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Sob o Luar


Hoje vamos voltar a falar sobre Divindades e, mais especificamente, como começar a trabalhar com elas. Sim, já temos um artigo parecido aqui no blogue, intitulado "Como começar devoção aos Deuses?" mas, como podem ver, eu escolhi terminologias diferentes: Trabalho vs Devoção. 

Enquanto a devoção, que foi falado no meu artigo antigo, tem um carácter mais religioso e espiritual, o trabalho é algo mais prático e mais comum dentro da Bruxaria, onde é estabelecida uma relação de trabalho com uma divindade. Ou seja, a divindade e o praticante estão numa espécie de negócio, em que há uma troca de algo a ocorrer, por norma, oferendas em troca de algo para o praticante. Este tipo de trabalho é algo mais informal e, em alguns casos, sem qualquer tipo de intimidade por parte do praticante (algo que na devoção acaba sempre por acontecer). 

O trabalho com as Divindades pode ser feito pelos mais diversos propósitos mas, por norma, é no seguimento de trabalhos mágicos no qual o praticante queira solicitar a ajuda de Deuses. Este trabalho mágico com as divindades não requer compromissos, tirando aqueles estabelecidos durante a troca ou acordo com as divindades, mas requer trabalho por parte do praticante, principalmente em garantir que aquilo que prometeu aos Deuses lhes é entregue. Um exemplo prático é um praticante que prometa a Hermes que lhe fará oferendas semanais durante um período de um ano em troca de ajuda num processo de candidatura de emprego. O praticante terá de garantir que, durante aquele ano, fará as oferendas prometidas. 

Mas, como começar este tipo de prática? Este tipo de prática não é para toda a gente, até porque, como já falamos, a Bruxaria pode ser praticada sem a presença de Deuses. Não é uma prática obrigatória e só deve ser feita por aqueles que se sentem confortáveis com isso. Por norma, neste tipo de prática, não há qualquer chamamento por parte de Divindades, porque o principal interesse nesta troca é do praticante. 

Inicialmente, é preciso garantir que não vemos os Deuses como "Deuses de Prateleira" (podem ler mais sobre o assunto, no artigo do link) e que os vemos como entidades individuais (no caso do politeísmo, mas também aplicável ao caso da Deusa/Deus da vertente duoteísta). Ou seja, não devemos começar a ir sempre a Afrodite porque queremos amor ou Hermes porque queremos ajuda com dinheiro ou Atena porque queremos ajuda com os estudos. Apesar de ser um processo de trabalho, e não de devoção, não significa que os Deuses sejam bonecos para serem explorados ou utilizados. Vejam os Deuses, neste cenário, com amigos que vocês conhecem. Vocês se tiverem um amigo que tenha dinheiro, não vão estar sempre a ir a esse amigo pedir dinheiro, não é? Porque ele vai acabar por se cansar de vocês e deixar de responder às mensagens. E os Deuses, passa-se a mesma coisa, vai acabar por haver divindades com as quais vão trabalhar mais vezes e às quais podem recorrer para pedir ajuda, mesmo que não seja totalmente do foro delas. E não há problema nisso. 

Outro passo essencial, semelhante ao que acontece no processo devocional, é a necessidade de explorar e aprender sobre a Divindade. Não podemos apenas fazer um ritual, chamar Zeus e dizer "Olá Zeus, quero isto". É óbvio, não é? Isto é a mesma coisa que ir na rua, parar um estranho e pedir 20€. Ninguém faz isso. É preciso entender a divindade, entender os seus mitos e ter alguma noção sobre quem estamos a chamar e se é a pessoa certa para o que precisamos (tal como faríamos se fossemos contratar um carpinteiro para arranjar em casa, não iríamos ao primeiro que aparece na pesquisa, mas iriamos ver qual o melhor para o que queremos). Cabe ao praticante fazer o esforço de aprender sobre a Divindade e tomar a iniciativa. 

Aqui é a parte onde difere do aspeto devocional: Enquanto no devocional iniciaríamos o processo de aproximação da divindade, oferendas e meditações, criar altares e por aí fora, no campo do trabalho mágico esse aspeto acaba por não acontecer (pode acontecer, mas não é uma necessidade). Aqui inicia-se o trabalho mágico em si, seja ele qual for. E é feito o acordo e a troca com a Divindade (seja ela qual for, também). E depois, é da parte do praticante garantir que cumpre a sua parte, mantendo o respeito pela Divindade e pelo trabalho que está a fazer. No fim, poderá despedir-se da Divindade de vez ou continuar a trabalhar com ela durante mais algum tempo. 

Espero ter ajudado a distinguir o conceito de devoção e de trabalho e conseguido orientar no processo de aprender sobre como começar a trabalhar com Divindades. O resto é tentativa e erro da parte do praticante! 

Se quiserem deixar dicas (ou questões) nos comentários, sintam-se à vontade! 

