Os Cuidados nas Comunidades Pagãs

por - novembro 15, 2018

Unsplash (Raw Pixel)
O artigo de hoje é voltado para um tópico importante e será um assunto de conversa ao longo do mês de Novembro: Os Cuidados nas Comunidades Pagãs contra os Abusos. Infelizmente todas as comunidades, sejam do que for (jogos, livros, religião, estudo, etc) acabam por, a longo prazo, sofrer dificuldades e ter problemas. E as comunidades pagãs não são diferentes. Temos dramas, confusões, discussões, pessoas boas, pessoas más, tal como todas as outras comunidades. Não somos diferentes nem mais especiais que os outros e, como tal, estes são assuntos que se tornam parte do quotidiano nas comunidades. 

Quero falar-vos, principalmente para quem está a dar os primeiros passos nas comunidades, sobre os cuidados que devemos ter para evitar cair em situações indesejáveis. Este tópico é especialmente sensível para mim, dado que também já fui vítima de uma destas situações. Infelizmente ninguém está imune e pode acontecer a qualquer um. O primeiro passo é, tal como tanta outra coisa na vida, não pensar que "só acontece aos outros" e manter-nos alertas e atentos aos sinais "vermelhos" de perigo. Muitos dos conselhos que vos vou dar são conselhos que gostariam que me tivessem dado a mim e, acima de tudo, que eu os tivesse cumprido. 

E, a quem já passou por isto e, como eu, soltou-se e sobreviveu: Não pensem mal de vocês mesmos. Não se culpabilizem, não se condenem a vós mesmos. Todos somos humanos e todos cometemos erros. Temos que aprender com os erros, entender o que poderíamos ter feito melhor ou de alternativa, ajudar quem esteja numa situação parecida aquela em que estivemos e, acima de tudo, perdoar-nos a nós mesmos. 

A quem está a passar por isto: Não tenham medo de sair ou de parar o que estão a fazer. Independente do que vos digam, das ameaças, das tentativas de controlo e de todas as formas que podem tentar controlar-vos. Apesar de parecer muito mau neste momento e de parecer que não há saída nem vida sem esse aspecto negativo: É mentira. Há sim e é linda e fantástica e vale a pena. Não tenham medo de lutar pela liberdade das vossas vidas e de seguirem o que querem, independentemente da opinião ou tentativas negativas de outras pessoas. Peçam ajuda a amigos, familiares, etc. E tudo se resolverá! 

Se precisarem de alguém para falar, o ICT disponibiliza auxílio e conselhos (100% anónimos) para situações destas através do e-mail ict.caminhodaterra@gmail.com. Temos também o Ecos - Comunidade Pagã que conta com vários sacerdotes e devotos pagãos que estão ao dispor para ajudar e orientar quem precisa através do endereço de e-mail deles que é o  contactocomunidadepagaeda@gmail.com. Não tenham medo de contactar e de pedir ajuda. Estamos todos cá para isso!

Quanto aos conselhos que tenho a dar neste artigo:

  • Não tenham medo de dizer NÃO. 
O primeiro e, creio eu, mais importante conselho é: Não tenham medo de fazer perguntas, de se impor e, acima de tudo, de dizer "Não". O não, para mim, é das palavras mais importantes do vocabulário, principalmente quando lidamos com comunidades e com outras pessoas. Se o que vos é proposto (pertencer a um grupo de estudos, a um coven, realizar um ritual, etc) não vos satisfaz a 100% não participem. Se for 99% e aquele 1% estiver na dúvida, não façam. Se algo vos deixa desconfiado, se não gostam da energia da pessoa que está a propor, se não está dentro dos vossos objectivos, se não se sentem confortáveis, etc... Não participem. Não se convençam a vós próprios a participar só porque traz vantagens a longo prazo, só para dizer que já tiveram essa experiência, só para obter aquele pequeno conhecimento dali e seguir em frente. Nada disso vale tanto como o vosso conforto e a vossa integridade. Participar num ritual pode parecer a coisa mais simples e pequena do Mundo mas abre precedentes para muita coisa. Cenário que todos conhecemos: Convidam-nos para X, não queremos muito mas aceitamos. Da próxima vez convidam para Y. Dizemos que não mas somos confrontados com as questões "Mas da outra vez participaste, é a continuar do que fizemos antes, é tão simples como o anterior, etc" e acabamos por sofrer a pressão e usar os mesmos argumentos para nós mesmos da mesma vez. E o ciclo vicioso inicia-se e, quando damos por nós, já fizemos coisas que não queriam, já tomamos decisões que não estavam nos nossos planos e estamos demasiado envolvidos para sair sem problemas.  Participar num ritual implica, também, troca de energias. Num ritual existe um fluir energético de todos os participantes. Enquanto nos rituais públicos existe, por parte do organizador, uma forma de manter e harmonizar essa troca de energias, em rituais pequenos nem sempre há isso. Se não nos sentimos confortáveis com a energia do organizador ou a energia de alguns participantes para quê participar e trocar energias com essa pessoa? Não! Não tenham medo de dizer não e de se impôr


