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Sob o Luar

XXI - O Mundo

Nome do Arcano: O Mundo
Número: XXI
Descrição: No baralho de Rider-Waite a carta do Mundo é presentada por uma mulher nua com um tecido roxo em seu redor, dançando dentro de grinalda. A mulher está olhar para trás enquanto o seu corpo está virado para a frente. Na sua mão estão dois bastões ou varinhas. Á volta da grinalda estão quatro figuras (um leão, um touro, um querubim e uma águia). *
Símbologia: No Arcano do Mundo a mulher nua está a olhar para trás, para o seu passado, enquanto o seu corpo está voltado para a frente, pronto a enfrentar o futuro que virá. Na sua mão tem, à Semelhança do Mago, dois bastões, simbolizando que aquilo que o Mago manifestou se tornou realidade e está nas mãos desta mulher. A grinalda redonda alerta-nos para o ciclo contínuo completado e o próximo que começará, pois tudo na vida são ciclos que começam e terminam. As figuras em torno da grinalda representam os quatro signos fixos do zodíaco (Leão, Touro, Aquário e Escorpião) e, à semelhança da sua presença na Roda da Fortuna, representam os quatro elementos, os quatros naipes do Tarot, os quatro pontos do compasso e as quatro estações. Estão aqui para nos guiar de uma fase para a outra do nosso ciclo constante. 

Significado:
  • Posição Normal
Na sua posição original a carta do Mundo é uma carta extremamente positiva. Representa o fim de um ciclo com sucesso e a vitória alcançada. Traz consigo uma sensação de conquista dos nossos objetivos. Seja um projecto a longo prazo, um desafio, uma fase na nossa vida ou apenas um pedaço do nosso caminho, esta carta mostra-nos que atingimos os nososs objetivos e chegamos ao fim deste pedaço da jornada com sucesso. Convida-nos a reflectir sobre o nosso passado e o que nos trouxe até este momento, a entender o que foi bom, o que foi mau, o que poderia ter sido melhorar e ajuda-nos a preparar para o novo ciclo que se inicia. Esta carta não é um fim mas sim uma celebração da conclusão de um ciclo e inicio de uma nova. 

  • Posição Invertida (esta posição é opcional)
Na sua posição invertida a carta do Mundo alerta para a necessidade de obter fecho numa situação em particular. É necessário fechar as pontas soltas e terminar um ciclo da nossa vida ou um projecto que esteja a decorrer. Este fecho pode estar pendente pela nossa impossibilidade de agir, por medo, por estarmos demasiado agarrados a algo. Este Arcano alerta-nos que temos de analisar a situação e conseguir libertar essas amarras, permitindo o fecho de um ciclo para começar um novo. Pode também alertar para o facto que não estão a ser tomadas todas as medidas ou passos que deveriam para atingir um determinado objetivo. É preciso reflexão interior para ver o que está em falta e conseguimos tomar os passos necessários para atingir o nosso objectivo. 

* A representação dos Arcanos varia de Baralho para Baralho, a descrição apresentada é com base no Baralho Rider Waite. 
Unsplash (Ava Sol)
Este artigo é uma nova versão de um artigo nosso postado em 2017 sobre as Tendas Vermelhas. Achei que estava na altura de darmos uma actualização a esse artigo e cá estamos nós. Hoje vamos falar sobre as Tendas Vermelhas, Círculos de Mulheres e o Sagrado Feminino. 

Começando pelas Tendas Vermelhas, este é um conceito antigo, apesar de nem sempre ter tido este nome, em que as mulheres das tribos se reuniam durante a sua menstruação e se recolhiam em si mesmas, partilhando conhecimentos, experiências e ensinamentos. Hoje em dia a tradição de dedicar atenção e cuidado à nossa menstruação é algo do passado. As vidas atarefadas da cidade, os empregos, as tarefas e até as redes sociais e a necessidade de estar sempre contactável e em movimento afastam-nos dos momentos intímos e reclusão interior. Existem várias mulheres, em todo o Mundo, a impulsionar este movimento tal como DeAnna L’am e ALisa Starkweather. Estas Tendas Vermelhas são encontros entre mulheres com o objectivo de ajudar a estabelecer uma comunidade de mulheres, como irmãs, e também com o objectivo de ajudar cada mulher, individualmente, a desenvolver-se a si mesma, a aprender sobre os seus ciclos e aprender a conviver com eles. O que acontece em cada reunião da Tenda Vermelha depende não só da organização mas também dos membros, do momento em que é realizada, do local onde é realizada e de imensos factores. Nenhuma reunião é igual a outra e são todas únicas. xistem Tendas Vermelhas em todo o mundo, aliás, a DeAnna L'am tem o projecto "Uma Tenda Vermelha em Cada Bairro" com o objectivo de que as Tendas Vermelhas cheguem a todos os bairros e todas mulheres do Mundo. No site indicado podem consultar quais as Tendas que existem perto de onde moram e como funcionam.

Para além das Tendas Vermelhas temos também os Círculos de Mulheres. Estes círculos são mais livres na sua organização mas são semelhantes ao conceito da Tenda Vermelha em que o objetivo é a união e reunião de um grupo de mulheres com o objetivo de trabalharem nelas próprias e na irmandade que é ali estabelecida. Contudo, os Círculos de Mulheres acabam por existir mais dentro de comunidades pagãs ou de bruxaria, no sentido em que são grupos de mulheres que se reunem para trabalhar a sua espiritualidade, trabalhar o Sagrado Feminino e trabalhar com o seu "eu interior", numa irmandade onde até podem ser realizados trabalhos mágicos, trabalhos oraculares ou, em certos casos, até trabalhos com divindades. Acaba por ter um espaço mais amplo de trabalho. Os Círculos de Mulheres acabam também por ser mais livres e não estão limitados pela formação dada nos conceitos das Tendas Vermelhas (onde há o ensinamento e a obtenção de um Grau para puder iniciar uma Tenda Vermelha). Existe uma maior liberdade na prática e na reunião das mulheres neste tipo de eventos. 

Tanto as Tendas Vermelhas como os Círculos de Mulheres acabam por se focar no trabalho com o Sagrado Feminino, ou seja, o lado feminino do Sagrado. Com isto não quer dizer necessariamente o trabalho com Divindades femininas mas com o conceito do Feminino como um todo. O Sagrado Feminino inclui o trabalho com o feminino interior, com o curar as feridas de séculos de opressão ao sexo feminino, curar as feridas de traumas*, desmistificar mitos relacionados com a sexualidade feminina, trabalhar com Divindades femininas, trabalhar com o nosso lado feminino da nossa polaridade (tanto homens como mulheres e não-binários, o Sagrado Feminino está aberto a toda a gente). Nem todos os grupos vão abordar todas estas temáticas e nem todos vão abordá-las da mesma forma. Há várias formas de fazer este trabalho e cabe a nós, praticantes, ver quais as que nos identificamos e com as quais (e de que forma) pretendemos trabalhá-las. As Tendas Vermelhas e os Círculos de Mulheres são apenas duas de muitas formas de realizar este tipo de trabalho interior. 

E vocês? O que acham deste tipo de trabalho? Conhecem? Participam?

* No caso de traumas derivados de situações traumáticas ou violentas, aconselhamos sempre o acompanhamento médico por parte de um psiquiatra ou psicológo de forma a lidar com estes traumas da forma mais adequada possível!


XX - O Julgamento

Nome do Arcano: O Julgamento
Número: XX
Descrição: No baralho de Rider-Waite a carta do Julgamento apresenta-nos homens, mulheres e crianças nús nas suas campas com os braços alçados para o céu. Acima o Arcanjo Gabriel, messangeiro do Deus monoteísta, toca o seu trompete. No fundo está um conjunto de montanhas que se extende no horizonte. *
Símbologia: No Arcano do Julgamento vemos a humanidade nua e nas suas campas perante ao Arcanjo, aguardando a sua chamada aos céus para serem julgados e saberem que vão ser aceites no Paraíso ou não. As montanhas no fundo da carta representam os obstáculos que a humanidade enfrenta na sua vida e o quanto inevitável é o julgamento das nossas acções. 

Significado:
  • Posição Normal
Na sua posição original a carta do Julgamento está a alertar-nos para a necessidade de tomar uma decisão que irá alterar o rumo da nossa vida e pede para que usemos a nossa intuição no processo da tomada de decisão, através da análise de decisões passadas e daquilo que já vivemos e do que a nossa intuição nos ensina e aprendeu ao longo do nosso trajecto. Este Arcano chama-nos a ouvir o nosso Eu interior e trabalharmos para atingir o nosso estado mais elevado e mais único. Este é um momento de limpeza das nossas feridas mais profundas, libertação da culpa e do sentimento de arrependimento interno. É o momento para nos limparmos desta carga negativa que trazemos às costas e nos elevarmos, tomando a decisão para atingir uma nova plataforma no nosso crescimento pessoal. 