Um dos temas que me foi pedido no Instagram do Sob o Luar foi para falar sobre a apropriação cultural e como evitar a mesma na nossa prática. Antes de começar, vamos definir o que é apropriação cultural: 

Segundo Arnd Schneider (2003) a apropriação cultural é a adoção inadequada ou não reconhecida de um elemento ou elementos de uma cultura ou identidade por membros de outra cultura ou identidade. Isso pode ser controverso quando membros de uma cultura dominante se apropriam de culturas minoritárias.

Alguns exemplos de apropriação cultural são, por exemplo, os disfarces de "índios" que se vêm durante o Carnaval ou Halloween que são uma clara ofensa aos povos nativos-americanos. Ou a utilização do termo "smudging" para significar limpeza de um local, sendo que esse termo é exclusivo de tribos índígenas onde smudging não é apenas queimar ervas para limpar uma casa, mas todo um ritual específico dentro desta cultura. Existem diversos exemplos de apropriação cultural, de diversas culturas, que acabam por estar presente, infelizmente, em nosso redor. Contudo está no nosso poder (e dever!) garantir que não as propagamos e, aliás, que educamos as pessoas à nossa volta para não compactuar nestes comportamentos. 

É também importante distinguir que existem diferenças entre o termo de "apropriação cultural" e o termo "prática fechada". Uma prática fechada é, por norma, uma prática que requer iniciação dentro da mesma e que não pode ser praticada fora desses grupos ou tradições. Não quer dizer que a pessoa X ou Y não a possa praticar mas, para o fazer, terá de ir ter com esses grupos, introduzir-se nas suas culturas, socializar, conhecer as pessoas e, se o grupo em causar a aceitar, então aí tratar desse processo. 

Agora, a grande questão: Como evitar praticar apropriação cultural? 

Acima de tudo entendendo de onde vêm as coisas que estamos a praticar. Quando estamos a aprender sobre Bruxaria e Paganismo e vemos algo que gostaríamos de incorporar na nossa prática é essencial investigar sobre esse assunto e, acima de tudo, entender as suas origens (e, dessa forma, acabamos por entender também o seu funcionamento). Obviamente que uma prática que seja comum em todo o espaço europeu não vai ser um caso que possa ser apropriado culturalmente porque faz parte da cultura de todo um continente que possui um papel dominante na sociedade ocidental. Ou uma prática que seja de uma cultura morta (como Antigo Egipto ou Roma Antiga), porque não há uma cultura minoritária a ser afetada, porque a mesma já não existe há milhares de anos (ao contrário do que muitos grupos nacionalistas dentro das comunidades possam tentar alegar). Mas se calhar, se for uma prática de uma tribo indígena sul-americana já se trata de uma apropriação cultural, principalmente se essa cultura for abertamente contra essa prática (que é o caso de algumas práticas africanas ou de tribos indígenas brasileiras que se vêm apropriadas). 

Esta é, sem dúvida, uma área na qual é preciso trabalho ativo. Não há forma de ter uma lista com todas as coisas que não podem ser apropriadas culturalmente porque isso seria impossível. É preciso ler e investigar o assunto (O google é uma excelente ferramenta o TikTok/Tumblr nem por isso) e ver, acima de tudo, testemunhos de pessoas que fazem parte das culturas afetadas para entender o feedback delas. Em caso de dúvida, podemos sempre participar em comunidades online e questionar os outros para tentar aprender (principalmente questionar pessoas dessas culturas porque não é alguém como eu - branca e europeia - que vos vai conseguir falar em nome de uma cultura à qual eu não pertenço). E em caso da dúvida se manter, podemos sempre abster-nos de certas práticas ou, melhor ainda, substitui-las por coisas mais perto de casa! Por exemplo, voltando ao caso do smudging: Ao invés de querermos queimar sálvia branca ou palo santo (que são duas plantas que estão a ser exploradas em excesso ao ponto de estarem em risco e, também, utilizadas originalmente por povos nativo-americanos) para limpar a casa porque não usarmos plantas locais de Portugal? Temos o alecrim, a arruda e a sálvia comum que fazem exatamente o mesmo papel e são plantas presentes no nosso ecossistema local. Não só estamos a evitar sobre-exploração de uma planta, evitar apropriação cultural como ainda estamos a conectar-nos com a nossa flora local, utilizando plantas nativas da zona onde vivemos. 

Por fim, gostava de recomendar um artigo (em inglês) que li sobre a temática: "Cancelled for Renovations: More Thoughts on Closed Practices". Espero ter ajudado a esclarecer um pouco mais este tópico e sintam-se à vontade para dar as vossas opiniões (respeitosas, porque qualquer comentário extremista nem será aceite) nos comentários! 

Nota: Um agradecimento especial à Sininho que me ajudou a rever este texto! :) 
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Sob o Luar by Alexia Moon/Mónica Ferreira is licensed under CC BY-NC-ND 4.0