  • Não aceitem iniciações com as quais não se identifiquem
Outro problema que também, infelizmente, é comum nas nossas comunidades é o tema da iniciação. Ser convidados para ser iniciados em grupos e covens e tradições com as quais podemos até nem ter interesse total mas gostaríamos de ter a experiência, de aproveitar o conhecimento, de obter o "título" e qualquer outro motivo que possamos achar que temos, para além do "esta tradição ou caminho é aquilo com que me identifico e o qual quero seguir". Se o motivo para serem iniciados não for o que mencionei anteriormente e não tiverem conhecimento total do que está a acontecer e Perfeita Confiança em quem está a iniciar-vos... Não o façam. Sei que o termo "Perfeito Amor e Perfeita Confiança" pode parecer demasiado "fofinho" e apenas associado à Wicca mas, na realidade, é um conceito importante principalmente a parte da Confiança. O nosso iniciador ou iniciadora são pessoas que ficarão ligados a nós para a vida inteira, serão como mães e pais para nós. Vão dar parte do seu "DNA Mágico" para nós, ligando-nos eternamente a eles. Porque motivo vamos deixar alguém que não confiamos iniciar-nos? Não é correcto nem faz sentido e só nos prejudica a nós mesmos, seja em que tradição for. Se têm interesse ou receberam convites para serem iniciados façam o seguinte: Investiguem a tradição ou o caminho em causa, saibam o máximo que conseguirem (externamente) sobre a tradição, vejam se é algo que vibra convosco, conheçam as pessoas da Tradição e os Iniciadores, peçam para assistir (não necessariamente participar!) a rituais públicos que hajam, etc. Tentem conhecer e ver o método de funcionamento da Tradição e analisem se é aquilo que querem e à aquilo que querem ser associados. Deixem passar um longo período de tempo: seis meses, um ano, etc. E revejam se ainda é aquilo. Se for: força. Se não for: Ainda bem que esperaram. Uma coisa com que todos estamos familiarizados é a "honeymoon phase" das relações amorosas: Aqueles primeiros meses em que tudo parece perfeito e maravilhoso e vai correr super bem e nada nos vai derrotar. Isto também acontece quando conhecemos grupos e tradições. De forma a tomar a decisão consciente do que queremos devemos deixar passar esta fase, sem fazer qualquer tipo de compromisso, e só depois tomar a decisão de forma a não nos deixarmos influenciar pela idealização inicial. 


  • Não aceitem fazer aquilo com que não concordam. 
Este é outro ponto importante a abordar porque por vezes gostamos de uma tradição ou de um grupo, ou inclusive o grupo é constituído por amigos nossos e queremos mesmo participar mas... Pedem-nos algo que não queremos fazer. Prestar culto a uma divindade específica, deixar de falar com uma específica comunidade pagã ou com pessoas de certas tradições, fazer os rituais skyclad/nús, participar em rituais com os quais não concordamos (ex: rituais sexuais), etc. Mas nós gostamos mesmo da tradição ou das pessoas e não queremos desiludir essas pessoas. Às vezes até são essas pessoas que nos dizem coisas como "Não vais parar agora, certo?", "Oh não é nada de especial, é só esta vez", "Afinal a tua dedicação ao nosso grupo não é assim tão grande" e outras formas de convencer-nos a fazer algo que não queremos. Novamente, reforço que o "Não" é a palavra mais importante e poderosa do nosso vocabulário. É a palavra que nos dá a liberdade de escolher e de escolher não fazer algo, não participar em algo. Não se sintam obrigados, não pensem "Se não participar neste grupo nunca irei encontrar outro", "Se não aceito com estas pessoas, nunca vou aceitar e nunca vou conseguir praticar", etc. Não pensem desta forma. Se é algo que não querem ou não se sentem confortáveis não façam, independentemente dos motivos. Haverão outras oportunidades, haverá mais chances e chances e oportunidades que vibram connosco e com o que concordamos e acreditamos. Posso dizer-vos que, no meu caso, pensei que seria a melhor forma para obter conhecimento de forma estável e que não iria ter outra forma, por isso, mais valia arriscar. E, assim que saí da situação em que estava, imensas portas abriram-se para mim com uma enorme abundância de métodos de aprendizagem que vibraram com o que eu queria! Na altura bastaria eu ter tido paciência. Por isso: Tenham paciência, mais oportunidades virão e oportunidades essas que não vão obrigar-vos a fazer algo ou assumir algo que não querem. Se não vibram com aquela energia ou com aquela ideia: Digam "Não". Independentemente de serem amigos, familiares, colegas,  etc. Se são realmente pessoas que vocês confiam e que são vossas amigas então nunca vos iriam coagir/obrigar a fazer algo que não queiram. Considerem isto também um sinal para rever essas relações. 