  • Posição Invertida (esta posição é opcional)
Na sua posição invertida a carta do Julgamento pede por um período de reflexão e de mergulho interior. É necessário tirar tempo do nosso dia para meditarmos connosco próprios e fazermos trabalho interior com a nossa intuição e com o nosso Eu interior. Há imensas coisa que temos vindo a evitar na vida e temos de as enfrentar de cabeça erguida e entender como as mesmas nos afectam e o impacto que elas têm. Temos de trabalhar estas memórias e entender como as mesmas servem de lições na vida. Este Arcano invertido traz-nos a mensagem que o Universo quer que nos foquemos em algo maior, em algo interior, mas que nós não estamos dispostos a isso (ou por medo ou por distração). É necessário focar, libertar dos medos e aceitar o desafio que o Universo nos dá. 

* A representação dos Arcanos varia de Baralho para Baralho, a descrição apresentada é com base no Baralho Rider Waite. 

Hoje vamos continuar com uma nova série de artigos que se irão espalhar ao longo dos próximos tempos em que vamos abordar várias divindades, de vários panteões. Vamos falar sobre os seus mitos, as suas associações e um pouco da sua história. Estes artigos não têm como objectivo substituir a investigação sobre as divindades mas sim despoletar interesse e, também, fornecer alguns pontos de partida para iniciar contacto com as Deusas e Deuses de que falaremos. 

As informações contidas nestes artigos não são suficientes para sustentar uma prática de culto a uma divindade e investigação adicional é sempre necessária. No fundo de cada artigo deixamos uma lista de sites e livros recomendados sobre cada divindade, de forma a que possam explorar mais sobre cada Deusa e Deus que falamos aqui. Ao longo do artigo vamos deixando também links para informações adicionais e explorações aprofundadas de certos tópicos. 

Hoje vamos falar de mais uma Deusa do panteão grego, a Deusa Héstia. 

***

Nome: Héstia (Ἑστιη)

Panteão: Grego

História e Mitologia: Héstia foi a primeira filha a nascer entre o titã Cronos e a titã Rhea. Cronos foi avisado por Gaia e Uranos que o seu domínio do mundo iria terminar à mão de um dos seus filhos e, como tal, a cada filho que nasceu Cronos engoliu os mesmos imediatamente após o seu nascimento, começando por Héstia. Quando Zeus, o último dos filhos de Cronos e Rhea nasceu e foi levado para um esconderijo, voltando quase adulto para matar então o seu pai e libertar os seus irmãos, Héstia foi a última a ser regurgitada. Como tal é considerada tanto a mais velha como a mais nova dos seis irmãos. Já durante o domínio de Zeus e do domínio olimpiano, Héstia manteve-se virgem, inclusive perante os pedidos da sua mão em casamento por Apollo e Poseidon. A Deusa pediu a Zeus que permitisse que a mesma olhasse pelo Fogo Sagrado do Olimpo e, assim, mantendo-se Virgem eternamente. Ao que Zeus aceitou, transformando Héstia numa das primeiras Deusas virginais e a responsável pelo cuidado do Fogo Sagrado. Foi deste Fogo de Héstia que Prometeu roubou a centelha de fogo que deu à Humanidade para nos presentear com o elemento do Fogo. 

Celebrações: O culto a Hestia não era muito predominante na Antiguidade Clássica como as outras divindades. Hestia era honrada nos lares e em locais com lareiras. Era a Deusa da Chama Sagrada e Sacrificial e, como tal, em todas as oferendas queimadas em honra dos Deuses a primeira parte da oferenda era sempre dada a Héstia. A cozinha da carne sacrificada era parte do domínio de Héstia. O fogo acendido em honra a Héstia em templos ou locais de culto não poderia ser apagado e, caso fosse, não poderia ser acendido com fogo normal e teria um processo próprio para voltar a acender a chama destes altares. 

Geneologia: Filha de Cronos e de Rhea, é uma das primeiras Deusas Olímpicas e a primeira filha a nascer dos dois titãs contudo, sendo a primeira a nascer é também a última a ser regurgitada como tal é conhecida como sendo a irmã mais velha e, ao mesmo tempo, a irmã mais nova. 

Epítetos: Äídios ("Eterna"), Vasíleia ("Rainha"), Khlöómorphos ("Verdante"), Polýmorphos ("Multi-formada"), Potheinotáti ("Amada"), Prytaneia ("da Πρυτάνεις"). 

Símbolos: Fogo Sagrado, "The Hearth", Lareiras. Existe também alguns registos de lhe serem associados porcos e vacas. 

Leitura Recomendada: 

Theoi - Hestia
Hellenic Gods - Hestia
Hino Homérico 24
Hino Homérico 29
Hino Órfico 84

* Os links fornecidos pertencem a 'Affiliates Programs' e geram uma pequena taxa de lucro ao Sob o Luar. Não existe qualquer despesa adicional para o comprador.
Unsplash (Halanna Halila)

Uma das principais dificuldades de quem está a começar a estudar Paganismo e Bruxaria é a clarificação dos conceitos, dado que estes são muito confundidos na maioria dos sites e livros. Este artigo pretende esclarecer alguns conceitos principais do começo do seu estudo. Claro que, como creio ser óbvio, estas definições não são as "certas" nem as "erradas". São uma das várias definições que podem ser dadas e o seu objectivo é ajudar a clarificar quem está a começar a estudar.

Os três conceitos que vamos abordar este artigo são: Paganismo, Bruxaria e Wicca. Este artigo é uma nova actualização a um artigo antigo que tinhamos que já falava destes três pontos mas aqui serão abordados de forma mais desenvolvida e mais clara! 

  • Wicca
A Wicca é uma religião ou caminho espiritual que surgiu por volta da década de 1950 na Inglaterra, pelas mãos de Gerald Gardner. Se a mesma foi criada ou trazida a público pelo Gardner é uma questão que ainda é debatida nas comunidades pagãs, pelo que não iremos pronunciar-nos sobre isso.

A Wicca é um culto duoteísta que se concentra em duas divindades: A Deusa e o Deus. Estas duas divindades possuem diversas faces, podendo ser encaradas como Deusa e Deus ou como um outro Casal Sagrado, presente numa mitologia à escolha do praticante. Na Wicca são celebrados os 8 festivais da Roda do Ano (Samhain, Yule, Imbolc, Ostara, Beltane, Litha, Lughnassadh e Mabon) que são as celebrações da Natureza e a passagem das estações, associadas ao Mito da Roda do Ano, que poderá ser visto na secção das Celebrações. Para além destas festividades, na Wicca ainda se celebra os Esbats que são celebrações de Lua, sendo que são realizados rituais ou celebrações relacionados com cada fase da Lua em questão.

A Wicca é dividida em duas principais ramificações: Wicca Tradicional e Wicca Moderna. A Wicca Tradicional é a vertente mais antiga, baseada nos trabalhos de Gerald Gardner e de Alex Sanders sendo que é bastante rígida e conta com a presença das Leis Wiccans, obrigatoriedade de ritos 'skyclad', entre outros aspectos. A Wicca Moderna, como o próprio nome indica já conta com um método mais aberto, dado que é a junção de todos os novos caminhos que surgiram e ainda surgem dentro da Wicca e que contam com uma maior liberdade de trabalho e com a presença, em vários casos, da "auto-iniciação", conceito introduzido por Raymond Buckland. Na Wicca existe, como em todos os lados, diversas controvérsias. A principal é relacionada com a Iniciação. A Wicca é, tradicionalmente, um caminho iniciático e sacerdotal (isto significa que é um caminho no qual a Iniciação é obrigatória e todo o iniciado é Sacerdote). A controvérsia em torno deste assunto trata-se que a vertente tradicionalista acredita e defende que a Iniciação deverá ser feito dentro de um coven estabelecido e com todas as regras que isso incluí, enquanto grande parte da vertente Moderna defende o conceito de "auto-iniciação". 

Por fim é importante realçar a forte ligação existente na Wicca pelo culto à Natureza e pela fertilidade, algo que está sempre presente na prática Wiccana tal como, é necessário, realçar a utilização da Magia e da Bruxaria enquanto ofício, por parte de grande parte dos Wiccans.

