar de partilharmos o amor pela mesma cultura e do mesmo panteão e de estabelecermos até conexão com as mesmas Divindades, temos formas muito diferentes de estabelecer estas ligações e até de praticar estas vivências. Porém, isso em nada invalida a nossa relação. Tal com a minha amiga fala no artigo dela, não podemos deixar que as diferenças dos nossos caminhos sejam o que define a nossa relação mas sim aquilo que temos em comum. Debatemos as nossas diferenças e esforçamo-nos para entender o modo de pensar e de ver a vida do outro. No entanto, não deixamos que elas sejam o que marca a forma como nos relacionamos. Podem haver discussões (aliás, as minhas amigas acham piada ao facto de o único motivo pelo qual eu e o meu companheiro discutimos é por política ou religião) mas, no fim, encontramos sempre um meio-termo porque sabemos que o mais importante é estar juntos e unir aquilo que temos rumo ao nosso objectivo comum.
Apesar de ainda não vivermos juntos, a conversa sobre como iremos adaptar as nossas rotinas pagãs à vida em casal surge ocasionalmente. Como faremos para realizar as nossas celebrações? E os altares? E a transmissão de valores pagãos a filhos ou filhas no futuro? Todas estas são questões que já surgiram no nossa interacção e acabamos por chegar sempre à mesma resposta: "Adaptamos". Mesmo hoje em dia, se o meu companheiro vier a minha casa e eu tiver um ritual nesse dia, ele não tem qualquer problema em ficar na conversa com a minha mãe enquanto eu o cumpro. Ou em ir comigo até a uma floresta para eu colher ervas ou materiais ou até fazer oferendas. Tal como eu o acompanho nas suas formas de expressão de devoção às Divindades. Inclusive até já adaptei algumas das coisas que ele faz na minha prática pessoal, porque me identifiquei! E o mesmo acontece com ele. Já lhe dei muitas coisas (cristais, receitas, etc) mágicas que não fazem parte da prática dele, porém sei que ele pode beneficiar disso e inclusive já chegou a usar várias.
Felizmente, conseguimos adaptar as nossas práticas e as nossas vidas para acomodar o outro sem nunca ferir as nossas práticas pessoais. Há coisas na minha prática com as quais ele não concorda e há coisas na dele com as quais eu também discordo. Mas nunca censuramos ou limitamos o outro no seu caminho. O truque está em reconhecer que para além de casal, somos também indivíduos e não devemos abdicar da nossa individualidade em fruto do relacionamento, dado que são "precisos dois para dançar o tango". De forma a que nossa relação funcione temos de garantir que cada um de nós é feliz e estável nos seus caminhos pessoais, podendo aceitar que os mesmos se cruzem ou não!
Assim sendo, quando vivermos juntos, esse será um dos nossos objectivos já pré-definidos: Respeitar o espaço e a prática do outro, dando espaço e tempo para as mesmas, adaptando-as no dia-a-dia e na rotina conjunta e, quando o assunto dos filhos vier à conversa, mostrando aos pequenos que há mais do que um caminho à escolha e apresentar a minha visão, a visão do pai e a até a visão de outros caminhos, guiando-os nesses trilhos e auxiliando a encontrar o caminho que eles acharem ser o certo para eles.
O maior conselho que eu posso dar, para alguém que esteja numa relação com alguém que também seja pagão mas não partilhe o mesmo caminho é o aceitar as diferenças e aceitar que nem tudo vai ser praticado em conjunto ou de forma unida. Cada um tem direito às suas práticas individuais e os caminhos pessoais de cada um e isso em nada invalida a relação que têm e o amor que partilham. É respeitando-se ambos e ao espaço de cada um, que uma relação se cria e se torna forte.
As raízes das árvores não discutem por estarem em direcções diferentes mas trabalham em conjunto para o objectivo final que é fazer crescer a árvore.
Aqui, é o mesmo. Respeitando as diferenças de cada um, trabalha-se rumo ao objectivo comum: Amor e Harmonia.
E vocês? Como são as vossas relações? ~
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