  • Não acreditem cegamente nas pessoas
Todos somos seres humanos, sem excepção. Todos nós cometemos erros. Seja eu, sejam os meus amigos, sejam líderes de covens, Altos Sacerdotes e Altas Sacerdotisas, etc. Seja quem for será humano e, como tal, comete erros, pode estar enganado, etc. Ninguém sabe tudo e ninguém é perfeito, por isso, não acreditem cegamente nas palavras das pessoas, sejam quem for. Seja o que vêem escrito neste blogue, noutro blogue, que vos dizem dentro do círculo, que vos dizem em leituras de Tarot, em rituais, etc. Sei que pode parecer algo extremista mas não é. Não vos estou a dizer para considerarem toda a gente automaticamente errada ou mentirosa, nada disso! Apenas para não acreditarem nas coisas como sendo "a única verdade" porque não há "únicas verdades". Não há "O caminho certo" por default, há vários caminhos certos, um para cada pessoa que o trilha. E o vosso caminho será diferente do caminho das outras pessoas e isso é bom, é excelente. Se conhecerem alguém que vos diga "na realidade as energias funcionam *desta* forma" ou "os rituais devem ser sempre celebrado *assim*" e insista que aquela é a única e exclusiva maneira de fazer as coisas... Fujam. Isto é meio caminho andado para dar problemas, porque primeiro começa com a forma como os rituais são feitos e, quando damos por nós, a pessoa já opina sobre tudo na nossa vida e deixámo-nos levar. Tenham mente crítica e não aceitem cegamente a informação que vos é dada, pensem, investiguem, leiam, etc. Ninguém, independentemente das credenciais que possa ter, vai ser conhecedor total de tudo. Não só porque há demasiado conhecimento no Mundo para alguém saber absolutamente tudo de tudo mas também porque cada um pratica as coisas à sua maneira. A vossa forma de se conectar com Hekate poderá ser diferente da minha forma de me conectar com Hekate. Isso não invalida a minha forma nem invalida a vossa forma. São formas diferentes. Não confiem cegamente nas pessoas, não façam o que elas querem ou dizem para fazer apenas porque acham que elas sabem mais do que os outros, etc. Façam porque que querem, acreditem que sentem que é suposto acreditar. 


Os caminhos pagãos são caminhos extremamente pessoais e não devem ser ditados por outros. Infelizmente, porém, o que não falta por aí é pessoas dispostas a ditar os caminhos dos outros e, pior, tentar influênciá-los e usá-los para o seu próprio bem. Este artigo é escrito com o intuito de ajudar quem está a começar a evitar alguns dos principais perigos que podem encontrar dentro das comunidades e ajudar também quem possa estar em situações destas a identificar as mesmas e a conseguir escapar delas. 


A vida pagã é repleta de diversidade de práticas e caminhos, de variedade de métodos de trabalho e formas de ver o Mundo e a Arte. Não tenham medo de dizer que não a certos caminhos porque não vibra com o vosso, não tenham receio de dizer que não querem afiliar-se com determinada pessoa porque não gostam da forma como a mesma actua, não sintam medo de recusar rituais ou iniciações. Não pensem que estão a "escapar a oportunidades" ou a perder chances. Estão apenas a seguir o vosso caminho, a vossa intuição, a vossa vontade. E essa é soberana na vossa vida. 


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