  • Bruxaria
"A Bruxaria é um ofício que utiliza a magia para obter fins específicos" - Esta é uma adaptação da frase que estava no site Bruxaria.net (um dos primeiros sites voltados para a Bruxaria e Paganismo em Português!) que acho que resume de forma sucinta o que é a Bruxaria. A Bruxaria é uma forma de trabalhar com a magia. A Bruxaria não é uma religião e pode ser praticada por pessoas de qualquer caminho espiritual/religioso ou, até, de quem não segue nenhuma religião ou espiritualidade em específico. Existem imensas formas de praticar Bruxaria tal como Bruxaria de Cozinha, Bruxaria Natural, Bruxaria Tradicional, entre outras. É um grande espectro de práticas que podem ser adaptadas e praticadas por quem pretender. Não existem regras nem leis gerais associadas à Bruxaria sendo que não há uma unificação deste ofício. O mesmo é praticado por pessoas de todos os caminhos, idades, géneros, etnias, etc. 

  • Paganismo
O Paganismo é um termo umbrella que engloba diversos caminhos espirituais/religiosos que têm entre si algumas parencenças: Imaginem ma árvore bem grande e forte, com um tronco bastante largo. Esse tronco largo, é o Paganismo. O Paganismo é o tronco de uma árvore e os caminhos dentro do Paganismo são os ramos. São vários os caminhos que se podem incluir dentro do Paganismo tal como a Wicca, Neo-Druidismo, Neo-Xamanismo, Reconstrucionismo Celta, Reconstrucionismo Egípcio, Recontrucionismo Romano, Recontrucionismo Helénico, Reconstrucionismo Nórdico (Asatru, Odinismo, etc.) e muitos outros caminhos diferentes. Todos estes caminhos partilham alguns pontos-chave em comum tal como a ligação e o respeito pela Terra e a Natureza e a tentativa de reconstrução ou adaptação de práticas pagãs pré-cristãs. O Paganismo é um termo bastante díficil de definir porque há várias formas de o definir. Recomendo a leitura do texto "The Big Tent of Paganism" do John Beckett que faz uma reflexão muito interessante sobre a definição e sobre o que é o Paganismo. 


***

Estas são apenas definições simplificadas acerca destes caminhos: Não servem como informação completa para iniciar uma prática. Recomendamos a leitura de mais artigos relacionados com o tema (temos uma secção para Iniciantes aqui no site) e uma vista de olhos pela nossa secção de Recursos que conta com imensas recomendações de livros, websites, canais de Youtube, entre outros. 

E vocês? Praticam algum destes caminhos?

XIX - O Sol

Nome do Arcano: O Sol
Número: XIX
Descrição: No baralho de Rider-Waite a carta do Sol é caracterizada por um Sol radiante no fundo da carta. Por baixo do Sol estão quatro girassóis em flor. Na parte principal temos uma jovem criança sentada no topo de um cavalo branco. *
Símbologia: No Arcano do Sol temos um Sol radiante no fundo da carta que representa o optimismo e a positividade. Representa a força da vida que nos alimenta. Os quatro girassóis representam, cada um deles, os quatro elementos e os quatro naipes dos Arcanos Menores. A criança, na parte da frente da carta, representa a tranquilidade de estarmos unidos à nossa criança interior e em harmonia connosco próprios. A sua nudez mostra-nos que a criança não tem nada a esconder e está equilibrada consigo mesma. O cavalo branco, tranquilo enquanto a criança anda em cima dele, representa a força e a pureza. 

Significado:
  • Posição Normal
Na sua posição original a carta do Sol é uma das cartas mais positivas do baralho de Tarot. Representa o sucesso, a felicidade e a abundância. Traz-nos força para enfrentar os momentos díficeis da vida e recorda-nos que dentro de nós há um Sol a brilhar e que nos guiará pelos tempos mais escuros do nosso caminho. O Sol mostra-nos também que os outros conseguem ver este Sol dentro de nós e que por isso atraímos outras pessoas para junto de nós e podemos cuidar e amá-las. Esta é uma carta de esperança que as coisas vão melhorar ou estão a melhorar e que as dificuldades que possam estar a ser atravessadas estão a ser resolvidas ou serão resolvidas muito em breve. O Sol conecta-nos com o nosso ser interior e incentiva-nos a atingir o equílibrio interior, tal como a criança na imagem do Arcano. Esta é uma carta energética, positiva e de boas notícias. 

  • Posição Invertida (esta posição é opcional)
Na sua posição invertida a carta do Sol alerta-nos que podemos estar a ser optimistas demais e impedir-nos de ver a realidade a nossa volta. Recorda-nos que em tudo temos de ter moderação e temos de ver as coisas com os olhos atentos e não ignorar aquilo que nos magoa. Apesar da nossa confiança interior, temos de saber olhar para os desafios e entendê-los. O Sol nunca é uma carta negativa, contudo, ele alerta-nos para a necessidade de vermos as coisas como elas são. Noutro cenário, a carta do Sol invertida pode também recordar-nos que temos de ver o bom nas coisas e não focar apenas no mau. Precisamos de equílibrio e apesar de ser díficil ver no escuro, temos de encontrar uma luz dentro de nós, a nossa criança interior cheia de esperança, e permitir que a mesma nos ilumine o caminho e permita ver o positivo no meio da tempestade. 

* A representação dos Arcanos varia de Baralho para Baralho, a descrição apresentada é com base no Baralho Rider Waite. 
Unsplash (Element5 Digital)

Hoje voltamos a falar sobre a Bruxaria de Cozinha e os Sabbats e vamos falar de Samhain! 

Se quiserem saber mais sobre este festival temos um artigo aqui no nosso site sobre o mesmo!

Festival: Samhain
Datas: 31 de Outubro (HN) ou 1 de Maio (HS)

Samhain (pronuncia-se “sou-en”) é também denominado de Halloween, Hallowmas, Véspera de Todos os Sagrados, Véspera de Todos os Santos, Festival dos Mortos e Terceiro Festival da Colheita. Samhain é considerado um dos mais importantes festivais Wiccanos ao lado de Beltaine. Samhain realiza-se quando o Sol está a 15º de Escorpião (no Hemisfério Norte) e a 15º de Touro (no Hemisfério Sul). Pode também ser celebrado na data tradicional que é 1 de Maio (Hemisfério Sul) e 31 de Outubro (no Hemisfério Norte).

Este é um festival para honrar os nossos antepassados e Ancestrais. Podemos, e devemos, partilhar alimentos com os mesmos, convidá-los para as nossas mesas e honrar a sua importância na nossa vida, no nosso caminho e na nossa existência. Muitos Bruxos optam por deixar um lugar à mesa para os Ancestrais ou colocar comida no altar ou, em algumas práticas, deixar um prato com comida no alpendre ou no lado de fora de casa para alimentar os espíritos que vagueiam na noite das Almas. 

Um dos principais símbolos deste terceiro, e último, festival das Colheitas é a Abóbora. Todos conhecemos a associação da abóbora com o Halloween e ela não deixa de ter menos impacto no Samhain! A abóbora é um alimento rico nesta altura do ano e extremamente versátil. Desde sopas, tartes, bolos, biscoitos, lattes e até sementes de abobora assadas no forno existem mil e um pratos que podem ser feitos com aboboras. É caso para dizer que o céu é o limite da nossa imaginação. Sejam inventivos e podem utilizar este produto em qualquer prato sejam sobremesas ou entradas.  

Outro alimento que tem também um grande papel durante este festival de Samhain é a romã. A romã está associada a Samhain devido à sua ligação com o Mito de Persephone e a sua Descida ao Submundo, que é assinalada perto desta altura do ano. Também a romã pode ser usada de diversas formas: para fazer sumos, em saladas, em tartes e muitas outras variantes. Podem também ser colocadas em altares em honra à Deusa Persephone e celebrando a sua descida de volta ao Submundo. 

Para além das abóboras e romãs, também outros alimentos costumam estar presentes à mesa durante esta altura do ano como todo o tipo de frutos secos e cereais que podem ser utilizados para cozinhar diversos pratos (recordamos que Samhain é o Terceiro Festival das Colheitas, por isso, todos os alimentos consumidos nos outros dois festivais podem fazer parte da mesa nestas celebrações). Também o vinho quente com especiarias é excelente para esta altura do ano, tal como todo o tipo de vegetais de raízes como batatas, cenouras, nabos, beterrabas, etc. 

Samhain é uma altura para reunir a família, festejar o fim de um ciclo e celebrar aqueles que vieram antes de nós ou que já não estão connosco. Façamos banquetas e celebremos a vida, agora que o ano termina e o Sol se esconde! Que a alegria deste festival possa manter-se dentro de nós até o Sol nascer forte novamente. 

E vocês? Que tipo de alimentos gostam de cozinhar nesta altura do ano? 

