Tal como em todos os aspectos da nossa vida, a nossa jornada espiritual ou religiosa ou até mágica, nunca será linear. O nosso caminho não é um trilho de A a B mas sim de A a Z com paragem em quase todas as letras do alfabeto e, às vezes, até letras que não existem (ou até voltarmos atrás ao início do alfabeto e começarmos tudo de novo!). Isto faz com que, a certas alturas, haja momentos de dúvidas. Podem ser dúvidas como "Será que quero celebrar este festival?" ou dúvidas como "Será que acredito mesmo nisto?". E, tal como é normal ter dúvidas, é normal sentir culpa de ter dúvidas, contudo, esta culpa é desnecessária e temos de a ultrapassar, para que possamos enfrentar as nossas dúvidas e sair do "buraco" para onde tropeçamos.
Ao longo de todo o meu caminho já passei por vários momentos de dúvidas e hoje venho trazer-vos alguns conselhos de como eu consegui ultrapassar alguns destes momentos, na esperança de vos ajudar a ultrapassar os vossos. Claro que nem todos os momentos de dúvida são iguais e o que serviu para mim, pode não servir para vocês (até pode nem servir para mim no futuro!) mas quantas mais possibilidades e reflexões fizermos, mais fácil é enfrentar o elefante na sala, por isso, vamos lá?
Para mim, o primeiro passo é entender qual é a dúvida ou qual o problema que estou a enfrentar no momento. Apesar de fácil, este pode ser dos passos mais complicados pois requer que sejamos sinceros connosco próprios e aceitemos que algo está errado ou que algo não está a funcionar bem. E, para quem está no mesmo caminho há muito tempo, pode ser complicado aceitar que algo já não funciona ou que deixou de fazer sentido. A mudança é assustadora, principalmente quando é algo que nos é tão pessoal como a espiritualidade/religiosidade. Contudo, não podemos enfrentar a tempestade sem saber como ela se chama e de que é feita, por isso, recomendo escolher um momento tranquilo, sentar e refletir sobre qual é o obstáculo. Aconselharia até a escrever num caderno ou numa folha, pois a realidade de olhar para algo escrito, preto no branco, torna tudo muito mais real e menos assustador.
Depois de sabermos com o que estamos a lidar, temos de começar a lidar com o assunto. Para facilitar o artigo, vamos escolher um dilema e desenvolver como o mesmo pode ser ultrapassado. Imaginemos que o nosso dilema é "Sinto que a Wicca já não é o caminho para mim, e que não me sinto feliz". Como é que podemos começar a resolver esta situação? Para começar, eu diria para escreverem, por baixo desta frase, o que sentem que já não funciona. Será os festivais? É o facto de ser um caminho mais duoteísta (Deus e Deusa)? É o próprio nome em si? Ás vezes achamos que o caminho todo já não nos serve e, afinal de contas, era só um pequeno aspecto como "sinto que não consigo celebrar todos os Sabbats e sinto-me insatisfeite" ou "sinto que sou mais politeísta e menos duoteísta". Ao encontrarmos os pontos que nos deixam desconfortáveis, encontramos a forma de os desconstruir e arranjar uma solução.
Assim que sabemos exatamente o que nos incomoda, é a altura de descobrir como lidar com isso. Aqui, é complicado sugerir soluções, porque vai depender não só de qual o problema em específico mas, também, daquilo que queremos fazer. No caso acima, a pessoa pode não querer deixar a Wicca mas apenas alterar coisas na sua prática pessoal. E, algo que sinto que devo insistir, isso é perfeitamente normal e dois Wiccanos não são iguais e podem, perfeitamente, adaptar a sua prática para encaixar no que sentem que é certo. Recomendo, contudo, se fazem parte de um coven organizado, que falem com os Altos Sacerdotes/isas e vejam alternativas, de forma a não se afastarem das práticas do coven, mas, se forem solitários, o céu é o limite e podem adaptar a vossa prática para se encaixar mais dentro da vossa vontade. Ao mesmo tempo, podem sentir que querem seguir um caminho diferente, e mudar para, por exemplo, "Pagão Eclético" e adaptar a vossa prática, mudando algumas celebrações ou coisas que fazem. Essa mudança é válida!
Somos todos humanos e, por consequência, estamos todos sujeitos a mudanças e alterações na nossa vida. Ninguém fica a mesma pessoa da adolescência até à velhice, por isso, não sintam medo em mudar as vossas nomenclaturas ou os vossos caminhos, se sentirem que é o passo na direção certas. No final de contas, a espiritualidade e a religiosidade são coisas para ser vividas e experienciadas por nós, fazem parte da nossa vida pessoal, e não devemos satisfações a ninguém. Devemos fazer aquilo que sentimos que é certo e que é o apropriado para a nossa realização pessoal. Não tenham medo de mudar, o que importa, é que estejam felizes e se sintam ligados à vossa espiritualidade, seja ela qual for.
E vocês? Já passaram por momentos destes? Quais as vossas dicas para quem está a passar por um momento destes?