A Roda do Ano é um dos primeiros conceitos que aprendemos quando chegamos à Bruxaria, principalmente através da Wicca. Rapidamente somos informados de que existem 8 Sabbats que devem ser celebrados, cada um na sua data específica e que, inclusive, as mesmas são adaptáveis para o Hemisfério Sul e o Hemisfério Norte! Contudo… nem toda a gente se identifica com a Roda do Ano. Ou até podem identificar-se com a Roda do Ano mas não gostam de todos os festivais ou até gostariam de ter mais alguns. É aqui que muitos praticantes encontram um impasse e ficam a sentir-se insatisfeitos com a sua prática e sentem-se numa encruzilhada entre o celebrar o tradicional e afastar-se totalmente do que é mandado. Mas… e se eu vos dissesse que há um meio termo? Que não precisa de ser só a Roda do Ano ou sem ela?
A Roda do Ano é um guia de celebrações criado de propósito para a Wicca. Ela junta vários festivais, alguns até de culturas diferentes, e cria uma roda de festivais baseada na história da Deusa e do Deus Wiccano e com base em torno do ano agrícola e da fertilidade dos campos. Mas, hoje em dia, nem todos vivemos nos campos e nos identificamos com este tipo de ciclos. E nem todos prestamos culto a um Casal Divino ou até divindades cujos festivais se encaixem nestes mitos. Pessoalmente eu sou Pagã Helénica o que significa que a minha prática e as minhas celebrações são baseadas nas práticas da Grécia Antiga e não numa Roda do Ano agrícola. Contudo, desde cedo, fui ensinada a Roda do Ano e acabei por adaptar a minha prática a ela. E gosto de ainda manter algumas das práticas da Roda do Ano nas minhas celebrações. Por isso, criei a minha própria Roda do Ano que conta com as celebrações que me são mais importantes, as que são mais ligadas às minhas divindades, aquilo que me chama mais ou tem mais significado para mim, etc.
O nosso caminho deve ser constituído pelas coisas que funcionam para nós e não apenas pelo que os livros ou autores ou membros das nossas comunidades "dizem que deve ser". Devemos ser nós a adaptar as nossas práticas ao que faz mais sentido para nós, individualmente. E isto estende-se também às práticas pessoais. Se eu não me identifico com a ideia do começo da Primavera enquanto celebração relacionada com as ovelhas e com o leite e vivo numa zona do país onde nem sequer há neve, não faz grande sentido (para mim) estar a celebrar o Imbolc. Mas, por exemplo, já dou mais importância ao Samhain que, apesar de não ser uma prática helénica, é um festival que tem bastante importância para mim, logo, opto por incluí-lo. Opto também por incluir celebrações a Hekate como o Deipnon ou o 13 de Agosto na minha Roda, dado que presto culto a esta divindade. Um devoto de Hermes, por exemplo, poderá incluir outros festivais que lhe são ligados. Mesma coisa com outras divindades e outros panteões.
Para criar a nossa própria Roda do Ano recomendo sentarmo-nos e fazermos uma lista de todos os festivais e/ou celebrações que achamos interessantes ou pelos quais temos interesse. Façam uma lista de todos, sejam cinco, dez, vinte ou até trinta festivais. Incluam festivais locais da vossa zona ou país, feriados, aniversários, celebrações religiosas, festivais antigos, festivais da Roda Wiccana, etc. Tudo o que vos chamar a atenção ou interesse! E depois peguem num calendário e vejam em que altura calha cada um deles. Façam as adaptações que precisam, principalmente dependente dos hemisférios ou até do clima da zona onde se encontram e criem um protótipo de uma Roda do Ano vossa. E, depois, passem um ano a vivê-la e experimentar!
Sim, leram bem, experimentem durante um ano. A nossa prática não ficará definida num só dia nem numa sessão sentados em frente ao PC a pesquisar. A nossa prática está em constante movimento e mudança e isso não exclui os festivais e só experimentando e vendo como as energias fluem entre si é que vamos entender se é algo a manter a longo prazo ou não. E é isso que este exercício é: Ver o que flui, o que não flui, o que gostamos e não gostamos, o que funciona e não funciona. E depois mudar! E podemos mudar no final do ano ou a meio do ano. Se chegarem a Julho e virem que não está a dar e querem tentar outra coisa, mudem e continuem a experimentar.
Pessoalmente fiz isto ao longo de 2020/2021: Criei a minha própria Roda do Ano, uma mistura entre festivais wiccanos, festivais helénicos, celebrações individuais e importantes para a minha prática pessoal, etc. E experimentei. E funcionou bem! Houve algumas coisas que optei por tirar porque não gostei da sensação ao longo do ano, outras que acabei por adicionar a meio do ano e outras que dei mais importância do que tinha pensando que iria dar inicialmente. Foi um processo de crescimento mas foi lindíssimo e planeio continuar em 2022 experimentando novas coisas e continuando a criar e a mexer na minha roda pessoal.
E vocês? Vão criar a vossa própria Roda do Ano? Quais os vossos festivais favoritos?
Crédito de Imagem: Unsplash (Natalia Y)