Referências: 
"Wicca in the Kitchen" de Scott Cunningham 
"Kitchen Witchcraft (Pagan Portals)" de Rachel Patterson
Capas dos Livros
Título: Wicca for Beginners: Fundamentals of Philosophy & Practice
Autor(es): Thea Sabin
Pontuação: ★★★★
Descrição: O livro Wicca para iniciantes, da autora Thea Sabin, aborda aspectos básicos de mistérios e práticas da magia Wicca, em uma linguagem acessível aos não-iniciados, dando um panorama da "nova religião ancestral" que combina algumas tradições remanescentes da bruxaria com elementos modernos. Lançada no exterior com grande sucesso, esta obra chega ao Brasil para atender a ampla demanda de interessados no assunto, confirmada pelo número crescente de títulos sobre o tema.
Onde Comprar*: Wook (PT) | Wook (EN) | Scribd (Ativa dois meses grátis!)
Análise: Quero começar esta análise literária partilhando uma citação do livro que me agradou imenso!

"But remember, reading is not enough. Wicca is not a “religion of the book.” It is about engaging with life, and it requires active participation and practice over time. So do the exercises in this and other basic Wicca books. Begin assembling your own Wiccan practice. Explore the Wiccan ideas that sing to you, and create some rituals for yourself. Build an altar. Talk to the gods. Start a book of shadows. Most of all, open yourself up to the transformation and self-discovery that walking the Wiccan path can inspire."

Este livro surpreendeu-me pela positiva, não estava à espera que fosse um livro tão bom, para ser honesta. Este é um fantástico livro para iniciantes ou interessados na Wicca Moderna e irei sem dúvida começar a recomendá-lo vivamente. Está na altura de começarmos a recomendar mais livros actuais e começar a largar a nostalgia dos clássicos da Wicca e do Paganismo, porque os mesmos estão cada vez mais desactualizados para os nossos tempos. Este livro, pelo contrário, achei-o fantástico para as nossas comunidades actuais. 

A autora explora bastante os pontos importantes da Wicca, citando grandes autores como Joseph Campbell e outros, mostrando os pontos de vista éticos, religiosos e as bases necessárias para um bom culto religioso (que é isso que a Wicca é, uma religião). Após explicados estes pontos principais, a Thea Sabin avança então para a parte prática falando dos instrumentos, dando um foque fantástico na meditação, no grounding, pathworking, warding e todos os básicos energéticos que são essenciais para uma prática mágica e wiccana. Honestamente, nunca um livro de iniciantes abordar tão bem e de forma tão clara estes temas! 

De seguida, a autora começa então a abordar as informações típícas da Wicca como os Deuses, o Círculo, as Ferramentas, o Altar, etc. No fim, temos um excelente capítulo que nos ajuda a por em prática tudo o que aprendemos ao longo do livro e como continuar a partir dali. A autora fornece também imensos recursos e recomendações de outros títulos de livros e recursos para ler e explorar a prática. 

O livro está também recheado de exercícios que podem (e devem!) ser realizados para ajudar a começar e melhorar a prática de cada um. 

Sinceramente achei este livro muito bom e irei começar a recomendá-lo frequentemente!

* Os links fornecidos pertencem a 'Affiliate Programs' e geram uma taxa de lucro ao Sob o Luar. Não existe qualquer despesa adicional para o comprador. 
XVIII - A Lua

Nome do Arcano: A Lua
Número: XVIII
Descrição: No baralho de Rider-Waite a carta da Lua é representada por uma grande Lua Cheia no céu nocturno posicionada entre duas torres e com um caminho por baixo. Na frente temos um pequeno lago com um lagostim a sair da água e, perto do lago, a relva temos um cão e um lobo a uivarem à Lua.  *
Símbologia: No Arcano da Lua temos uma Lua Cheia no céu nocturno que representa a intuição, os sonhos e o subsconsciente. A sua luz é mais ténue comparada com o Sol, mas a Lua traz-nos a luz sobre os mistérios da noite e da mente e sobre o caminho da nossa espiritualidade, representada pelo caminho no meio das torres. O pequeno lago representa a mente consciente, de onde sai o lagostim, que vem aqui representar o início da criação e o começo do nosso desenvolvimento consciente. O cão e o lobo, uivando à Lua, simbolizam os lados selvagens e domesticados da nossa mente, perante as energias lunares. 

Significado:
  • Posição Normal
Na sua posição original a carta da Lua representa os nossos medos e inseguranças. Estamos a ser influenciados por traumas ou emoções do nosso passado que estão a influenciar as nossas acções do presente. Estamos a deixar que o nosso passado interfira com as nossas acções actuais e temos e agir contra isso. Este é um momento de incerteza no qual temos de nos voltar para dentro e ouvir a nossa intuição. Temos de consegui lidar com estes medos e ansiedades, seja através de terapias ou curas naturais, mas é preciso agir e não deixar que esses aspectos mais escuros dominem a nossa vida. A Lua indica também a necessidade de ouvir a nossa intuição e de nos sintonizarmos com a verdadeira Lua no céu e que nos focarmos nos seus ritmos. Ver em que fase da Lua estamos, o que ela significa, meditar com ela, etc. Fazer trabalho lunar é aconselhado na presença desta carta. 

  • Posição Invertida (esta posição é opcional)
Na sua posição invertida a carta da Lua mostra-nos que estamos a conseguir lidar com as nossas ansiedades e medos de forma correcta e que estas energias negativas que nos rodeavam estão a começar a desaparecer. Contudo, a carta alerta-nos para termos noção que temos de trabalhar e manter o nosso trabalho quanto a estas emoções e não podemos apenas querer escondê-las pois tal como a Lua vai de Nova a Cheia, também as nossas emoções não ficam escondidas para sempre. É preciso enfrentá-las e saber lidar com as mesmas. Esta carta, nesta posição, pode também representar que existem mensagens que estão a ser recebidas mas não corretamente interpretadas. É preciso ouvir os Guias e meditar sobre o assunto ou até consultar métodos divinatórios alternativos. 

* A representação dos Arcanos varia de Baralho para Baralho, a descrição apresentada é com base no Baralho Rider Waite. 
Unsplash (Joanna Kosinska)

Hoje voltamos a falar sobre a Bruxaria de Cozinha e os Sabbats e vamos falar de Mabon ou Equinócio de Outono! 

Se quiserem saber mais sobre este festival temos um artigo aqui no nosso site sobre o mesmo!

Festival: Equinócio de Outono ou Mabon
Datas: 20/21/22/23 de Setembro (HN) ou 20/21/22/23 de Março (HS)

Mabon (pronuncia-se “mêibon”), também denominado de Sabbat de Outono ou Equinócio de Outono é o Segundo Festival das Colheitas. Tem lugar quando o Sol está a 0º de Libra (no Hemisfério Norte) e 0º de Áries (no Hemisfério Sul), ou seja, ocorre por volta de 21/22/23 de Setembro (no HN) e Março (HS). Os Equinócios são pontos de equilíbrio, onde a Luz e a Escuridão estão iguais. A partir desta data, o período escuro do ano começa e a escuridão vence uma vez mais. Relembro que escuridão não significa algo mau, é somente uma referência à falta da intensidade do Sol e o começo e vitória do Inverno. As noites tornar-se-ão mais longas e os dias mais curtos até chegar o Inverno.

Um dos principais símbolos deste segundo festival das Colheitas é o Milho. Esta é a altura da colheita do milho e em Portugal temos uma grande cultura, que já se está a perder, à volta do milho e da desfolhada do milho. Este é um momento ideal para procurar mais sobre estas tradições e como as mesmas podem ser aplicadas à nossa actualidade pagã. O milho pode ser utilizado em diversos pratos como maçaroca assada, milho com arroz, salada de milho, milho no forno, etc. Existem mil e uma formas de utilizar o milho na cozinha e de lhe dar um lugar de destaque à mesa. 

Outro alimento que tem também um grande papel durante o Equinócio de Outono são as maçãs! Com o mês de Setembro vem o período da apanha da maçã e podemos utilizar esta fruta nos nossos pratos e cozinhados, seja no forno, cozinhada, assada, em tartes, em compotas e doces, etc. Em termos mágicos a maçã tem uma grande simbologia, não só pela associação cristã do "fruto proibido do Jardim do Éden" mas também pelo facto que se cortarmos uma maçã ao meio, as suas sementes irão formar um pentagrama. É um dos frutos associados à Bruxaria e, como tal, esta é a época perfeita para lhe dar um lugar privilegiado à mesa. No caso de ter um jardim ou quinta onde tenha uma macieira pode aproveitar para apanhar as maçãs e conservar as mesmas através de doces e compotas que podem ser usadas ao longo do Inverno que virá. 

Para além do milho e das maçãs, também outros alimentos costumam estar presentes à mesa durante esta altura do ano como as castanhas, as abobóras (que terão um papel de destaque ainda maior em Samhain!), feijões, nozes e o pão, que continua a ter o seu lugar à mesma após Lughnassadh. Aliás, se quiserem juntar o pão e o milho podem fazer pão de milho ou broa de milho que são pães bastante tipicos em Portugal. 

Esta é uma celebração rica em diversas actividades e a segunda de três celebrações relacionadas com as Colheitas, por isso, não tenham medo de inovar e experimentar coisas novas. 

E vocês? Que tipo de alimentos gostam de cozinhar nesta altura do ano? 

Nota: Existe um grande debate nas comunidades pagãs por detrás do uso das palavras Mabon/Ostara/Litha. Para fácil acesso por iniciantes optámos por manter a denominação neste artigo, contudo, aconselhamos a leitura deste texto e deste texto para esclarecimentos adicionais. 

Referências: 
"Wicca in the Kitchen" de Scott Cunningham 
"Kitchen Witchcraft (Pagan Portals)" de Rachel Patterson
Capas dos Livros
Título: Wicca: A Modern Guide to Witchcraft & Magick
Autor(es): Harmony Nice
Pontuação: ☆☆☆☆☆
Descrição: Harmony Nice, uma estrela do YouTube e do Instagram, está no centro de uma comunidade cada vez maior de jovens wiccanos que praticam a magia para enriquecer as suas vidas e o mundo à sua volta. Uma magia que nada tem a ver com maldições assustadoras ou adorações maléficas, mas que é uma ferramenta para superar obstáculos e encontrar a felicidade. Neste livro, Harmony encoraja-nos a explorar o impacto positivo que o ritual, a meditação e o abraçar da natureza podem ter sobre a nossa criatividade, confiança, resiliência e sentido de autovalorização.
Aprenda a lançar feitiços, a usar o poder dos cristais, das runas, a fazer altares em casa e a utilizar utensílios mágicos. Descubra ainda o poder das cores e das plantas. Comece o seu Livro das Sombras para documentar tudo o que aprender e descobrir ao longo da sua jornada. Sozinha ou numa assembleia sinta-se confiante para seguir um caminho que seja confortável e verdadeiro para si. 
Onde Comprar*: N/A
Análise: Bem... nem sei por onde começar. Tenho a dizer que este foi o pior livro que li nos últimos anos, relacionado com Paganismo e Bruxaria. Sim, leram bem: O pior. Por algum motivo lhe dei zero estrelas. 

Vamos analisar o que me faz achar que este livro é o pior? Vamos lá, por prós e contras:

Prós:
  • A capa é bonita.
  • Tem alguns pontos sobre magia urbana e magia discreta para adolescentes que são interessantes, contudo, isto são conteúdos que rapidamente são encontrados online (até no Sob o Luar temos artigos sobre o assunto) e em vários outros livros. 
Contras:
  • A autora apresenta a Wicca, neste livro, como se fosse um produto de wellness a vender. Está constantemente a falar dos "benefícios" da Wicca e tem inclusive um capítulo inteiro dedicado a "Porque Explorar a Wicca" onde se foca em pontos como meditação é boa para a saúde, a Wicca permite ter actos de self-care e muitas outras razões que em nada estão relacionadas com a Wicca ou com a Bruxaria. 
  • A organização dos capítulos está terrível. A autora começa por dar uma introdução de Bruxaria, Wicca e Paganismo (sendo que é uma introdução extremamente pequena e sem grande conteúdo por onde se pegue) e salta automaticamente para Divinação e "Natureza". A Divinação nem está relacionada com a Wicca diretamente, é apenas uma prática que os praticantes podem fazer se assim desejarem. Só após falar destes tópicos é que começa por abordar a Ética na Wicca (falando da Lei Tríplice e da Rede Wiccana), o que vamos abordar já de seguida. 
  • No capítulo em que a autora fala sobre a Lei Tríplice e a Rede Wiccana a mesma comete imensas falácias! É dos piores capítulos do livro. A autora começa por dizer que a "Wicca é uma religião super-livre" e que apenas quem quer segue a Rede Wiccana e a Lei Tríplice! Isto é terrível. A Rede Wiccana e a Lei Tríplice são bases da Wicca Moderna e transcendentes a quase todos os caminhos da Wicca. A forma como a autora apresenta a religião é como se fosse um puzzle em que se pode pegar em várias peças e montar como for a nossa vontade, sem qualquer respeito pela estrutura e práticas típicas da Wicca. Adicionalmente a autora fala que "ninguém sabe" quem escreveu a Rede Wiccana. Isto é, novamente, uma falácia. Basta uma rápida pesquisa online para entender mais sobre a Rede Wiccana e as origens da Wicca e dos seus textos sagrados. Temos vários livros focados na História da Wicca e dos principais responsáveis pelo seu surgimento (inclusive auto-biografias) que nos ajudam a entender a História desta religião. Não são propriamente segredos mas requerem estudo e leitura de conteúdos fora das redes sociais que creio ser uma das dificuldades da autora. 
  • No capítulo em que a autora explica os vários caminhos dentro da Wicca, para além de fazer uma grande mistura nos vários caminhos e incluir algumas práticas fechadas como cultos africanos como tradições Wiccanas, ainda refere que "ninguém sabe muito sobre a Wicca Gardneriana" quando, novamente, uma breve pesquisa no Google lhe iria mostrar vários autores e membros de covens Gardnerianos que falam abertamente sobre a Tradição (obviamente, não divulgando os mistérios e segredos inerentes à mesma). Inclusive, planeio brevemente analisar o livro da Thorn Mooney sobre Wicca Tradicional, uma autora que recomendo imenso. 
  • No capítulo da "Magia" a autora refere sobre "Regras da Magia" mas em nenhum momento apresenta fonte para as mesmas. Aliás, ao longo de todo o livro, nunca são apresentadas fontes, recursos, autores, etc. E isto nota-se acima de tudo na secção de "Recursos" onde a autora refere apenas DOIS autores (Skye Alexander e Scott Cunningham). A mesma consegue referir mais Youtubers e Instagrammers do que autores e membros das comunidades pagãs! Não quero, de todo, desmorecer o trabalho dos pagãos que passam o conhecimento através de métodos online, afinal de contas, eu sou uma delas! Mas sou a primeira a dizer que os conteúdos online não são suficientes. O meu blogue não é suficiente, um instagram não é suficiente, um tumblr não é suficiente. Há que entender estas questões e saber fornecer bons recursos (por falar isso, recordamos que temos uma secção de Recursos!)
  • Por fim, a autora até apresenta algumas informações correctas na parte prática como as correspondências, cuidados com cristais, etc. Mas isto são informações que são facilmente obtidas em autores de confiança e em livros dedicados ao assunto, como tal, não devem ser enaltecidos num livro cujo enfoque seria a Wicca. 
Na minha opinião, a autora vende este livro e a Wicca como se fossem estéticas de Instagram e terapias de Self-Care e Self-Help, sem qualquer noção pela religião e espiritualidade. Inclusive, tirei o tempo de ir ver um ou dois vídeos dela no Youtube a mesma refere que criou toda uma estética em volta da sua pessoa, dando ainda mais razão a este argumento. 

A meu ver, há muitos fantásticos recursos em livros que podem ser úteis para iniciantes mas este não é um deles. 

* Os links fornecidos pertencem a 'Affiliate Programs' e geram uma taxa de lucro ao Sob o Luar. Não existe qualquer despesa adicional para o comprador. 
XVII - A Estrela

Nome do Arcano: A Estrela
Número: XVII
Descrição: No baralho de Rider-Waite a carta da Estrela é representada por uma mulher nua de joelhos perto de um pequeno lago/poça. Ela tem na mão dois recipientes, um de onde coloca água no pequeno poço e outro onde coloca para a terra, divindindo em em três pequenos rios. Ela tem um pé no chão e um pé na água e está nua. Atrás dela, brilha uma estrela grande em tons amarelos e sete estrelas pequenas brancas. *
Símbologia: No Arcano da Estrela temos uma mulher nua ajoelhada junto a um pequeno lago. A sua nudez representa a sua vulnerabilidade e a sua pureza debaixo do céu estrelado. Um dos seus pés está na terra, mostrando-nos o seu equílibrio interior e ligação à terra enquanto o pé na água representa a intuição e a voz interior, e a sua capacidade de estar ligada ao que o seu interior diz e orienta. Os dois recipientes na sua mão representam o consciente (o da mão direita) e o subsconsciente (o da mão esquerda) sendo que o que está a ser deitado para o lago representa a nutrição da terra e a continuidade do círculo da fertlidade (vista nos campos verdes em redor do pequeno lago) e o que está a ser deitado para a terra, e dividido em cinco rios, representa os cincos sentidos que são alimentados por esta acção. 

Significado:
  • Posição Normal
Na sua posição original a carta da Estrela vem representar a tranquilidade e as melhorias após um momento díficil (na ordem dos Arcanos, vem logo a seguir à Torre). Esta carta vem representar uma sensação de esperança e fé renovada, nomeadamente uma maior ligação ao Divino e ao Espiritual, quer dentro de nós quer em nosso redor. É um momento de maior equílibrio interior, de maior satisfação e conhecimento pessoal e espiritual e de estabilidade a nível emocional e psicológico. É uma carta de recuperação e de redescoberta pessoal, seja a nível das nossas sensações internas, pensamentos, crenças e pontos de vista mas também da vida em nosso redor. Podem estar a ser feitas mudanças importantes na nossa vida e estamos cheios de esperança e optimismo para estas mudanças e a Estrela vem fomentar esse optimismo. Este arcano é uma excelente representação do ditado "ano novo, vida nova", ou seja, que devemos apostar nas mudanças positivas que queremos implementar na nossa vida para estar em maior equílibrio connosco mesmos. 

  • Posição Invertida (esta posição é opcional)
Na sua posição invertida a carta da Estrela significa exactamente o oposto da sua posição normal. Nesta posição, ao invés do encontrar de um equílibrio e de uma melhoria interior, falamos da perda de esperança e de conexão com o Universo e com o Divino. Sentimo-nos perdidos e sem saber para onde nos virar e para onde recorrer. Estamos desligados da nossa vida, da nossa rotina e daquilo que nos é importante e que nos faz bem. Esta carta, nesta posição, urge-nos a parar, focar em nós mesmos e tratar de nós ("self-care") para que possamos voltar a encontrar o ponto de equílibrio necessário para seguir em frente na nossa jornada da vida. É necessário parar, recalibrar e conseguir chamar para nós os pontos positivos da carta da Estrela. 

* A representação dos Arcanos varia de Baralho para Baralho, a descrição apresentada é com base no Baralho Rider Waite. 
Unsplash (Heather Mckean)

O tópico de hoje é inspirado num vídeo da TCS sobre "Deuses de Prateleira", um tema que adquiri após ouvir eles falar e ver o vídeo deles em 2015 e que tem vindo a fazer parte do meu vocabulário e que acho importante refrescar a memória sobre ele. Aconselho também a verem o vídeo deles e os restantes vídeos que fazem parte do canal, porque são excelentes recursos. 

O que são, então, Deuses de Prateleira? O nome de Deuses de Prateleira vem do facto de que muitos praticantes, principalmente quem está a começar no caminho, tem tendência a ver os Deuses como ferramentas para determinados objetivos e a colocar os mesmos dentro de caixinhas como "Deusa do Amor", Deus da Guerra", Deusa do Casamento", "Deusa da Vida Selvagem", etc. Esta simplificação das divindades leva a que os mesmos sejam vistos apenas como meras ferramentas e não como divindades inteiras com mitos, características, personalidades, etc. 

Isto faz com que, muitos praticantes, quando estão a iniciar as suas práticas acabam por utilizar diversos Deuses para certos rituais e feitiços. Ou seja acabam por usar os Deuses como se eles fossem frascos numa prateleira. Para feitiços de amor chamam Afrodite, para feitiços de sabedoria chamam Atena e por aí fora, dependendo da sua necessidade, chamando pela divindade única e exclusivamente para aquele trabalho, descartando todas as outras suas características e até o respeito pela própria divindade em si. 

Ao trabalharmos com uma divindade a longo prazo, seja a nível de um Sacerdócio ou até a nível meramente devocional, estamos a estabelecer uma relação com aquela divindade e essa relação vai além das suas características. Ou seja, Hekate pode ser uma Deusa ligada à Magia, aos Caminhos, às Encruzilhadas e aos Portões (entre outros) e não ter qualquer relação com o campo amoroso ou com o campo das relações amorosas. Contudo, como devota de Hekate, nada me impede de recorrer à divindade com a qual tenho uma melhor e maior ligação para pedir auxílio no campo amoroso. Os Deuses não podem ser limitados pelas suas características nem devem ser vistos como apenas ferramentas para um determinado propósito. Não só estabelece uma péssima relação com as divindades mas também uma falta de respeito para com os mesmos. 

Vejamos neste prisma: Temos um amigo que é informático. Mas ele é nosso amigo, certo? Não recorremos a ele apenas para questões de informática. Não colocamos os nossos amigos ou familiares em caixas dependendo das suas habilidades ou profissões de forma a que possamos recorrer aos mesmos dependendo do que necessitamos. Claro que podemos pedir ajuda aos mesmos, mas não vamos apenas chegar ao pé deles, sem estabelecer qualquer tipo de relação ou amizade, e pedir coisas pois não? Se temos um primo que é médico mas com quem não falamos à anos (ou até, com quem nunca falámos) não vamos correr ter com esse primo à mínima dor no joelho pedir ajuda e depois desaparecer sem voltar a referir palavra, certo? O mesmo ocorre com os Deuses. 

Não podemos correr as divindades como se fossem Deuses de Prateleira, apenas recursos a ser utilizados e descartados quando já não há necessidade dos mesmos. Devemos vê-los como entidades e divindades inteiras, com as suas características, personalidades, correspondências, mitos e história e respeitá-los. honrá-los e trabalhar ou dedicar àqueles com os quais nos sentimos mais ligados e realizar trabalho com essas divindades. Não significa, é claro, que para coisas específicas não possamos pedir ajuda a divindades com as quais não temos uma relação tão frequente. Nada disso! É claro que podemos alargar os nossos horizontes para outras divindades fora do nosso círculo pessoal, contudo, devemos fazê-lo com respeito e conhecimento e não apenas como quem vai buscar as especiarias ao armário e volta a colocar no sítio, esquecendo-se que elas existem. 

E vocês? Qual a vossa opinião? 
Capas dos Livros
Título: Llewellyn's Witches' Companion
Autor(es): Vários, editado por Llewellyn
Pontuação: ★★★★★
Descrição: Um guia indispensável que é lançado todos os anos com textos de autores proeminentes nas comunidades do Paganismo e da Bruxaria, com temas que estão no centro das nossas comunidades em cada ano. Desde textos sobre práticas mágicas, dicas para o quotidiano, questões sociais e políticas, questões pessoais, inspirações, receitas e muito mais, estes são livros para nos acompanhar ao longo do ano e permitir uma visão do ano dentro das comunidades pagãs. 
Onde Comprar*: Scribd (Ative dois meses grátis!)
Análise: À vários anos que sou grande fã destes Companions e reparei recentemente que nunca falei deles aqui no blogue e bem, não pode ser! 

A Llewellyn é uma editora bastante conhecida a nível do Paganismo e Bruxaria, tendo já lançado diversos autores e livros relacionados com as nossas comunidades. E, à mais de dez anos, que publicam anualmente diversos livros para as comunidades como os Almanaques, Moon Signs, Sun Signs, Spell-a-Day, Calendários, entre muitos outros recursos. Um dos recursos que mais gosto destas publicações anuais é o Witches' Companion. 

O Witches Companion é um livro lançado todos os anos e que conta com um enorme leque de artigos por membros das nossas comunidades tais como Storm Faerywolf, Thorn Mooney, Deborah Lipp, Jason Mankey, Tess Whitehurst, Raven Digitalis, entre outros. Desde tópicos relacionados com o estado da nossa sociedade e das nossas comunidades, relacionados com prática de certos tipos de Bruxaria ou de certas práticas, dicas para culinária e práticas mágicas e até informações e textos sobre espiritualidade. São variados os tipos de conteúdos que conseguimos ter acesso neste livro que vende a um preço extremamente acessível em plataformas como o BookDepository e Amazon. 

Para além destes textos fantásticos, o livro conta também com um calendário e recursos para a prática pagã. Na minha opinião, este livro complementado com o Magical Almanac (também da Llewellyn e que espero abordar no blogue brevemente) são dois livros essenciais para o correr do ano, principalmente para quem gosta de se manter ligado às comunidades e às temáticas que vão sendo abordadas. 

Este é, para mim, um excelente recurso para todos os Bruxos e Pagãos que gostam de se manter informados e reflectir sobre assuntos importantes para as nossas práticas. O de 2021 já se encontra disponível para comprar no Book Depository e na Amazon, tal como os outros outros Almanaques para trás. Que me dizem? Vão experimentar? 

* Os links fornecidos pertencem a 'Affiliate Programs' e geram uma taxa de lucro ao Sob o Luar. Não existe qualquer despesa adicional para o comprador. 

Unsplash (Nayanika Mukherjee)

Hoje trago um tópico que sinto que deve ser abordado e que é um tema importante de falar abertamente nas nossas comunidades pagãs.  Vamos então começar a falar deste tema díficil, que já foi abordado parcialmente no artigo dos Os Cuidados nas Comunidades Pagãs.

É expectável que todos os praticantes, mais cedo ou mais tarde, se deparem com (pseudo e auto-proclamados) "Mestres" que prometem resolver todos os nossos problemas, ensinar-nos tudo o que sabem e elevar-nos a grandes alturas de conhecimento e domínio de nós próprios (e até de outros!). Através de falas mansas, um discurso carismático e promessas vazias, estas pessoas são excelentes a manipular outros e a convencer quem quiserem de que não só têm uma enorme fonte de poder (muitas vezes, argumentada como sendo hereditária de uma tradição familiar que, coincidentemente, não tem como ser comprovada dado que o familiar já morreu) e que estão dispostos a ensinar-nos este conhecimento secreto. Muitas vezes, em troca de algo. Seja favores monetários, sexuais ou até de trabalhos a serem realizados, estes predadores aproveitam-se daqueles que querem obter conhecimento para manipular e abusar das pessoas. 

Promessas como conhecimentos secretos, participação em tradições hereditárias antigas (muito embelezadas com histórias de práticas dos seus avós e bisávos em rituais pagãos orgiásticos em pequenas aldeias), utilização de informação obtida online, utilização de termos complicados que, para iniciantes, podem parecer legítimos (como misturas de informações relacionadas com Alta Magia ou Magia Cerimonial), entre muitas outras tácticas são formas como estes pessoas fazem-se parecer conhecedoras da Arte e de confiança. Muitas vezes, estas pessoas trabalham em grupos, recrutando pessoas e convencendo essas mesmas pessoas a recrutar outras. Afinal, quantos Mestres destes é que não se encontram rodeados por um aparente grupo de devotos que os seguem de forma cega e inquestionável? Homens que se dizem Sacerdotes e Anciões  que insistem em iniciar jovens mais novas e inexperientes (senão completamente desconhecedoras de outra prática mágica que não a do "Mestre")? Ou até o oposto, mulheres que se auto-entitulam Altas-Sacerdotisas que estão rodeadas de jovens inexperientes e impressionáveis que não questionam nem a sua autoridade nem os seu comportamento. Aliás, a maioria destas pessoas não estão inseridas nas comunidades pagãs. Este é um dos primeiros sinais. 

Um dos principais pontos importantes em entender quando estamos a escolher ou encontrar um grupo para nos inserirmos em termos de trabalhos mágicos é entender qual a relação deste com o exterior e as comunidades em redor. Mesmo em Portugal, em que as comunidades pagãs são escassas e distantes umas das outras, há sempre alguma ligação e todos conhecemos ou ouvimos falar uns dos outros. Por isso, é sempre importante falar com pessoas de fora e entender: Há alguma suspeita das actividades desta pessoa? A sua linhagem é confirmada ou é apenas indicada pelo próprio? As suas práticas são éticas? Nós enquanto comunidades temos o dever de nos proteger mutuamente e falar mais alto dos que os abusos. Numa época em que o #MeToo reina no Mundo também nós, nas comunidades pagãs, temos de falar bem alto e proteger os nossos membros destes predadores. 

Outro dos principais pontos e argumentos utilizados por estes elementos é o "secretismo". Ou seja, a tradição de que veêm é uma tradição secreta (muitas vezes hereditária) e não deve ser contado a ninguém! Nem a própria presença no grupo pode ser contada por causas dos "riscos para o grupo". A questão importante aqui é... Estamos em 2020. Não estamos em 1540 ou 1780 ou qualquer ano durante a Inquisição. Estamos em pleno século XXI e, honestamente, ninguém quer saber da religião de outras pessoas ou que as mesmas fazem na sua vida privada. Se o secretismo é importante em algumas tradições pagãs, devido aos seus mistérios? È. Se o mesmo deve ser utilizado como ferramenta de manter as pessoas isoladas das comunidades em seu redor e dos seus sistemas de apoio? NÃO! Eu irei abordar, num artigo futuro, a importância e o papel do secretismo nas comunidades pagãs e posterimente irei linkar o mesmo neste post, contudo, é preciso referir que o secretismo necessários nos caminhos pagãos não é o mesmo de à 400 anos atrás. Este secretismo deve ser o secretismo das práticas, ou seja, de quais os métodos de trabalho utilizados e quais os conhecimentos obtidos. Não o facto de alguém participar ou não de um grupo. Não podemos deixar que as vítimas de abuso sejam silenciadas com o argumento do "secretismo" dentro do Paganismo ou da Bruxaria. 

Outro indicador deste perfil predatório é a conspiração do mundo e de outros grupos ou pessoas que os perseguem e que lhes querem fazer mal, muitas vezes uma perseguição mágica que só eles sentem e que usam como motivo para proteger os devotos e o secretismo dos seus caminhos místicos. Usar um poder externo como ameaça constante ao grupo para manter o grupo controlado e para justificar o secretismo e os rituais de "protecção" ou "vingança" que precisam ser feitos (muitas vezes com diversos sacríficios por parte dos praticantes envolvidos). É a famosa táctica do "nós contra eles", utilizada dentro de um grupo pagão com o objectivo de manter o controlo dos envolvidos. Este discurso é também aproveitado para criar a sensação de "família" e fazer com que o "Mestre" tenha controlo e presença em todos os pontos da vida do praticante, inclusive as coisas fora do prisma religioso e mágico, ajudando a isolar ou impedir a ligação com as pessoas da vida do praticante que estão fora da comunidade (família, amigos, etc.). 

Isto vê-se também nas ameaças feitas se tentarem sair. Ao tentar abandonar estas pessoas há o confronto de que os praticantes estão a abandonar o Mestre ou Sacerdote e que há consequências. É muitas vezes utilizado o argumento de que o compromisso feito (através dos rituais de iniciaçãomuitas vezes apressados na entrada do grupo ou na relação com o Mestre) foi feito para a vida e é inquebrável, sendo que se for feita alguma tentativa de quebrar o mesmo, as consequências caem sobre o praticante com ameaças sobre as famílias e aquilo que os praticantes têm como de mais importante na sua vida. Este controlo e constante método de castigos e ameaças é uma das principais formas de manter o praticante dentro este círculo fechado. 

Os principais alvos destas pessoas são os iniciantes no Paganismo, dado que os mesmos têm poucos conhecimentos, a maioria tem poucos recursos (ou não sabe como utilizar os recursos que tem) e poucos contactos dentro das comunidades aos quais possam perguntar se o que está a acontecer é certo ou não. Moldar o pensamento de um iniciante é extremamente fácil, tal como levá-lo a acreditar que X e Y são as "verdadeiras" formas de praticar. Como falei no artigo de Prática Solitária e Prática em Grupo não há forma certa de praticar Paganismo e Bruxaria. Todas as formas de prática são válidas à sua maneira. 

Contudo, até os praticantes já com algumas experiência podem estar sujeitos a cair nestes cenários, daí eu querer falar abertamente sobre este tema. Precisamos de abertura nas nossas comunidades para evitar que estes comportamentos e estes predadores possam estar a magoar as pessoas que chegam ou estão no Paganismo e na Bruxaria. 

Pode parecer um comportamento muito parecido aos famosos "cultos" que ouvimos nos filmes e nos media mas é real e acontece mesmo debaixo do nosso nariz, sem sequer repararmos. E temos de chamar as coisas pelos nomes. Estas pessoas não são praticantes de Bruxaria e Paganismo. Não são caminhos dentro do Paganismo ou caminhos dentro da Bruxaria. São cultos abusivos e manipuladores e estas pessoas são predadores! E não podemos permitir a sua presença e os seus abusos nas nossas comunidades.  

A todos os iniciantes ou praticantes que possam estar nestas situações ou a entrar nas mesmas, as minhas palavras de apoio e conselho são as seguintes: 
  • Questionem tudo. Não tenham medo de fazer perguntas idiotas (aliás, se alguém vos fizer sentir mal por alguma pergunta que façam, é um sinal de que essa pessoa não é a certa para vos ajudar). Perguntem, questionem, duvidem, verifiquem online ou com outras pessoas, etc. Não tenham medo de verificar os conhecimentos e as informações que vos dão. Seja um autor famoso ou o vosso vizinho do lado, confirmem as informações que vos são dadas. Temos a internet ao nosso dispor e um enorme leque de recursos que nos podem ajudar. Adicionalmente lembrem-se que não existem verdades absolutas. 
  • Se não se sentirem confortáveis com algo não o façam. Conheceram alguém que vos diz que pode ensinar sobre Paganismo mas que vocês têm de ser iniciados sem roupas, mas vocês não se sentem confortáveis? Não o façam. Ninguém mas NINGUÉM vos pode obrigar a fazer algo que não querem, seja beber vinho, rituais em nú ou fazer uma dança. Seja o que for, se não se sentem confortáveis, não o façam. E se as pessoas disserem que, sendo assim, não podem fazer parte daquela tradição, óptimo. Vão se embora porque de certeza que aquele seria apenas o primeiro de muitos sacríficios que seriam obrigados a fazer. Há imensas tradições, caminhos e pessoas por esse mundo fora. Não tenham pressa para encontrar o sítio certo.
  • Se tiverem medo ou dúvidas, recorram a ajuda. Enviem e-mail para alguém que vocês conhecem ou até que seguem online. A maioria dos sites e organizações como a PF, FOI, etc disponibilizam contactos para ajudar e orientar quem precisa. No meu caso, disponibilizo o e-mail do ICT para ajuda e orientação e esclarecimentos de dúvidas (100% confidenciais). Posso também recomendar a Sacerdotisa do Templo Sumério de Inanna E-An.Ki que gere o Ecos - Comunidade Pagã e que pode ser contactada por e-mail (100% confidencial). Não tenham medo de questionar e perguntar se algo é normal. Mesmos que vos digam "isto não pode ser contado fora daqui", se sentirem medo ou dúvida, perguntem. Estamos aqui para ajudar, nunca para julgar. 
Este é um tema que é muito sensível para mim e planeio abordá-lo mais vezes. É preciso termos abertura e falarmos destas coisas nas comunidades, pois apenas expondo estas pessoas e as suas técnicas predadoras, podemos manter as nossas comunidades seguras. 

Vamos trabalhar para um Paganismo mais seguro! 

Notas: Obrigada às minhas irmãs da Arte a Alva Möre e à Joana Martins pela revisão e ajuda neste artigo que me é tão sensível. 
Unsplash (Wesual Click)

Hoje voltamos a falar sobre a Bruxaria de Cozinha e os Sabbats e vamos falar de Lughnasadh! 

Se quiserem saber mais sobre este festival temos um artigo aqui no nosso site sobre o mesmo!

Festival: Lughnasadh
Datas: 1 de Agosto (HN) ou 1 de Fevereiro (HS)

Lughnasadh é a polaridade de Imbolc pois enquanto em Imbolc lança-se as sementes, em Lughnasadh colhe-se os frutos. É um dos primeiros festivais das Colheitas e marca o fim do Verão e a chegada iminente do Outono. É um período marcado por altas temperaturas e o começo das colheitas nas quintas e plantações. Na Wicca é neste dia que o Deus Sol se transforma no Deus das Sombras e se sacrifica pela Terra. A Deusa possui o papel de Mãe mas prepara-se brevemente para o seu cargo como Anciã. Lughnasadh é um festival de origem celta, em honra do Deus Solar Lugh. Daí vem o seu nome “Lughnassadh” que é traduzido para “celebração a Lugh”.

Um dos principais símbolos deste primeiro festival das Colheitas é o pão. Com o início da colheitas dos cereais (trigo, milho, aveia, etc) nesta altura do ano, o fabrico do pão e do trabalho com estes cereais toma um lugar de destaque. Como tal, fazer o seu próprio pão e partilhar o mesmo com a família ou o seu grupo é uma excelente actividade para este festival. Não só é uma actividade relaxante e divertida de fazer em família (até com os pequenos!) mas também uma fantástica oportunidade de conexão com uma prática ancestral: a de fazer o pão, de fazer o nosso alimento. O pão é um dos marcos à mesa de várias civilizações e gerações. O fabrico do pão é uma arte ancestral que pode, e deve, ser honrada neste festival.

Pode aproveitar e usar este festival como uma forma de conhecer melhor o pão. Experimente fazer vários tipos de pão (pão de milho, pão de centeio, pão de mistura, etc) e ver quais as diferenças entre cada pão, como os mesmos são preparados, quais as energias com que pode trabalhar, etc. Adicionalmente, se quiser fazer um esforço adicional, pode investigar de onde vem o pão que compra no dia-a-dia e quais os seus ingredientes e tomar decisões conscientes para apoiar pequenos negócios e fabricantes e comprar pão que seja saudável e bom para o seu corpo e saúde. 

É também durante esta altura que pode, caso tenha jardim ou plantas em casa, começar a colher algumas ervas que utiliza na cozinha e começar a secá-las para usá-las em pratos e refeições durante o Outono e Inverno. Muitas plantas murcham durante o Inverno o que não nos permite utilizar as mesmas frescas nas nossas refeições (a menos que recorramos a plantas de interior ou de estufas). Como tal, esta é uma excelente altura para começar e colher e secar as plantas para usar nos nossos pratos culinários durante as estações que estão para vir. 

Outro dos alimentos que marca bastante este festival são as bagas como as amoras, framboesas e mirtilos. Pode aproveitar para comer as mesmas frescas ou fazer compotas e doces que vão durar as próximas estações para ter em casa ou, até, fazer compotas energizadas com amor e harmonia para ajudar em feitiços futuros ou a manter a tranquilidade no lar nos próximos meses. Não há nada melhor para acompanhar uma boa fatia de pão caseiro do que doce acabado de fazer das nossas bagas! E é também uma excelente actividade para fazer com crianças! 

Esta é uma celebração rica em diversas actividades e a primeira de três celebrações relacionadas com as Colheitas, por isso, não tenha medo de inovar e experimentar coisas novas. 

E vocês? Que tipo de alimentos gostam de cozinhar nesta altura do ano? 

Referências: 
"Wicca in the Kitchen" de Scott Cunningham 
"Kitchen Witchcraft (Pagan Portals)" de Rachel Patterson
XVI - A Torre

Nome do Arcano: A Torre
Número: XVI
Descrição: No baralho de Rider-Waite a carta da Torre é caracterizada por uma torre alta no topo de uma montanha rochosa. No topo da torre, atinge-lhe um raio que incendia o edíficio e faz duas pessoas saltarem dda torre com os braços esticados. Em volta da torre existem 22 chamas, representando os doze signos do zodíaco e os dez pontos da árvore da vida. *
Símbologia: No Arcano da Torre temos uma torre alta no topo de uma montanha rochosa. A torre aqui representa uma estrutura sólida que, infelizmente, foi construída num terreno instável e, como tal, apenas um raio faz a torre cair. Este raio representa uma energia súbita de revelação e que cria uma mudança drástica, aqui representada pela torre que cai. Esta é uma cena de caos, com as pessoas a saltarem da torre sem saberem o que as espera. Em redor existem 22 chamas, representando os doze signos do zodíaco e os dez pontos da árvore da vida, mostrando que até nos desastes da vida, as divindades estão perto de nós. 

Significado:
  • Posição Normal
Na sua posição original a carta da Torre representa uma mudança drástica e inesperada. Pode ser um divórcio, morte de alguém próximos, problemas de saúde, problemas financeiros ou qualquer outro evento que vá abanar a nossa vida e estado actual. É um evento de grande impacto que vai gerar uma onda de mudanças na nossa vida. Não há forma de escapar a esta mudança, é preciso aceitar a mesma e aprender a lidar com ela, de forma a que mesma possa gerar resultados positivos, a longo prazo. Também a nível das nossas crenças e opiniões podem sofrer um abanão com esta carta, que nos irá tirar do sítio e obrigar a construir de novo uma nova estrutura. A Torre não está apenas relacionada com eventos no plano físico mas também no nosso plano interno e espiritual, podendo representar uma nova revelação ou conhecimentos que nos obrigarão a rever a nossa forma de ser e enfrentar o mundo. No momento pode parecer uma tragédia, contudo, a longo prazo, iremos ver os impactos que este evento realmente teve na nossa vida. Após a Torre haverá crescimento mais forte, mais determinado e mais sábio, com as aprendizagens desta carta na nossa vida.

  • Posição Invertida (esta posição é opcional)
Na sua posição invertida a carta da Torre traz consigo também mudanças drásticas contudo, enquanto na sua posição normal estas mudanças surgem por influências externas, na posição invertida as mesmas surgem por circunstâncias internas, ou seja, causadas por nós. Podemos estar numa fase de descobrimento interno que nos está a levar a uma reconstrução da nossa vida e da forma de enfrentar as coisas. Estamos a ver que os modelos antigos pelos quais guiávamos o nosso caminho já não nos servem e é preciso refazer os nossos métodos para crescer. Esta mudança poderá ser díficil, contudo, é impossível evitá-la. A destruição que a carta da Torre traz é, quase sempre, inevitável. É preciso abraçar a mudança e entender como a mesma tem impacto na nossa vida e aprender e crescer com este impacto. Não podemos resistir à Torre, mas sim aprender com ela. 

* A representação dos Arcanos varia de Baralho para Baralho, a descrição apresentada é com base no Baralho Rider Waite. 
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Sob o Luar by Alexia Moon/Mónica Ferreira is licensed under CC BY-NC-ND 4.0